
Foto: Marcos Miras_AFP
Por: José Alcimar de Oliveira*
Neste 13 de maio de 2025, sete dias antes de completar 90 anos, José Alberto "Pepe" Mujica Cordano, ou simplesmente Pepe Mujica, fez a viagem definitiva da imanência histórica para a transcendência transtemporal. Sua figura campesina, de político agricultor, de gente simples, me faz lembrar de Amós, o único profeta agricultor da tradição bíblica.
Pastor em Técua e avesso à confraria dos profetas, Amós se definia antes como um cultivador de sicômoros e declarava a quem quisesse ouvir que não era profeta, nem filho de profeta. Mas desafiado a assumir a militância profética, não recuou do desafio. A "burguesia" da época o detestava. É célebre (e hoje algo politicamente incorreto) o tratamento irônico dado por Amós às mulheres de Basã. Mujica se fez universal a partir de seu abrigo campesino.
Enquanto viveu afirmou o que é essencial ao bom viver. Por isso, proclamava: "Meu luxo é ter tempo para fazer as coisas que importam na vida". Existências separadas por mais de dois mil e setecentos anos, Amós e Mujica se encontraram hoje na Casa Memorial reservada às figuras humanas que jamais morrerão, porque enquanto viveram se fizeram maiores do que os limites de uma vida terrena.
Grande será a festa no céu socialista, com vinho uruguaio oferecido por Mujica, na presença de gente da estatura sábia e militante de Amós, Jesus de Nazaré, Marx, Engels, Che, Rosa Vermelha, Oscar Romero, Francisco de Assis e da Argentina, com Maria Madalena, Dercy Goncalves e Elza do Canto Negro.
Pepe Mujica, Presente!
*Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, teólogo heterodoxo e sem cátedra, segundo vice-presidente da ADUA - Seção Sindical e filho do cruzamento dos rios Solimões (AM) e Jaguaribe (CE). Em Manaus, AM, aos 13 de maio de 2025.

Foto: Antony Jones_Getty Imagens
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