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  02/04/2024 - por Daisy Melo



Arte e Resistência: “Autobiografia Precoce” de Patrícia Galvão



 

Quem foi Patrícia Galvão? Quem foi verdadeiramente Pagu? A mulher de Oswald de Andrade? A musa dos modernistas? O que pensava, sentia e o que tinha a dizer?

 

Podemos abandonar o “mito” e ouvir a voz agudamente sincera e sem intermediários de Patrícia Galvão em Autobiografia Precoce (2020), obra que tem como ponto de partida uma carta escrita por ela, em 1940, para seu segundo companheiro Geraldo Ferraz.

 

É ela quem conta sobre sua precoce iniciação sexual aos 11 anos de idade; o aborto aos 14 anos; sua relação sem amor com o expoente modernista, Oswald de Andrade, descrito no livro como um costumaz mulherengo em busca de autoafirmação; e seu desencanto com o sexo, ponto minado pela medíocre oferta masculina a quem buscava muito mais: amor.

 

“Houve momentos em que maldisse minha situação de fêmea para os farejadores”. “Eu sempre me habituei a ser vista como um sexo. E me habituei a ser vista assim”.

 

Na carta transformada em livro póstumo, Pagu narra também a iniciação na vida de militante no Partido Comunista durante a Ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945); o encontro determinante com o revolucionário Luís Carlos Prestes; o sofrimento por deixar o filho para cumprir as obrigações partidárias; a atuação clandestina e algumas entre as tantas prisões políticas sofridas, isso sem deixar de tecer críticas e expor o movimento como, por exemplo, a proposta de uso do sexo como artifício para atender a causa, energicamente combatida pela escritora.

 

“Façam de mim o que quiserem. Mandem-me matar que eu matarei seja quem for, mas abertamente, me responsabilizando por tudo. Mandem-me matar Getúlio ou o diabo. Mandem-me botar fogo na polícia ou enfrentar o Exército inteiro. Dar tiros na avenida ou ser morta num comício. Mas não tomar parte em palhaçadas ridículas, com o sexo aberto a todo mundo”.

 

Pagu expõe em seus escritos o que é ser uma mulher livre em uma sociedade estruturalmente machista e o preço a ser pago por isso. “Pensam que uma aventura a mais ou a menos para mim não tem importância nenhuma. Uma mulher de pernas abertas: é o que vocês pensam”. Intencionalmente ou não, com isso mostra também seu lado genuinamente feminista e incapaz de silenciar-se frente às opressões. 

 

Patrícia Galvão (1910-1962) é autora do romance proletário Parque Industrial (1933). Foi também jornalista, cronista, cartunista, tradutora, dramaturga e poeta. Com bases em seus escritos no cárcere foi publicado o “Até onde chega a sonda” (2023), com organização de Silvana Jeha, e sobre ela “Palavra em Rebeldia: uma antologia do jornalismo de Patrícia Galvão” (2023), de Kenneth David Jackson.







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