O novo selo da Universidade Federal do Amazonas – “conhecimento para a vida, conservação para o futuro” – formula compromissos fortes e nos coloca diante da exigência de ver, sentir e agir a UFAM. A marca lançada na comemoração dos 115 anos de vida da instituição, em janeiro deste ano, contrasta com uma universidade cada vez mais ancorada na lógica produtivista global e suas ramificações nacional/regional/local.
Na UFAM, vive-se um tempo de naturalização do desrespeito à história de vida da comunidade acadêmica. Professores/as, pesquisadores/as, cuja atuação na expansão da universidade, formação de centenas de estudantes, produção do conhecimento, manutenção do intercâmbio intelectual nacional e internacional, é inegável, hoje são tratados como obstáculos a serem varridos. Alguns até já foram.
Nas salas da tomada de decisão, o pensar produtivista ganha corpo e determina as regras do jogo de um nocivo modelo de participação. Encurralada, a universidade pública expressa o ataque voraz do capital e torna-se cada vez mais uma banca de mercadoria gigantesca. O produtivismo reivindica o tempo da pressa na produção, o não debate e tem ojeriza ao diálogo, por isso se justifica no aplauso à decisão sem a reflexão mais coletiva. Os encaixados compõem o time que estabelece a política de atuação por áreas e departamentos. A unidade da universidade, sem ignorar a importância do pensar diverso, está estraçalhada e, nós, convocados a ser robôs de certa inteligência.
Que universidade estamos pensando na Amazônia? Ou qual espaço na configuração atual para pensar a missão da universidade na Amazônia, na Pan-Amazônia? Para o professor Henrique Tahan Novaes, a multiplicação de Universidades Populares na América Latina é algo imprescindível neste momento histórico de profunda regressão social.
Em “Da Universidade Necessária à Universidade para além do capital” (Cultura Acadêmica, 2022), Novaes alerta que “o direito a ser cientista vem sendo questionado. O direito à educação pública vem sendo questionado. Ao que tudo indica, o irracionalismo é a base que fundamenta a nova expansão do capitalismo financeirizado. Ele é imprescindível para amalgamar a sociedade da barbárie. Para nós, a produção de ignorância é fundamental para fazer avançar a agenda do capital monopolista”.
E prossegue: “se isso é verdade, uma nova inquisição e uma nova faxina teórica ganharão impulso. As fogueiras para queimar todos aqueles que dizem a verdade serão acionadas. A Universidade Pública será colocada na fogueira” (como está a UFAM). “Aliás, essa fogueira já existe. Uma rápida pesquisa na internet permitirá ao leitor verificar que inúmeros professores da Educação Básica e do Ensino Superior foram expulsos ou perseguidos nos últimos anos. Reitores eleitos não foram indicados.
E para a construção de uma sociedade para além do capital, a universidade pública deverá mudar radicalmente o seu papel, no ensino, na pesquisa e na extensão. Que o selo dos 115 anos da UFAM – conhecimento para a vida, conservação para o futuro – grude na comunidade acadêmica e ecoe nas tomadas de decisões, senão a vida permanecerá ameaçada e a conservação apenas uma palavra sem efeito.
*Ivânia Vieira é docente da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) da UFAM.
** Artigo publicado originalmente no site A Crítica , em 21.02.2024.
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