Luta contra as opressões e as questões ambientais na América Latina foram temas de debate em grupo de trabalho (Foto: ANDES-SN)
O ANDES – Sindicato Nacional, órgão de classe representativo da categoria docente, como poucas entidades de defesa da classe trabalhadora docente, tem como marca histórica, desde sua fundação em 1981, combinar a luta corporativa da categoria com a luta classista da classe trabalhadora. Longe de o enfraquecer, é no interior desse desafio histórico, dialético e organizacional que o ANDES – SN se afirma e adquire força como sujeito político de luta nesses tempos de retrocesso social e de permanente perda de direitos da classe que vive do trabalho.
Num momento histórico de criminalização das organizações sindicais, o sindicato docente e classista não está a parte das contradições, entre as quais a dificuldade da categoria docente de se reconhecer como classe trabalhadora, notadamente quando a educação como direito é convertida em serviço altamente lucrativo pelo sistema do capital, que submete mentes e braços docentes à ideologia do empreendedorismo acadêmico e do privatismo gerencial.
Cabe, portanto, ao Sindicato Nacional afirmar-se por sua luta e formulação política, como a necessária Universidade Nacional da Militância Classista, tanto nas lutas específicas da categoria docente quanto no campo geral da luta da classe trabalhadora. A luta pela educação pública, de qualidade, gratuita, laica, socialmente referenciada é a luta de toda a classe trabalhadora pela construção do socialismo e contra a barbárie em curso nessa quadra de capitalismo de catástrofe e de colapso ambiental.
Lutar e formular é da natureza política do ANDES – Sindicato Nacional. Foi como decorrência dessa natureza política, educativa e militante que o nosso Sindicato Nacional promoveu nos dias 01 e 02 de dezembro de 2023, no auditório da sede em Brasília (DF), o Curso Nacional de Formação Política e Sindical sob o tema Educação Superior e Organização dos(as) Trabalhadores(as) na América Latina, com a presença de companheiras e companheiros militantes do México, da Venezuela, do Paraguai, do Uruguai e da Argentina.
O processo de formação política da categoria docente deve considerar que nenhuma estrutura universitária se transforma a partir de dentro, por um processo endógeno. Por sua origem burguesa, por seu espírito de classe média, medianamente acomodada ao aburguesamento da vida, onde prevalece “o apetite burguês do êxito pessoal” (Paulo Freire), as universidades devem ser sacudidas por um duplo movimento dialético: por pressão social de fora para dentro para abrir-se às demandas e necessidades da classe trabalhadora e, de dentro para fora, pela organização e formação política de seus sujeitos internos, servidores(as) docentes e técnico-administrativos (as).
O campo da esquerda classista (partidária, independente) precisa reconhecer que o senso comum, sobretudo nesses tempos de fascismo digital e neoconservadorismo religioso, continua intocado pelo pensamento crítico. É urgente criar espaços de formação política, indicar horizontes orgânicos de luta e de consciência de classe, o que jamais será possível sem que recuperemos o método da luta de classes, sem que incorporemos a prática à teoria do conhecimento, sem que mobilizemos as estruturas dialéticas do pensamento.
O processo de formação política da classe em geral e da categoria docente em específico implica enfrentar o desafio da consciência lumpem, organicamente desatado pela extrema direita. Esta forma degradada de consciência, que Marx denominava como refugo de todas as classes, está em ascensão no mundo e opera pelas estruturas mais impulsivas e ressentidas da sociedade. O atual capitalismo de catástrofe, neoextrativista, predatório, necessita de títeres da extrema direita capazes de conferir forma política ao lumpesinato, mormente nessa fase escatológica de destruição ambiental e social.
A esquerda não pode perder o passo, limitar-se a reagir, refugiar-se no isolamento e baluartismo ideológico, imobilizada em suas contradições internas e quase invencíveis. O empreendedorismo, o individualismo, a meritocracia, produzem a ideologia de uma consciência de classe reversa. Hoje quem mobiliza o povo é a extrema direita, que sabe como ocupar espaço e tempo das redes digitais com a mais intensa, abrangente e eficaz politização social da ignorância.
A extrema direita se nutre do acronismo e do distopismo, da negação do tempo histórico da formação e da negação do espaço geográfico da luta. O que fazer? A classe trabalhadora, blindada pela ideologia da extrema direita e aprisionada pela globalizada bolha digital, segue a cada dia mais intocada pelo método da luta de classes. A esquerda, que sempre esteve associada à luta antimetafísica, parece ter reativado a metafísica por meio de uma crítica destituída de aderência às contradições reais da sociedade de classes, numa formulação discursiva cujo impacto é apenas metafísico, performativo, sem incidência física e formativa na classe imersa na mais violenta e degradada desigualdade social. O que nos cabe nestes tempos regressivos e reativos é, desde as bases e com as bases, intensificar a educação política e a formação sindical como condição de combinar a luta corporativa e a luta classista.
*Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, teólogo sem cátedra, base sindical da ADUA – Seção Sindical e filho do cruzamento dos rios Solimões (em Manacapuru – AM) e Jaguaribe (em Jaguaruana – CE).
** Artigo publicado originalmente no Boletim nº 43 da ADUA
Fotos: ANDES-SN
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