A grande imprensa com sede no Brasil busca um ponto de equilíbrio retórico entre a condenação do "bolsonarismo político" e o elogio do "bolsonarismo econômico".
É desse ponto que desenhará o alvo na testa do governo Lula.
As baterias já estão a postos.
É crime de responsabilidade falar em industrialização, em planejamento estatal e em responsabilidade social.
Enquanto o novo governo não é empossado, a missão é minar teses e nomes, numa tentativa sistemática de pautar o Estado.
Os mesmos que dizem defender a democracia, quando o que está em causa é sua liberdade de se expressar, não tem nenhum pudor em buscar desqualificar tudo que não se encaixa em seus interesses mais imediatos. Afinal, democracia é o regime em que eles mandam.
Isso não é novidade. A crítica à grande imprensa foi uma bandeira das esquerdas. Ocorre que a extrema direita se apropriou dessa crítica, invertendo-a.
Se para a esquerda se tratava de minimizar o poder de grandes empresas de comunicação sobre a formação da opinião pública, a questão para a direita é acabar com algumas dessas empresas e dar vez a outras cujas teses estejam alinhadas a suas pretensões.
Defensivamente, as grandes e tradicionais empresas de comunicação nascidas em solo nacional, passaram da adesão aberta à crítica contida do "bolsonarismo político".
Mas todas elas mantiveram a fé inabalável no "bolsonarismo econômico", que é uma forma agravada de neoliberalismo.
A frente que elegeu Lula/Alckmin contém de socialistas a neoliberais. O objetivo que os unia era apenas um: derrotar o "bolsonarismo político". Isso foi feito.
E agora?
*Marcelo Seráfico é professor da graduação e pós-graduação do Departamento de Ciências Sociais da Ufam.
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