05/10/2022 - por Ademar Lourenço

Mais que voto útil, é voto de sobrevivência

Durante uma atividade de campanha entre trabalhadores dos Correios, um carteiro pegou o panfleto com o rosto de Lula e fez uma pergunta: “Quem garante que ele não vai privatizar a empresa?”. A resposta do militante da categoria que estava entregando o material foi muito honesta: “Com o Lula, não há garantia da gente ter os Correios como empresa pública. Mas com Bolsonaro, é garantido que vai ter privatização”.

Essa conversa franca entre colegas de trabalho diz muito sobre esta eleição. Sabemos que com Lula eleito vamos ter que nos organizar e lutar contra algumas medidas do governo. Mas uma coisa é organizar uma greve tendo o mínimo de liberdade. Outra coisa é organizar uma greve com o coturno do fascismo no nosso pescoço.

Com Lula, continuaremos nos próximos quatro anos com esta democracia que temos. Uma democracia parcial construída pela classe dominante. Mas, ainda sim, é uma democracia com algumas garantias mínimas. Com Bolsonaro, viveremos sob um regime fascista. Não é a mesma coisa. E essa diferença já é o suficiente para a gente se engajar pra que Lula ganhe ainda no primeiro turno.

Não podemos gourmetizar o voto a essa hora. Mais importante do que nossas vontades são nossas obrigações. E é nossa obrigação vencer o fascismo com todos os meios que pudermos. Não existe nada mais importante que isso até dia 02 de outubro de 2022. É mais que voto útil, é voto de sobrevivência.

É importante a discussão sobre uma alternativa progressista para 2026. Uma candidatura que defenda a taxação das grandes fortunas, o controle dos lucros dos banqueiros, uma verdadeira distribuição de renda e outros pontos que estão no programa do PSOL e, em alguns casos, são defendidos por Ciro Gomes. Mas, com Bolsonaro na presidência, talvez não sejam realizadas eleições em democráticas em 2026.

Lula perdeu três eleições seguidas antes de ganhar a primeira. Sempre respeitou os resultados. Nunca ameaçou dar um golpe. A oposição teve liberdade para agir durante os 13 anos em que o PT esteve no governo. Lula não é a mesma coisa que Bolsonaro. Não se trata de amar Lula. Se trata de defender a democracia.

Se Bolsonaro for reeleito, não vai haver limites para o autoritarismo. Ele vai poder nomear quatro ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF), o que fará que a extrema direita tenha maioria na corte mais importante do país. Dá para imaginar o genocida com maioria no STF? E isso é só o começo.

A poucos dias das eleições, a realidade se impõe. Quem não vota em Lula ajuda Bolsonaro a ir para o segundo turno. E no segundo turno Bolsonaro terá 20 dias a mais para que ele prepare um golpe. Vergonha não é pedir voto útil. Vergonha é ficar em cima do muro em um momento tão decisivo.

Três anos de coluna “Direita Volver”

Durante três anos, essa coluna se dedicou a mostrar que a nova direita não é apenas um movimento político. É um “mundo” a parte, onde vive todo tipo de gente bizarra e perigosa. A coluna “direita volver” falou sobre o ódio assassino, o moralismo hipócrita, o negacionismo na pandemia, a masculinidade tóxica, o racismo, o falso nacionalismo, entre outras características daqueles que emergiram depois do impeachment de Dilma em 2016. Falou de liberais à olavistas. Do submundo da internet ao interior do Brasil. Daqueles que seriam bolsonaristas no século XIX até aquilo que o bolsonarismo pode fazer do Brasil em 2030. Falou sobre a omissão perante o fascismo e fez provocações para o debate teórico.

Ainda há muito o que falar. E, infelizmente será necessário falar. A direita não vai morrer. Essa é a primeira e triste conclusão desses três anos de coluna. A segunda é que o bolsonarismo é muito pior do que parece. Os cartazes pedindo a volta da Ditadura são só a primeira camada de um iceberg do que existe de pior no ser humano. Pesquisar o chorume social que compõe o os grupos que defendem este governo é algo que coloca a saúde mental de qualquer um em risco. O bolsonarismo não é apenas reacionário e violento. Ela é a morte em forma de programa político.

Mesmo com Lula, teremos que ser antifascistas em 2023 como fomos antifascistas em 2022, 2021 e nos anos anteriores. Teremos que ser antifascistas sempre. Temos que estudar nosso inimigo e nos preparar para as próximas batalhas. Eles não vão descansar. Nós também não podemos abaixar a guarda.

* Texto da Coluna “Direita Volver” dedicada ao acompanhamento semanal das ações e absurdos dos representantes da extrema direita, por Ademar Lourenço, publicado em www.esquerdaonline.com.br em 22 de setembro de 2022

Foto: Blog da Boitempo