Itinerantes da Militância Comum ou Minorias Abraâmicas, na linguagem de Dom Helder Camara: uma lição que aprendi de Albert Camus, em seu O mito de Sísifo: ensaio sobre o absurdo, de 1942, é a de que o absurdo maior não é o prometeico, extraordinário, mas o que se enraíza no cotidiano, ordinário, prosaico e tão bem normalizado pela ideologia dos dominantes. É "uma doença do espírito". "O absurdo é o pecado sem Deus".
Sísifo, segundo Camus, é o "proletário dos deuses, impotente e revoltado", mas, em linguagem kantiana, preso de uma revolta enredada num tipo de heteronomia da consciência, sem discernimento do objeto. Quando o que se revolta (melhor dito, reage) e sua revolta (ou reação) não tem consciência do objeto de sua indignação, ódio ou insatisfação, este vazio de consciência será manipulado e ocupado pelo poder ideológico das forças do atraso. Pior do que uma consciência resignada é uma consciência tomada pelo ódio e pelo medo.
* Professor do Departamento de Filosofia/UFAM, em Manaus (AM), 09 de julho de 2022, no ano da virada.
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