Impossível negar as trevas que, seja qual for o cenário meteorológico, cobrem o País. O negativismo vigente, o desamor à Vida (do outro), o culto da violência, a agressividade contra a democracia e os direitos humanos, além da defesa da tortura, passaram a guiar os rumos desta nação. A crônica diária, os meios de comunicação concorrendo com redes disseminadoras de mentiras, deixa à mostra certos aspectos subterrâneos de nossa sociedade.
A realidade brasileira escondeu, durante muito tempo, sentimentos e preconceitos, desatados à primeira oportunidade apresentada. Que a corrupção ocupa enorme espaço nas relações sociais, disso já se sabe faz tempo. Tal peculiaridade, porém, de tão registrada e inabilitada a mostrar diferença entre partidos políticos, tem desafiado os que a combatem e os que simulam combate-la. Não é raro, como os fatos nos mostram, ela ganhar novos adeptos. Ou - quem sabe? - praticantes até recentemente desconhecidos.
A violência cultivada, de que o elogio das armas e a propaganda de seu uso dizem quase tudo, coloca em destaque um racismo antes ocultado.
Bastou um sopro para que saísse de baixo do tapete o sentimento responsável pelo assassinato de Martin Luther King e George Floyd, nos Estados Unidos da América do. Norte. No Brasil, onde os pretos teriam sido libertados pela Princesa Isabel, o racismo emergiu como se saído de prolongado estado de hibernação - ou fortalecimento? -, à primeira oportunidade oferecida. Marielle Franco e o senegalês morto na Barra da Tijuca não deixarão esquecer, embora apenas dois na multidão de pretos mortos, às vezes pelos que se dizem representantes das leis. E as autoridades dizem estarem em pleno funcionamento as instituições do Estado Democrático de Direito.
* José Seráfico é professor aposentado da Ufam.
** Texto publicado originalmente em www.nagavea.com.br no dia 06 de maio de 2022.
Foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA PRESS)
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