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  27/04/2022 - por Marcelo Seráfico



O fundamento empírico da distopia histórica (breve comentário sobre um relato)



 

Em texto intitulado "O novo e sofisticado macartismo", Chris Hedges descreve o que está ocorrendo no stablishment norte-americano. Sua descrição é, de fato, uma denúncia gravíssima acerca de processos políticos objetivos que passam desapercebidos para muitos.

 

Ainda hoje, muita gente fala sobre as instituições das repúblicas capitalistas como se elas fossem democráticas.

 

Se a concentração de poder econômico nas mãos de um punhado de corporações (financeiras, industriais, agropecuárias, farmacêuticas, tecnológicas, midiáticas, bélicas e de energia) desde há muito deixa clara a natureza monopolista do capitalismo contemporâneo - e que vem desde a década de 1930 -, a tradução desse poder no desenho das instituições públicas é de evidência solar.

 

A globalização neoliberal, agenciada pela diplomacia total dos EUA a serviço de Wall Street e do Vale do Silício, com profundo enraizamento na Europa Central e nas elites - econômicas, políticas e intelectuais - dos países ditos periféricos, levou a todos os cantos do planeta a mesma lógica perversa. Isto é, a universalização das relações de exploração e de dominação capitalistas, sem nenhum sinal de avanço da igualdade e da liberdade.

 

Das escolas às universidades, dos sindicatos aos partidos, do judiciário ao executivo, da yoga ao MMA, do entretenimento ao trabalho, todas as nossas relações e atividades estão atravessadas pelo vírus do ultra-individualismo neoliberal, que normaliza a desigualdade, estimula a competição despudorada e desfaz toda e qualquer perspectiva coletivista, toda e qualquer iniciativa cujo fim ultrapasse os limites da ordem, isto é, da função que possa desempenhar no processo de acumulação de capital. 

 

A criação foi funcionalizada, tornada mero instrumento da ordem, cuja palavra mágica é "empreendedorismo".

 

Com a sensibilidade embotada por essa nuvem ideológica, poucos são os que veem o avanço do controle social, da autocracia burguesa, da ditadura escancarando-se, arreganhando os dentes.

 

Diferentemente de 1964, quando golpe e ditadura eram assumidos, hoje, golpes são dados e ditaduras implantadas sob a sombra de discursos pseudo-democráticos.

 

Todas as nossas instituições - os poderes da República, os partidos, a maioria dos sindicatos, as universidades, a mídia etc. - são cúmplices dessa brutalidade.

 

São poucos os que denunciam e se opõem abertamente. Jamais teríamos chegado ao ponto em que chegamos se não tivesse sido assim.

 

A regressão política, social e econômica nos está levando de volta ao século XIX. Isso é inimaginável, é quase como apagar toda a brutalidade do que se passou até agora, do colonialismo às grandes guerras, sem esquecer das quase inumeráveis e longas guerras travadas contra quem resista à força dos monopólios e dos Estados que os representam.

 

Essa restauração mostra a natureza destrutiva, impermeável à mudança e voraz do sistema.

 

Diante da possibilidade de fim da vida na Terra, no que pensam as elites globais? Em como os bilionários e seus serviçais viverão fora do planeta!!

 

Se isso não é suficiente pra nos fazer ver a necessidade de revolucionar essa ordem, o que será?!

 

* Marcelo é professor e coordenador do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).







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