Nos últimos dois anos, México, Bolívia e Peru elegeram presidentes cujas plataformas eleitorais eram de oposição ao status quo, ao governo. Mais recentemente, os eleitores da Argentina e do Chile decidiram da mesma forma, pondo fim a mandatos comprometidos com políticas econômicas neoliberais e, em consequência, políticas sociais antipopulares.
Por que isso está acontecendo? Parece inegável que as condições de vida da maioria dos cidadãos nesses países experimentaram, ao longo desses governos, expressiva deterioração. Isto porque eles têm se caracterizado pela destruição de políticas trabalhistas, previdenciárias, empresas públicas, políticas de assistência social e de planejamento econômico, deixando a maior parte dos cidadãos entregues à própria sorte.
A arquitetura dessa destruição se deve a uma política econômica comum, ainda que com nuances nacionais, cujo centro é a subordinação absoluta dos aparelhos dos Estados nacionais aos interesses das finanças globais combinados aos dos setores econômicos nacionais cuja lucratividade está associada à inserção no mercado mundial.
Temos visto no poder governos antipopulares e plutocráticos, devotados a defender os interesses dos muito ricos à custa da vida das demais camadas da sociedade.
No Brasil verifica-se o mesmo.
A economia política neoliberal é a parteira e cuidadora da calamidade pública vivida pela maioria dos cidadãos das Américas. Uma situação que se revela política, econômica e moralmente inaceitável. O “não” que a maioria dos eleitores dá a candidatos que se identificam com ela, expressa os limites de sua manutenção.
Mas é importante não esquecer que a derrota das forças antipopulares - sejam elas direitistas ou ultradireitistas, assumidamente neoliberais ou neofascistas - nas urnas é um momento de uma luta maior pela democratização do Estado e do conjunto das relações sociais. Isto é, as eleições são apenas um ponto no qual se suspendem as condições ótimas da dominação capitalista neoliberal-global e se vislumbram possibilidades de mudança.
Não nos esqueçamos de que não a dificuldade de manutenção ou aprofundamento da economia política neoliberal tem levado a táticas de desestabilização política nacional e golpes, articulados pela associação de grupos, camadas e organizações políticos nacionais e internacionais. Honduras, Bolívia e o próprio Brasil fazem parte dessa história recente.
Por isso, inclusive, o resultado dos atuais processos eleitorais diz muito sobre a experiência histórica compartilhada por tantos países, a experiência de processos muito semelhantes de dominação e exploração, de um lado, mas de resistência e confrontação, de outro.
Resistência e confrontação absolutamente necessárias para escapar ao autoritarismo e elitismo que se haviam instalado na estrutura dos Estados para destruí-los em suas funções distributivas e protetivas, e fortalecê-los nas espoliativas e repressivas.
Façamos desse e dos demais exemplos as luzes acesas no túnel de nossa própria história!
Viva Chile!
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