No Brasil, no século XIX, vários estudiosos em várias áreas do conhecimento (Ciências, Literatura, Artes) repetiram ideias colonialistas acriticamente, sem se darem ao trabalho de levarem às últimas consequências as ideias importadas da Europa, produzidas por pseudocientistas que, por sua vez, também não se deram ao trabalho de levarem suas ideias às últimas consequências. Os estudiosos europeus e seus discípulos colonizados afirmaram aprioristicamente que os europeus eram superiores aos povos da América, África e da Ásia. Para isso, generalizavam a ideia de que todos os europeus seriam mentalmente tão capazes quanto os filósofos gregos, os estudiosos romanos, os cientistas modernos, como Copérnico, Galileu, Kepler, Newton etc.
Nós sabemos que, para cada gênio nascido em uma geração, havia milhares e milhares, talvez milhões de seres humanos estúpidos e ignorantes, incapazes de entenderem o que cada gênio descobria ou expressava. Tais pseudo-estudiosos apresentaram razões para a diferença da inteligência e da cultura dos europeus com relação aos povos não europeus. Afirmaram que o meio físico e o clima europeu favoreciam o florescimento cultural e mental superior dos europeus, enquanto que o meio físico e o clima da América, África e da Ásia não favoreciam tal florescimento. Não ocorreu a tais estudiosos, que se diziam cientistas, que se suas teses eram verdadeiras, então, os descendentes dos homens e mulheres superiores que nascessem em climas e meios físicos desfavoráveis, também seriam degenerados e inferiores.
No Brasil, Sílvio Romero, Euclides da Cunha, Azeredo Coutinho, Gilberto Freyre, Oliveira Viana, Arthur Cezar Ferreira Reis e José de Alencar partilhavam de ideias racistas e preconceituosas europeias porque elas justificavam seus interesses na sociedade colonial e escravagista. Arthur Cezar Ferreira Reis justificou e mistificou as ações dos padres na Amazônia. Considerava bárbara e selvagem a cultura indígena. Gilberto Freyre também mistificou as relações de dominação e espoliação realizadas pelos portugueses e luso-brasileiros no Brasil, sugerindo que brancos, índios e negros se encontraram pacificamente para fundar um país racialmente democrático. Oliveira Viana imaginou que os portugueses pertenciam a uma casta ariana superior e, a depender dessa casta, o Brasil seria um grande país. José de Alencar, em seus romances, imaginou haver amizade fraterna entre índios e portugueses ou luso-brasileiros, a ponto de os primeiros abandonarem suas crenças e culturas livremente, abstraindo toda violência, barbaridades e hipocrisias praticadas pelos colonizadores. Vários desses estudiosos preocuparam-se com o futuro da nação devido à suposta incapacidade dos povos nativos da América e da África para se tornarem civilizados. Não se preocuparam com o futuro comportamental dos brancos e mamelucos.
Lamentamos que todos os pseudocientistas e supostos estudiosos, escribas, padres não tenham testemunhado o baixo nível civilizacional alcançado pelo Brasil após a proclamação da independência, proclamação da abolição da escravatura e a proclamação da república, pois os descendentes dos supostos arianos têm dado exemplos de sua natural incapacidade civilizacional para administrar uma república supostamente democrática e civilizada: políticos, juízes, ministros, empresários, governantes, militares, cientistas, religiosos, alguns analfabetos e ignorantes diplomados, têm demonstrado total incompetência para administrar um país moderno depois das referidas proclamações: A dança bárbara e selvagem realizada por políticos e gentes à toa numa dependência do prédio do Senado mostrou que os descendentes de europeus regrediram à cultura religiosa da pré-história, sem autorização ou consentimento dos seus eleitores modernos.
* Isaac Warden Lewis é professor aposentado da Faculdade de Educação/Ufam
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