A coincidência entre as ações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF), na Operação Sangria, e os desdobramentos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 explicita algo mais do que eventos de mesma espécie ocorrendo simultaneamente.
A PF e o MPF, assim como parte expressiva das Forças Armadas e das forças policiais, Polícia Militar e Polícia Civil, são instituições bolsonarizadas. Elas agem dentro da estratégia política de Bolsonaro. Seguem, portanto, os vais-e-vens da popularidade do governante, operando como sopro de vento na labareda do bolsonarismo.
Essa função agitadora conferida por Bolsonaro e assumida pelas instituições que deveriam fiscalizar e controlar, também, o seu governo, tende a se ampliar, dadas as revelações da CPI e o agravamento da crise política, econômica e social do país.
Bolsonaro não governa o Brasil. Destrói o país em nome de interesses múltiplos. Manter-se no poder implica dispor de apoio que transcenda os beneficiários de seus atos - dentro e fora do Estado, e alcance parte dos que, mesmo vitimizados, foram forjados pela brutalidade crua de seu mito ou adocicada dos pastores de dividendos.
Dizer isso não é o mesmo que absolver governadores, prefeitos e empresários que tenham cometido crimes ao longo da pandemia. Significa apenas reconhecer que as práticas moristas, lavajatistas, continuam em ação nas instituições estatais. Isto é, objetivamente, avança o Estado de exceção.
A absolvição do ex-ministro da saúde, Eduardo Pazuello, é prova cabal da profundidade do comprometimento das forças armadas com o genocídio, com a necropolítica e com a repressão de tudo que não seja igual ao que os que nos governam desejam.
Trata-se de um quadro de difícil reversão dentro da ordem, pois parte substantiva do judiciário e do legislativo também está articulada a essa conspiração anti-popular.
No Brasil de hoje, tudo é possível!!
*Marcelo Seráfico é professor de Ciências Sociais da Ufam.
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