Vamos discordar do Senhor Luiz Inácio Lula da Silva quando ele afirmou que foi vítima da maior mentira jurídica em mais de quinhentos anos da história do Brasil. Infelizmente, o ex-presidente demonstra não conhecer a verdadeira história do Brasil. Neste país, tudo sempre foi uma grande mentira, tanto no período colonial quanto no período imperial e no republicano.
A primeira grande mentira foi contada pelos portugueses e pelos luso-brasileiros que diziam ser “descobridores, conquistadores, desbravadores” das terras brasileiras, fingindo não saber da existência de inúmeros grupos de seres humanos que habitavam essas terras há milhares de anos. A outra grande mentira foi se assumirem como proprietários dessas terras, impedindo os nativos de usufruírem delas como já faziam há milhares de anos. A outra grande mentira, aceita como verdade, foram as discriminações e preconceitos emitidos nas bulas papais e nas ordenações elaboradas pelos reis de Portugal contra os povos que habitavam a Ásia, África e América. A outra grande mentira foi os colonizadores e os colonos portugueses e luso-brasileiros considerarem os nativos da América, África e Ásia como bárbaros e selvagens, enquanto assumiam o direito legal, contido nas bulas e ordenações, de praticarem barbáries e selvagerias contra os nativos dos continentes invadidos. A outra grande mentira foi afirmarem aos nativos desses continentes que os europeus, supostamente cristãos e civilizados, aportaram a esses continentes para ajudá-los a se tornarem “civilizados e cristãos”.
A outra grande mentira foi a chegada de padres de várias ordens religiosas, que se diziam “homens santos”, para ensinarem aos nativos o “amor de Cristo”, juntamente com os colonos e colonizadores, armados com bacamartes e canhões, para trucidarem os nativos, caso não aceitassem os preceitos da “civilização europeia” e o “amor de Cristo”. Nos períodos imperial e republicano, o exército brasileiro continuou praticando crimes e genocídios contra os indígenas, os afro-brasileiros, os cafuzos, os mulatos, os brancos como se isso fosse natural. E para terminar essa longa lista de mentiras institucionais, o poder judiciário, o poder político, o poder policial, o poder militar sempre agiram parcialmente em favor das classes favorecidas nacionais e das classes privilegiadas internacionais e sempre em desfavor dos segmentos das classes desfavorecidas.
É muito difícil, para nós, brasileiros, indígenas, afro-brasileiros, nos convencermos que só em 2018, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva tenha sido vítima da maior mentira do poder judiciário desde a invenção desse país, um estado burocrático de direito, levando-se em conta que os membros privilegiados de todos os poderes mencionados acima pertenceram ou pertencem ou estão ligados aos elementos que invadiram e escravizaram nativos da América e da África violentamente em nome da civilização e de um suposto indivíduo que teria vivido na Judeia. O governo do Partido dos Trabalhadores nada contribuiu para combater as maiores mentiras que orientaram as práticas de injustiças e as desigualdades sofridas pelas classes desfavorecidas desse país, haja vista que os direitos das trabalhadoras domésticas só foram promulgados no Brasil graças às pressões de órgãos internacionais porque até o século XXI elas trabalhavam e viviam como escravas domésticas de muitas senhoras que se diziam livres e feministas.
*Isaac Warden Lewis é Professor aposentado da Faculdade de Eduação/UFAM.
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