Vou iniciar dizendo que me sinto imensamente comovido quando alguns analfabetos funcionais e políticos criticam negativamente a obra educacional de Paulo Freire (1921-1997), pois eles confirmam, ingenuamente, que a educação é, de fato, uma ação política. Por isso, vou fazer alguns questionamentos à moda de alguns filósofos e pedagogos com ou sem investidura.
Comecemos com Sócrates, filósofo sem investidura e pedagogo sem titulação, que deixou o exemplo pedagógico de fazer perguntas aos seus discípulos para que eles mesmos descobrissem a verdade ou a falsidade de uma afirmação. O outro pedagogo sem titulação e filósofo da educação sem investidura é Paulo Freire que, em suas obras, revelou como a educação produzia, eficiente e politicamente, não só analfabetos absolutos como também analfabetos funcionais. Farei, agora, referência a José Alcimar de Oliveira, filósofo com investidura, padre sem púlpito e pedagogo sem titulação, que nos revela sua competência nessas três áreas cotidianamente. Como filósofo, dialoga constantemente com a própria Filosofia. Como padre, revela-se um monge que manifesta empatia com os próximos ao seu redor, sem deixar de estar atento à vida futura de todos os próximos e, como pedagogo, questiona “a educação à distância precedida pela distância da educação”. Não farei mais referências a outros pedagogos, pois a lista é muito longa e eu teria de chegar a Marx, Engels e Brecht, o que ofenderia muitas mentes extremamente delicadas.
A pandemia dos coronas exacerba e ilumina as batalhas das lutas de classes presentes nas sociedades colonizadoras e nas sociedades colonizadas. Nessas sociedades, os pedagogos oficiais declaram, por exemplo, que a alfabetização precária prejudicará danosamente o desenvolvimento cognitivo das crianças desfavorecidas. Por acaso, esses pedagogos oficiais olharam ao redor para ver se a alfabetização recebida pelas crianças favorecidas foi melhor do que a oferecida às crianças desfavorecidas?
A propósito disso, temos o exemplo de George Bush (o pai) que descobriu que a maioria dos cientistas e doutores dos Estados Unidos eram analfabetos funcionais, pois não conseguiam entender um texto da área de Ciências Humanas, embora fossem bons profissionais nas áreas técnicas e tecnológicas. Outro exemplo é do Haiti. Será que os pedagogos oficiais imaginam que as classes favorecidas desse país e de outros países colonizados são funcionalmente alfabetizadas, embora ostentem diplomas de universidades de seus países e de países colonizadores?
Os pedagogos oficiais exaltam continuamente a possibilidade de os estudantes aprenderem à distância durante a pandemia e depois da pandemia. Será que esses pedagogos oficiais perguntaram se os estudantes das escolas públicas, particulares ou militares aprenderam a estudar metódica e disciplinadamente ou eles esperam que a didática catequética ou da educação bancária seja suficiente para que os estudantes progridam em seus estudos?
No Brasil, há ainda educadores que insistem em adotar a didática e a pedagogia jesuítica adotada na Europa no início da Idade Média e ignoram as didáticas e pedagogias modernas propostas para o ensino das Ciências tanto por educadores laicos quanto por educadores católicos e protestantes no início da Idade Moderna. Os pedagogos oficiais ignoram também as lutas por reformas educacionais no Brasil propostas por educadores brasileiros, laicos e católicos, entre 1920 e 1960, visando democratizar os conhecimentos científicos para a maioria da população brasileira, contrapondo-se à educação como privilégio, vigente desde a chegada dos jesuítas com os invasores portugueses no século XVI. A quem interessa essa educação à distância? Será que a velha questão da qualidade do ensino para todos preocupa os pedagogos oficiais? Basta importar técnicas, tecnologias e procedimentos educacionais de países colonizadores e ignorar propostas criadas por professores, educadores e estudantes de países colonizados que conhecem bem os seus problemas e suas deficiências e estão interessados em resolver esses problemas e essas deficiências?
Nunca é demais lembrar que militares de países colonizados da América Latina, que foram para os Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial, trouxeram para os seus países práticas policiais e militares prejudiciais a seus países e, em especial, aos cidadãos desses países. Esses militares foram funcionalmente alfabetizados? Os políticos que enviaram esses militares para “missão de paz” demonstraram ser funcionalmente alfabetizados? Também, é bom perguntar que qualidade de educação democrática os Estados Unidos ensinam aos seus jovens, os quais, depois de formados, entram em um avião para despejar bombas sobre países do Oriente sem nenhum remorso?
Nos cem anos de nascimento de Paulo Freire, todos os brasileiros que amam seu país e respeitam a soberania de todos os países do mundo têm motivos para se orgulharem do educador brasileiro e universal, nascido em Pernambuco, no dia 19 de setembro de 1921.
*Isaac é professor aposentado da Faculdade de Educação/UFAM
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