A Organização Mundial da Saúde (OMS) nomeou a doença como coronavírus 2019 (COVID-19) e posteriormente a declarou pandêmica devido à ampla infectividade e alta taxa de contágio. Detectada inicialmente na China, em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, apareceram pacientes com incidência de pneumonia de causa desconhecida, no qual houve descoberta do novo coronavírus ou SARS-CoV-19. Estima-se que a maioria dos indivíduos sejam assintomáticos ou apenas apresentem um quadro leve, outros podem evoluir para casos moderados e graves da doenças, necessitando de leitos de internação hospitalar, e dependendo da evolução necessitar de serviços especializados como tratamento intensivo.
No Brasil, em 3 de fevereiro de 2020, foi declarada Emergência de Saúde Pública de Interesse Nacional, tendo o primeiro caso confirmado dia 26 de fevereiro de 2020 na cidade de São Paulo. Podemos destacar que o primeiro caso confirmado e registrado no Amazonas e na região Norte aconteceu dia 13 de março de 2020 na cidade de Manaus. E diante deste cenário, chefias de governos, estaduais e municipais, decretam estado de emergência e fechamento de serviços considerados não essenciais, com objetivo principal de atender a uma das estratégias globais no combate ao coronavírus, no intuito de diminuir a transmissibilidade deste vírus que acontece de forma rápida e fácil diante de aglomerações de pessoas.
Mesmo diante das medidas decretadas houve uma intensificação de casos de COVID-19 na capital do Amazonas. O estudo relacionou este aumento de casos confirmados com a mobilidade urbana, a qual levou muitas pessoas a se infectarem e agravarem ao mesmo tempo, ocasionando uma superlotação nos serviços públicos e privados de saúde, bem como o aumento da mortalidade, justamente por anular efeito das medidas que visavam assegurar taxas de isolamento e distanciamento social e físico.
O Sistema único de saúde (SUS) criado há 32 anos é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo e tem sido o principal protagonista neste combate a pandemia por COVID-19. Mesmo diante de tantos desafios que sempre enfrentou, neste cenário de pandemia, para garantir o aumento de atendimento e internações, da assistência na atenção básica à UTI, é imprescindível a realização de protocolos que direcionem o fluxo dos serviços de saúde no SUS, buscando locais de referências para este público infectado pelo novo coronavírus, providenciar mais recursos humanos com profissionais qualificados e capacitar os que já se encontram no serviço para o conhecimento sobre o manejo de pacientes acometidos pela doença, além disso aquisição e garantia de recursos materiais, que demanda desde equipamentos de proteção individual (EPI) a ventiladores mecânicos, e tantas outras questões, e se necessário uma acessibilidade equitativa, que consiste na regulação única e intervenção estatal visando a garantia de recursos e suportes.
Os impactos nas instituições de saúde pública perante à lotação no serviço, devido ao aumento de casos, são os mais diversos: escassez de recursos humanos, pois muitos funcionários adoecem, outros até evoluem a óbito, infelizmente, pela exposição contínua e intensa à carga viral, entre outros motivos como falta de EPIs; sobrecarga de trabalho para os funcionários que ficam no serviço; estes mesmos profissionais são afetados emocionalmente e psicologicamente; quantidade insuficiente de ambulâncias, medicamentos, insumos e equipamentos permanentes, entre outras consequências. O colapso é certo, no SUS e em outros ramos como cartório e comércios funerários.
Estes impactos no SUS tem a probabilidade de aumentar e ocasionar maiores consequências, incluindo aumento na taxa de mortalidade, uma vez que é proporcionalmente crescente aos números de casos confirmados e principalmente os que necessitam de algum tipo de atendimento e internação no serviço. Diante da abertura dos serviços não essenciais, mesmo que realizado de forma gradativa e com estratégias que minimizem os riscos de transmissão, preocupa o risco de aumento na transmissibilidade. Se não houver planejamento, medidas estratégicas, testagem suficiente e consciência da população e empresas, os impactos na saúde acontecerão. É importante mencionar que cada região ou cidade tem suas peculiaridades e algumas não deveriam se quer reabrir certos segmentos neste momento, onde as curvas de transmissão estão crescentes e os serviços de saúde encontram-se com uma grande taxa de ocupação.
Vivemos uma fase que requer uma governança cooperativa, de maneira coordenada pelas instituições de saúde pública e privada, demais instituições de ensino e pesquisa, intergovernamentais, segmentos econômicos, além da importância da cooperação da própria sociedade e medidas sociais a população. Sem este esforço coletivo em aderir às medidas de combate ao novo coronavírus, somado ao negacionismo de alguns, dificulta a diminuição dos impactos no SUS e o enfrentamento a esta pandemia, que não tem dia e hora para terminar, enquanto não se encontra a vacina ou outra intervenção que venha sanar esta crise sanitária. E lembrando que nesses tempos possamos ter a consciência: a vida em primeiro lugar. E viva o SUS que resiste, e viva a Vida que persiste.
*Priscilla Mendes Cordeiro é professora da graduação de enfermagem e da pós-graduação do mestrado Profissional de Enfermagem no Contexto Amazônico da Ufam.
Foto: FOLHA DE SÃO PAULO/REPRODUÇÃO
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