Muitos imigrantes chegaram ao Brasil desde o início do século XIX: portugueses, espanhóis, italianos, poloneses, suíços, alemães, turcos, árabes, judeus, libaneses, chineses, japoneses, coreanos, barbadianos etc.
Muitos filhos desses imigrantes aprenderam a falar português, com proficiência, não só na escola, mas também nas brincadeiras de rua com seus coleguinhas. Alguns desses coleguinhas até aprenderam algumas palavras estrangeiras quando os irmãos imigrantes conversavam entre si. Os filhos de imigrantes sabem que nem todos os pais e avós aprendiam português com proficiência. Eles tropeçavam com o gênero do adjetivo (masculino ou feminino) que deveriam concordar com os substantivos empregados. Também nem todos os imigrantes (incluindo os portugueses) desenvolviam o padrão do sotaque (da dicção) da língua portuguesa falada no Brasil (isso dependendo da região norte, nordeste, sudeste, sul ou centro-oeste). Também todos os imigrantes adultos (ocidentais ou orientais) erravam a pronúncia de algumas palavras e todos os filhos de imigrantes sabem que seus pais e avós não foram discriminados negativamente por causa de seu sotaque estrangeiro por parte da maioria da população brasileira. Tanto que a maioria dos imigrantes mantiveram seus costumes, suas crenças, seus idiomas, suas culturas. Os filhos de imigrantes não precisavam ser linguistas, filólogos, antropólogos para constatar o que estamos afirmando nesse texto.
Se um filho de imigrante ocidental discrimina negativamente os imigrantes orientais significa que esse imigrante ocidental tem problemas de formação cultural e psicológica. E o fato de esse filho de imigrante ocidental ser Ministro da Educação da República Federativa do Brasil ratifica a sua defasagem em sua formação, principalmente, com relação tanto ao conhecimento da pátria de seus antepassados como com o do país onde ele cresceu e se formou. Qual era, então, a pauta, a agenda desse ministro para a educação do país em que ele viveu? A práxis desse ministro com defasagem em sua formação lembra o personagem criado em “O médico e o monstro”, do escritor Robert Louis Stevenson. O personagem médico era o monstro. Ele continuamente desrespeitava o juramento de Hipócrates em favor da vida e assassinava pessoas que ele atacava na calada da noite. Na ficção surrealista brasileira, o ministro da educação tinha como projeto matar as aspirações educacionais e culturais da população brasileira, dos povos nativos e da comunidade afro-brasileira.
Felizmente, o monstro ministro era ignorante com relação ao país que acolheu seus pais e avós, pois não sabia que os ministros do Supremo Tribunal Federal poderiam interpor impedimentos aos seus projetos doentios e também não percebia que os povos nativos e a comunidade afro-brasileira detêm conhecimentos críticos que lhes possibilitam, através de suas organizações e movimentos, propor, conquistar e garantir direitos que lhes foram negados pelos invasores europeus no século XVI. Se o monstro ministro tivesse vindo para a América na nau dos colonizadores portugueses, seu projeto educacional seria bem aceito pelas classes favorecidas daquele século. Portanto, os projetos do ministro monstro estavam atrasados em quinhentos anos. Pobre ministro monstro. O governo federal errou em não indicá-lo para uma função em alguma repúbliqueta da banana, onde talvez ele fosse mais exitoso e feliz.
*professor aposentado da Faculdade de Educação/UFAM
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