O Congresso se revela um entrave para as pretensões bolsonaristas. Isto porque Bolsonaro põe contra si a maioria dos parlamentares, os agentes do mercado e, cada vez mais, porções significativas dos que o elegeram. Isola-se entre seus seguidores e se sustenta na possibilidade de acirrar os ânimos de sua tropa. Se o medo foi uma ferramenta para sua eleição, tornou-se um meio de governar. Bolsonaro e os seus são pervertidos sem qualquer restrição em expor suas perversões em praça pública.
Por isso, considero que, apesar de ser muito grave ter um presidente assim, mais grave ainda é a existência de uma multidão que o apoia, pois significa termos milhões de pessoas entre nós desejosas de liquidar - objetiva ou metaforicamente - quem não se submeta a suas ideias e interesses. Essa gente foi alimentada com os restos da ditadura militar, com a podridão da crise que não acaba e com a frustração dos governos do PT. É uma gente que vê a sociedade como uma selva e, sobrevivendo em condições muito precárias, uns se julgam mais capazes para se adaptar se a lei do mais apto se impuser; outros não tem predadores e lhes basta nutrir e acompanhar a destruição nos estratos mais baixos e rebaixados da cadeia alimentar.
Esse encontro mórbido do lumpen com a classe média precarizada e a burguesia pariu Bolsonaro. Criá-lo, porém, talvez seja tarefa impossível.
Somadas as perversões, alguém terá que ser sacrificado. O lumpen já era. Resta saber até quando a classe média e a burguesia aguentam submeter suas perversões às do presidente.
Marcelo Seráfico é professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas
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