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Assédio moral no trabalho é debatido



O assédio moral nas universidades e outros locais de trabalho foi discutido entre os dias 12 e 15 de julho, no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza – CCMN da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, na 1º Conferência Internacional sobre Assédio Moral e outras manifestações de Violência no Trabalho. O evento, organizado pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ, tinha como tema “ética e dignidade dos trabalhadores”.

A palestra de abertura foi da médica do trabalho Margarida Barreto, que discutiu a questão do combate ao assédio moral no Brasil. Durante a apresentação, a palestrante destacou a subjetividade dos trabalhadores, suas emoções e afetos, como um importante elemento para pensar a relação dos trabalhadores com o ambiente de trabalho. No contexto atual, Margarida mostrou como a flexibilização do trabalho nega a própria vida, como ainda existe trabalho escravo, no campo e na cidade, e a aparição de novas doenças.

Margarida classificou o assédio moral como uma violência psicológica, constante, e que muitos ambientes de trabalho se tornam espaços de humilhações e instrumento de domínio e controle do corpo: “O assédio moral não pode ser compreendido como problema de personalidade”, ressaltou.

Também polemizou com o argumento de que o indivíduo possui livre arbítrio para sair de um emprego considerado ruim, pois a necessidade vai fazê-lo se adequar a qualquer situação, mesmo que de discriminação e opressão. Assim, o trabalhador que é humilhado, ultrajado ou constrangido terá seu psicológico alterado, e poderá adquirir novas “doenças”, como ansiedade e depressão. E, em muitos casos, o quadro evolui para o suicídio.

A palestrante observou que o trabalho, enquanto uma atividade histórica, é mais que um gesto; ele envolve todo o trabalhador: “Não há dicotomia. É impossível deixar as emoções de um lado de fora”. E continuou: “Nós, seres humanos, agimos de acordo com as coisas que vivemos”. Várias situações oprimem os trabalhadores cotidianamente, muitos sofrem revistas íntimas, e são obrigados a usar fraldão, por não poderem ir ao banheiro durante sua rotina laboral. Para Margarida, são atos contra os direitos humanos, que não são esporádicos, e chegam a matar pessoas. A palestrante entende que o “bolso” ainda é a parte mais sensível para se atingir esses agressores.

Assédio moral está presente nas universidades

Aproveitou, ainda, para destacar que a questão do assédio moral está presente no ambiente de trabalho das universidades. Citou uma pesquisa da Universidade Estadual de São Paulo (USP) com 54 docentes, em que 38% reconheceram o assédio moral como um problema comum, 22% já foram vítima dele e 32% conheciam um colega que teria sofrido do mal. Lembrou também do caso de um professor que disparava falas racistas e sexistas no ambiente de sala de aula, como: “os negrinhos da favela só têm os dentes brancos pois a água que bebem tem flúor” ou “ marido quando não sabe por que está batendo, a mulher sabe por que está apanhando”. O professor foi impedido de exercer atividades políticas, teve que pedir desculpas aos alunos e foi obrigado a prestar trabalho comunitário.

Cresce o esforço coletivo contra o assédio moral

Margarida apontou que diversas leis estão sendo aprovadas em municípios do Brasil contra o assédio moral, apesar de alguns estados ainda ferirem algumas decisões constitucionais. Aproveitou para ressaltar a adesão dos estudantes, sindicalistas e grupos de teatro na luta contra o assédio moral, em atividades de greves, manifestações e apresentações. Chamou a atenção para os grupos teatrais “Na lata”, do Rio de Janeiro, e “Genoma”, de Praia Grande (SP)”, que possuem atuação na área. Assim como o incentivo de dois sindicatos de Minas Gerais que realizaram um concurso de monografias com o tema.

Mudar o modelo econômico é imperativo

Para a palestrante, para combater o assédio moral em grande escala, é preciso repensar o modelo econômico atual, que exclui milhões de pessoas: “Precisamos pensar uma América Latina livre e autônoma. Nosso imperativo categórico e dever ético deve ser mudar esse modelo e construir outros”, disse. “O valor do trabalho no mundo capitalista se perde, uma vez que não gera conhecimento no trabalhador: “Qual seria o valor do trabalho num mundo em que tudo é convertido em mercadoria?”, indagou.

Ela propôs dois desafios: aos dirigentes sindicais, pensar uma nova cultura dos antagonismos de classe, através dos processos subjetivos; e, para a academia, refletir a formulação de suas pesquisas, com os conceitos de ética e subjetividade.

Fonte: Adufrj Seção Sindical e redação ADUA



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