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ADUA faz hoje 31 anos; leia dicurso de Aloísio Nogueira



A Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (Adua) completa hoje (28/10) 31 anos. Leia discurso na íntegra do professor Aloysio Nogueira, realizado no hall do ICHL durante homenagem feita pela entidade a ele no Dia dos Professores. A fala aborda o histórico da associação e lutas de classe em âmbito nacional e regional.

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Quais as razões pelais quais um punhado de professores, no final da década de 1970, tomaram em suas mãos objetivos para serem alcançados a médio e longo prazos? E que razões são estas que fazem com que depois de 31 anos eu ainda esteja aqui juntamente com estes bravos outros companheiros presentes? Qual era nossa visão da época, visão de mundo, de sociedade, do Homem? Que prática docente nós tínhamos e ainda permanecemos com ela até hoje?

Como se a realidade não mudasse econômica, social e politicamente. Como se fosse simples. Sabemos que a realidade é profunda, extensa, complexa. Optamos por uma visão de mundo não simplesmente porque alguns têm origem na filosofia, mas essa realidade não se faz a não ser dentro da própria história. Assim nos unimos diante dos conflitos, compreendendo que a realidade é conflitiva, que ela se transforma a cada momento.

Não era bastante para todos nós construirmos apenas uma associação de classe, seja no ensino superior. Mantivemos contato com o movimento da Educação do ensino fundamental e médio. E não bastou a Educação. Fomos no processo da ‘labuta diária’, que é como na época se falava com muita ênfase do nascente do proletariado amazonense. Também partimos para o diálogo com nossos trabalhadores rurais e com os povos indígenas.

Tanto é que conseguimos começar a organizar associações, centros, jornais. Foi uma luta não só em Manaus; estendeu-se por todo esse país. Mas que visão de mundo era essa? A visão de que seria possível construir uma sociedade mais justa. Uma sociedade que, enfim procurasse estirpar de uma só vez a exploração do homem pelo homem.

Daí, não foi à toa que procuramos adentrar com maior afinco numa teoria que pudesse alimentar, avançar, nas nossas lutas. Que teoria era essa? A teoria que acredita que é preciso fortalecer a sociedade civil para evitarmos os populistas, os arrogantes, os personalistas, os traidores, e, sobretudo, evitar que pairasse sobre nossas cabeças a espada de Domus (nobreza). Foi nessa luta que nasce a ADUA, da nossa querida UA – Universidade do Amazonas, hoje Universidade Federal do Amazonas. Foi dessa luta que também nasceu o Sindicato dos Trabalhadores Em Educação do Estado do Amazonas (Sinteam). Foi nessa luta que nasceu o Sindicato dos Metalúrgicos, vários sindicatos dos trabalhadores rurais e a Central Única dos Trabalhadores.

Mas não podíamos ficar restritos simplesmente à luta sindical. Avançamos para uma luta política. Queríamos também fazer uma nova polícia, se dedicar a uma nova sociedade a partir obviamente de uma nova maneira de ser fazer política. Muitos de nós ajudamos a construir o Partido dos Trabalhadores, além de outros que se dedicaram a partidos políticos que foram silenciados - como o PCB, do PCdoB e outros das forcas políticas de esquerda.

Eu diria que metade da minha vida foi dedicada a isso até hoje. Entrei na universidade com 27 anos, já advindo de lutas aguerridas com aconteceram ao longo do tempo. Em 1955, quando entrei no Colégio Estadual do Amazonas, fui pego pelo braço. Me levaram para uma primeira greve que eu não sabia nem o que era. Uma greve contra o diretor do Colégio Estadual do Amazonas porque ele havia tomado decisões autoritárias. Foi de lá pra cá que comecei a indagar o que era aquilo. Naquela época já jogavam nas nossas mãos textos de Caio Prado Júnior, Nelson Werneck Sodré e de um grande professor de literatura que tivemos e que suas aulas se transformavam num grande púlpito, Farias de Carvalho. Certa vez ele entrou na sala e um colega pediu que ele declamasse seu último poema:

Hoje eu queria escrever um poema diferente
sem o chiquê das formas elegantes
e a rotina das velhas tradições;
um poema duro, pegajoso, como o músculo e o suor
dos que constroem os séculos e carregam todo peso do mundo sobre os ombros
(poema: Meu Canto Novo)

Isso me comoveu ainda criança. Quem eram esses que carregam o mundo sobre os ombros? Foi quando vi um velho cidadão que carregava sacas de carvão sobre os ombros todos os dias para alimentar seus filhos. Esse cidadão era Cândido Batista de Melo, meu pai.

Quando fundamos ADUA, tínhamos nossa visão, compreensão do mundo. Tínhamos que construir uma universidade pública, gratuita, de qualidade, democrática, amazônica, referenciada na sociedade. São princípios que nascem porque a verba desse povo tão sofrido não pode ser entregue à privatizações. Tem que ser empregada escola pública e nesse processo, quando falamos de democracia, precisamos fortalecer os segmentos da sociedade civil dentro da universidade.

Nós somos, queiramos ou não o braço esquerdo da sociedade civil dentro da universidade, junto com os alunos e os técnicos. A universidade, na sua direção, tem que ter a capacidade de gerir de forma mais ou menos democrática, a partir da organização desses segmentos. Se isso não acontecer, toda e qualquer gestão universitária será braço direito do poder, da sociedade política, e não da sociedade civil.

Os problemas que estamos enfrentando hoje decorre do processo que ocorreu durante esses 31 anos. Muitos abdicaram, abandonaram e precisamos retomar com toda nossa força, a democracia dentro da universidade. Precisamos ter segurança da nossa cátedra, no caso dos professores agredidos, e no caso da transferência do transito pra frente do Macro (mudança anunciada recentemente que retira um retorno antigo da frente da entrada do Campus da Ufam). Simplesmente isso é adiar um grande problema que existe em Manaus, o trânsito; entra governo, sai governo e não existe Plano Diretor capaz de dar conta do que ocorreu com a grande migração e o aprofundamento das condições de vida e trabalho da população.

A universidade, já que trabalha com ciência, tecnologia, com extensão, questões além do ensino, é preciso que ela dê conta do que está ocorrendo na cidade. Um exemplo: é promessa de um candidato a presidente da república que a Zona Franca seja estabelecida quase ad eternum: um século. E trabalhos feitos por professores da Ufam, demonstram que a diferença do salário pago diante do lucro, da riqueza produzida, é enorme.

Companheiros e companheiras, não tenho como mudar meus objetivos no que tange à construção de uma sociedade justa. Como disse um grande poeta, Castro Alves:

Eu, que sou cego, - mas só peço luzes...
Que sou pequeno, - mas só fito os Andes...
(poema: Quem Dá aos Pobres, Empresta a Deus)



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