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Ação truculenta com anuência da Reitoria expõe documentos e patrimônio da UFF



Na manhã da última quinta-feira (29), os docentes da Escola de Arquitetura e Urbanismo e do Mestrado de Defesa e Segurança da Universidade Federal Fluminense (UFF) acordaram com a notícia de que documentos oficiais e bens materiais dos dois cursos, como histórico escolar dos alunos do Mestrado, memorandos administrativos, ofícios, mesas e cadeiras que se encontravam nas salas 564-A e 564-B, do Bloco D, no Campus Praia Vermelha, estavam amontoados e expostos no saguão do Bloco D.

Segundo relatos, as salas foram arrombadas na madrugada de quarta para quinta-feira, quando pessoas, provavelmente a mando da Escola de Engenharia, com anuência da reitoria, esvaziaram o espaço, trocaram portas e fechaduras e colocaram uma placa na entrada escrito “TDT -Curso de Desenho Industrial – Lab Desing”. O descaso com o patrimônio da UFF e o desrespeito crasso às instâncias democráticas e de diálogo na Universidade causou indignação entre os docentes.

De acordo com Airton Bodestein, coordenador do Mestrado de Defesa e Segurança da UFF, cujas aulas eram lecionadas no espaço, o processo de desocupação das salas já estava em nível avançado e só não foi finalizado porque no dia anterior, data em que o caminhão disponibilizado pela Pró-Reitoria de Administração (PROAD) havia combinado de levar o resto da mudança para a nova sede do Mestrado (no antigo prédio da Fundação Euclides da Cunha). O Pró-Reitor de Administração, Leonardo Vargas, o avisou que o veículo havia sido solicitado para uma emergência, transferindo a finalização da mudança para esta quinta (data limite estabelecida pela reitoria para a desocupação).

“O meu questionamento não é nem sobre qual curso tem direito às salas, mas sobre a forma como o processo foi conduzido: com tamanha truculência, sem diálogo, realizado na calada da noite. Isso aqui é uma Universidade pública, de formação de pessoas, que debate e procura construir espaços democráticos. Esse tipo de atitude não cabe. Se a Engenharia queria ocupar o espaço e se a reitoria concordava, que o solicitasse oficialmente, através de diálogo com a Escola de Arquitetura e Urbanismo”, ressaltou o professor.

O diretor da Escola de Arquitetura e Urbanismo, Werther Holzer, concorda. Ele afirma que as salas 564-A e 564-B são subdivisões da sala 564, destinada à Arquitetura desde a inauguração do Bloco D, na Praia Vermelha, e posteriormente cedida, em caráter provisório, durante dois anos, pelo então Diretor da Escola de Arquitetura e Urbanismo, professor Pedro Lentino, com a anuência do Reitor Pedro Antunes, para o Projeto Managé, que deu origem ao Mestrado de Defesa e Segurança. A cessão dessas salas acabou se estendendo, apesar das reiteradas solicitações de desocupação feitas pelos Diretores da Escola de Arquitetura e diversas instâncias administrativas e colegiados da Universidade.

“Quando soubemos que o Mestrado de Defesa e Segurança finalmente havia sido relocado, escrevemos um memorando ao Reitor, comunicando que instalaríamos ali a secretaria do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e uma sala de aula para atender nossos alunos de mestrado e doutorado. Como não obtivemos qualquer resposta oficial por parte da Reitoria, demos seguimento ao processo, levando mesas e cadeiras para as salas. Embora existissem “comentários nos corredores” sobre a destinação das salas, em nenhum momento a Reitoria, a Engenharia ou o curso de Desenho Industrial nos contatou oficialmente para debater o assunto”,disse.

O professor Airton Bodestein lamenta o desfecho da história e ressalta que os contatos feitos entre o Mestrado de Defesa e Segurança e a Reitoria, na figura da Chefe de Gabinete, Martha de Luca, com o objetivo de relocar a Pós-Graduação de espaço, haviam sido todos cordiais, até então.

“Mesmo não concordando com alguns prazos dados pela Reitoria, eu os respeitei, justamente para evitar confusão. Infelizmente, deu nisso. Não posso mais ser responsável pelo Patrimônio retirado das salas, não sei se no ato da remoção alguma coisa foi levada. O processo de mudança não pode ser feito assim, tem que ser tudo inventariado, catalogado, afinal são bens e documentos importantes para a Universidade, para docentes e estudantes. O próprio Pró-Reitor de Administração sugeriu que eu elaborasse um memorando, para que possa ser instalado um processo de sindicância sobre o caso”, finaliza.

A imprensa da Associação dos Docentes da UFF (Aduff - Seção Sindical do ANDES-SN) tentou entrar em contato com a chefe do Gabinete da Reitoria da UFF, Martha de Luca, para ouvir o lado da Administração da Universidade, mas até o fechamento da matéria, na sexta-feira (30), ela ainda não havia se pronunciado.

Já em memorando enviado à Aduff na tarde de quinta-feira, a Escola de Engenharia afirma que a “integração de posse do referido espaço é imperiosa para que o curso de graduação em Desenho Industrial possa iniciar mais uma turma” e que acatará “documentação oficial assinada no passado, pelas autoridades competentes da Universidade, se existente (grifo do autor), que prove, de forma inequívoca, que a referida área fora cedida em nossas instalações para uso da Escola de Arquitetura e Urbanismo”. Entretanto, em nenhum momento, a Escola de Engenharia dá explicações sobre a forma como essa “reintegração” foi realizada.

Para a direção da Aduff, o episódio evidencia a forma precária que a Universidade vem se expandindo, dificultando o tripé ensino, pesquisa e extensão e gerando não apenas a precarização das condições de trabalho, como o desgaste das relações entre docentes, culminando em ações desrespeitosas entre os pares.

*Com edição do ANDES-SN
Fonte: Aduff - Seção Sindical



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