Médicos da rede pública de saúde do Amazonas estão sofrendo pressões e ameaças de pacientes para que receitem um kit de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19. A denúncia foi feita, no dia 12 de janeiro, pelo colunista do UOL, o jornalista Diogo Schelp. O Ministério da Saúde enviou um ofício à Prefeitura de Manaus para difundir o chamado “tratamento precoce”, que tem eficácia contestada pela Sociedade Brasileira de Infectologia.
Os profissionais ouvidos pela coluna relataram situações em que os próprios pacientes insistiram, às vezes de maneira agressiva, para receber remédios contraindicados. Os médicos contam que os pacientes são incentivados por autoridades e até por integrantes de entidades médicas locais a denunciar no Conselho Regional de Medicina (CRM) e a processar na Justiça os profissionais que se recusarem a fazer a prescrição.
“Muitos colegas das Unidades Básicas de Saúde (UBS) agora sentem que estão colocando seus empregos em risco se não receitarem o kit covid ou hidroxicloroquina”, diz profissional de saúde sob condição de anonimato, por temer represálias.
Segundo os médicos consultados, a distribuição de “kit covid” agrava a situação do colapso na saúde pública do estado. “Os pacientes estão tomando os remédios sem eficácia em casa e, por acreditarem que estão se tratando, deixam de se preocupar com a saturação [de oxigênio] e acabam demorando para procurar um hospital”.
Contraindicado
Dos remédios listados nos kits, apenas os antitérmicos comuns como dipirona e paracetamol de fato são indicados em casos leves de covid-19.
Alguns dos medicamentos promovidos pelo governo federal já vinham sendo distribuídos por prefeituras do Amazonas desde 2020. É o caso da prefeitura de Autazes, cujo “kit covid” incluía azitromicina, dipirona, prednisolona, omeprazol, AAS infantil, vitamina C e ivermectina. O kit de Parintins era composto por azitromicina, ivermectina, prednisolona e paracetamol.
Em ofício enviado ao Ministério Público Federal de Goiás, a Sociedade Brasileira de Infectologia apresentou uma longa lista de evidências provando que não existe “tratamento precoce” para Covid-19 e que não se deve receitar azitromicina, prednisolona e ivermectina para casos leves porque não possuem eficácia e porque podem provocar efeitos indesejados no paciente.
“A prednisolona, um corticoide, é a que tem contraindicação mais grave. Em pacientes leves, ela aumenta a carga viral e o tempo de sintoma. Ela só é indicada para pacientes internados em estado grave que precisam de alto fluxo de oxigênio”, diz o infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Universidade Estadual Paulista.
Outro remédio contraindicado para casos leves de Covid-19 é o antibiótico azitromicina, porque nesse estágio da doença não existe infecção bacteriana. O uso do antibiótico em pacientes leves pode inclusive levar ao desenvolvimento de resistência bacteriana. O antiparasitário ivermectina também já teve a eficácia contra a Covid-19 contestada por diversos estudos científicos.
200 mil mortes
O Brasil ultrapassou 200 mil mortes por Covid-19 em 7 de janeiro, mesmo dia em que registrou o recorde diário de 1.841 óbitos pela doença, conforme dados do consórcio nacional de imprensa firmado para registro de dados da pandemia (CNASS). Neste dia também, os Estados Unidos registraram 4 mil mortes pela doença, o maior índice acumulado por um país em 24 horas.
Não é coincidência que Brasil e Estados Unidos liderem o número de mortes causadas pelo coronavírus, uma vez que os dois governos negligenciaram a doença. Bolsonaro fez piadas com as mortes, estimulou aglomerações e até agora sequer garantiu a compra de seringas. É um genocida: mata o próprio povo por ações e omissões.
Fonte: com informações do UOL e Fonasefe
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