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  03/12/2020


Entrevista: "A gestão do sindicato é uma para todos e todas”, afirma presidente eleita do ANDES-SN



Em um contexto inédito de pandemia, as eleições para a diretoria do ANDES-SN (biênio 2020-2022) ocorreram pela primeira vez na história pelo modo telepresencial. Nos dias de votação (3 e 6 de novembro), foi a registrada a participação de 12.856 votantes. A chapa 1 “Unidade para Lutar: em defesa da educação pública e das liberdades democráticas” venceu o processo eleitoral com 7.086 dos votos válidos.


A diretoria eleita toma posse no dia 1º de dezembro, durante o 10º Conselho do ANDES-SN (Conad) Extraordinário, que ocorrerá virtualmente. O Sindicato Nacional terá como presidenta a professora Rivânia Moura que concedeu entrevista à ADUA.  A docente comentou sobre a atual conjuntura, a campanha eleitoral e os desafios nos próximos anos à frente da entidade. Confira!

 

ADUA: Considerando a pandemia da Covid-19, a realização da primeira eleição virtual no Sindicato Nacional e o desafio de manter a mobilização respeitando o distanciamento social, foram muitos aprendizados para os/as docentes de instituições de ensino superior públicas durante o ano de 2020. Em sua opinião, quais as principais lições que a categoria pôde tirar neste cenário?

 

Rivânia: São várias lições e algumas delas reforçadas pelo contexto de pandemia, posto que já sabíamos dos desafios do nosso tempo que foram aprofundados pela intensificação das políticas neoliberais. A primeira é a reafirmação da importância da pesquisa que as IES [Instituições de Ensino Superior] realizam em defesa da vida. Não fosse isso, o negacionismo do atual governo seria ainda mais virulento.  Foram as pesquisas nas mais variadas áreas de conhecimento que possibilitaram conhecer, ter informação e resistir a enorme quantidade de fake news sobre a pandemia. Da área Biomédica, passando pela Educação, Tecnologia e Ciências Humanas e Sociais, a academia mostrou seu real compromisso com a sociedade e com os setores mais fragilizados e atingidos pela pandemia. A outra, diz respeito sobre a importância do Sistema Único de Saúde, o SUS, que mostrou ser a principal política de combate à pandemia no Brasil. O ANDES já vem há algum tempo participando ativamente da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde. Aí está a diferença entre o que o setor público pode e deve fazer contra a falácia da privatização. Basta indicarmos o absurdo que as e os amapaenses estão passando com o descaso do governo federal frente à falta de energia elétrica há vários dias. Mas há outras lições, essas, sim, ainda que nossa luta pela Educação pública, gratuita, laica e socialmente referenciada já apontassem, emergem no contexto da pandemia: a contra educação com a instituição do Ensino Remoto, que entre todas as consequências adversas ao que defendemos e lutamos, para não me alongar, traz o adoecimento docente, a precarização das nossas condições de trabalho e a exclusão de muitos estudantes. Esse é um dos principais desafios que enfrentaremos no próximo período, sem falar na luta contra a reforma administrativa e a defesa da democracia e autonomia das IES. Vale reforçar que vamos iniciar a nossa gestão ainda num contexto de expansão da pandemia e, consequentemente, de manutenção das atividades remotas. Isso impõe inúmeros desafios para as nossas lutas, para a nossa mobilização.

 

ADUA: Na disputa eleitoral a sua chapa obteve 7.086 votos, enquanto a oponente com outra corrente política registrou 5.658 votos. A adesão desses/as docentes é fundamental neste momento de intenso ataque contra sofre a categoria e a educação. Qual a estratégia da nova diretoria para trazê-los para incentivar cada vez mais a unidade para a luta?

 

Rivânia: Primeiro é importante ressaltar que diante do contexto de isolamento e, portanto, sem possibilidade de estarmos plenos em nosso processo de mobilização e organização da categoria e mesmo para travar debates e convencimento corpo a corpo no decorrer da campanha, avaliamos que foi expressiva a votação. De fato, os resultados apontam para uma divisão da categoria em torno de uma concepção de luta e de movimento sindical. Mas, a maioria decidiu que só uma direção que enfrente de forma classista, independente de governos, partidos e administrações e, ainda, a partir da construção pela base, é capaz de fazer frente aos desafios que teremos pelo próximo período. As demandas para fazer o enfrentamento vão mostrar o caminho da unidade e da mobilização como nossa maior ferramenta e temos a certeza que nossa categoria está organizada à altura desse embate. Precisamos pensar na unidade sob diversos aspectos: dentro da nossa categoria profissional; com as demais categorias dos servidores públicos e com o conjunto da classe trabalhadora. A principal estratégia vem do fortalecimento das seções sindicais com reuniões constantes e com atividade contínua das regionais do ANDES para estar próxima da categoria em discussão das demandas, em luta contra os ataques locais e gerais. É muito importante que a nossa categoria se sinta representada pelo ANDES, pois passada as eleições, a gestão do sindicato é uma gestão para todos os docentes e todas as docentes. Queremos construir a nossa gestão com o conjunto da nossa categoria, com as críticas, sugestões e ações coletivas, pois apostamos que dessa forma o sindicato nacional se constrói e se fortalece.

 

ADUA: Em uma conjuntura com diversos e graves ataques ao serviço/aos servidores públicos, à Educação Pública e à classe trabalhadora de maneira geral, comandados pelo governo Bolsonaro, quais os principais desafios, as pautas prioritárias da nova diretoria do ANDES-SN?

 

Rivânia: Nós temos pautas urgentíssimas que estão na ordem do dia e que exigem ações imediatas. Podemos elencar por exemplo a Reforma Administrativa que significa uma transformação do Estado brasileiro que de forma mais acelerada e agressiva diminui os serviços públicos e abre espaço para investida do mercado em vários âmbitos. A Reforma Administrativa atinge o conjunto dos servidores públicos e dos serviços públicos, nesse sentido o seu impacto é para o conjunto da população. O desafio do enfrentamento da Reforma Administrativa está em conseguir mobilizar os servidores públicos e para além desses dialogar com a população e mostrar a importância da defesa dos serviços públicos.  Nesse sentido o ANDES está construindo juntamente com o FONASEFE, centrais sindicais e movimentos sociais um dia nacional de luta, 10 de dezembro, contra a reforma administrativa e contra a venda das empresas estatais. Outra pauta muito urgente diz respeito ao processo de intervenção do governo federal nas universidades e institutos federais. Temos hoje 17 IES com interventores nomeados pelo presidente, deslegitimando o processo de escolha dos reitores e reitoras, por suas comunidades acadêmicas. Esse ataque a autonomia é muito grave e uma das primeiras ações da nossa diretoria é fazer o enfrentamento a essa situação por entender que as intervenções se conectam ao silenciamento e perseguição política dentro das universidades e institutos. Precisamos também dar continuidade a luta pela recomposição dos orçamentos das universidades federais, estaduais, municipais, institutos federais e Cefet para viabilizar o funcionamento e garantir o tripé ensino, pesquisa e extensão, bem como garantir as condições de trabalho dos/as docentes. Por fim, consideramos muito importante continuar o debate sobre o ensino remoto, suas consequências e combater qualquer perspectiva de expansão do ensino a distância nas instituições públicas de ensino superior no Brasil. Sabemos que os desafios são enormes, mas estamos dispostos a construir resistências e lutas com a nossa categoria e com o conjunto da classe trabalhadora em unidade.



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