Treze municípios do estado do Amapá estão sem energia elétrica, desde a noite de terça-feira (03/11), após um incêndio na subestação da empresa Isolux, contratada pela União e que atende ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Sem o restabelecimento da energia, a população sofre com a crise de desabastecimento há quase uma semana.
Quase 90% da população do Amapá, de 861 mil habitantes, está sem eletricidade em suas casas. A capital Macapá, com 513 mil pessoas, foi a cidade mais afetada pela queda de energia que impactou o funcionamento de mercados, caixas eletrônicos, hospitais, abrigos, sistema penitenciário, serviços de captação de água, tratamento, distribuição e também de esgoto. Há relatos também de falta de combustível e de velas. Sem energia, os moradores estão perdendo alimentos e permanecem sem comunicação.
"Para as pessoas que moram nas periferias, o apagão tem sido terrível. Além da falta energia, elas estão sem água potável para beber, houve um aumento exorbitante nos preços dos produtos, principalmente, nos galões de água. Há denúncias de que nos bairros em que residem políticos a energia tem ficado 24 horas. Nos últimos dias têm ocorrido várias manifestações e as forças repressivas do estado têm atuado de forma violenta para reprimir uma manifestação que é legítima”, relatou o presidente do Sindicato dos Docentes da Universidade Federal do Amapá (Sindufap), Paulo Cambraia. "Há relatos de feridos graves, como o de um garoto de 13 anos atingido no olho por uma bala de borracha".
O ANDES-SN sempre foi crítico ao processo de privatização das estatais, iniciado nos anos 1990, com governos neoliberais, e que prossegue até os dias atuais. Crimes sociais e ambientais têm sido comuns por parte de empresas privatizadas, como é o caso do rompimento das barragens nos municípios de Mariana (MG) em 2015, da mineradora Samarco S., e Brumadinho em 2019, da Vale S.A, empresa criada a partir da privatização da então empresa estatal brasileira Companhia Vale do Rio Doce.
O Sindicato Nacional emitiu nota de solidariedade à população do Amapá que sofre com o descaso e a negligencia do governo e da empresa responsável pelo fornecimento de energia. Leia o documento completo:
Desde o dia 03 de novembro, o Amapá sofre com a maior crise energética da sua história, onde 14 das 16 cidades se encontram em um apagão, depois que ocorrera uma explosão, seguida de incêndio, na subestação de Macapá. Isso causou o desligamento imediato da linha de transmissão Laranjal/Macapá, assim como também das usinas hidrelétricas de Coaracy Nunes e Ferreira Gomes.
O que se assiste após essa explosão é um violento ataque às condições de vida já difíceis do(a)s trabalhadores e das trabalhadoras do Amapá, que, além de ter que lidar com a pandemia da COVID-19, agora lidam com um apagão que já levou à perda de alimentos, mortes e prejuízos sociais, ambientais e econômicos.
Ressalta-se que essa subestação pertence à empresa espanhola privada Isolux, contratada pela própria União, e que é dona da linha de transmissão de 500kv Tucurí-Macapá-Manaus, ou seja, interliga praticamente parte significativa da região norte, ligando o Amazonas, Amapá e Oeste do Pará à Usina Hidrelétrica de Tucuruí.
Em 2015, o Amapá foi integrado ao Sistema Interligado Nacional, criado ainda no governo FHC, que serviu como porta de entrada para empresas privadas se apropriarem de distribuidoras de energia nos Estados.
Consideramos inadmissível o que a população trabalhadora do Amapá passa, assim como as ações de violência por parte das forças policiais que reprimem as manifestações sociais que tomam conta das ruas. A população está sem água, alimento e a possibilidade de um desasbastecimento é real. Exigimos do governo Bolsonaro medidas imediatas para punir a empresa responsável, assim como garantir uma política de assistência econômica urgente e imediata para que nenhuma família trabalhadora seja mais penalizada por causa da irresponsabilidade do mercado.
Prestamos, assim, nossa solidariedade à população do Amapá, reafirmando também nossa histórica oposição às privatizações, por entendermos que o mercado não tem como finalidade cuidar das pessoas e da natureza, mas buscar o lucro.
E, nessa busca, quem sofre é a população trabalhadora. O ANDES-SN, suas seções sindicais das regiões Norte I e II e a CSP-Conlutas, estão lançando uma campanha de solidariedade para arrecadar doações para a população amapaense.
Brasília (DF), 09 de novembro de 2020
Diretoria Nacional do ANDES-SN
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Campanha. Colabore!
Foto: Albenir Sousa
Fontes: ANDES-SN, Governo do Amapá, Prefeitura de Macapá, Agência Brasil e Congresso em Foco
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