Na árdua caminhada das lutas e resistência há momentos de desalento. Somos humanos. Mas nesse mesmo espaço há também lamparinas acesas que iluminam, encorajam e renovam os ânimos. O professor Osvaldo Coelho é (não foi) uma lamparina acesa neste campo de cada vez mais intensas batalhas travadas. Mesmo após a sua partida nesta quinta-feira (30/04/2020), continuará a desempenhar sua missão de entusiasmar os que lutam por justiça social.
A “lamparina acesa” – como chamou a professora Ivânia Vieira em artigo publicado em setembro de 2017 – foi fundador (1979), primeiro presidente e filiado à ADUA desde 1980, além dos mais importantes militantes da educação pública. Na ocasião do artigo, Osvaldo Coelho, com então 80 anos, fez apelo aos participantes de Assembleia. “A educação como direito para todos e com qualidade é marca da nossa luta. Vamos seguir em frente, lutando”.
“O Prof. Osvaldo Coelho encarna nesse gesto mensagem renovada pelo olhar de quem há mais de 60 anos se fez parte da luta dos trabalhadores do Amazonas. Anda devagar, talvez porque mais moço teve pressa, e fala firme entrelaçando ternura ao convocar os mais jovens a andarem nas trilhas das lutas contemporâneas. Sabe que é difícil porque as lutas do passado já não se fazem iguais no presente. As causas mobilizadoras sim (...) Para o Prof. Osvaldo Coelho as razões permanecem e estão mais fortes”, escreveu Ivânia.
Além de presença marcante e cheia de vigor nas assembleias, o professor aposentado do curso de Filosofia da Ufam (1965 a 1991) era – mesmo depois de 40 anos de sindicalizado – um dos mais envolvidos nas demais atividades do sindicato. Nas últimas eleições para a diretoria do sindicato, em 2018, foi o primeiro a votar na urna instalada no auditório da ADUA.
“O mesmo ideal, que eu tinha na época em que junto com outros companheiros resolvemos fundar a associação, que era para defender os interesses dos professores e da comunidade universitária de um modo geral, a própria comunidade manauara e amazonense, esse mesmo pensamento ainda está me movendo, é por isso que eu não me afasto (…) enquanto eu tiver forças para me mover, eu estarei aqui”, disse na ocasião.
Homenagens
Ao longo desta quinta-feira, docentes, discentes e amigos prestaram suas homenagens ao professor. “Meu colega de Universidade desde 1980 quando fui seu aluno do curso de Filosofia, e a partir de 1986 como professor. Pessoa generosa, solidária e sábia. Militante íntegro que nos deixa. Seu nome, carregado de história e compromisso com a justiça social está inscrito no memorial dos que honraram a grande luta, sem nunca fazer acordo com os dominantes. Perdemos o decano da militância em defesa da educação pública, gratuita, laica, universal e referenciada nas lutas dos subalternizados. OSVALDO GOMES COELHO, PRESENTE!”, disse o professor de Filosofia da Ufam, José Alcimar de Oliveira.
A postura conciliadora de Osvaldo também foi lembrada por Alcimar. “Em várias ocasiões, em que por força do temperamento dos companheiros Mena e Michiles (participantes do Movimento Educar para a Cidadania) a discussão se exaltava, era o nosso decano Osvaldo que pacificava os ânimos, embora fosse dele as intervenções mais contundentes e aguardadas. Suas palavras seguirão ecoando. Como dizia o mestre Brecht: se o que foi abatido não lutou sozinho, o inimigo ainda não pode proclamar vitória”, afirmou.
O professor de Ciências Sociais da Ufam, Marcelo Seráfico, também homenageou o colega. “Existem pessoas de que nos sentimos íntimos não por realmente sermos, mas pelo fato de que elas despertam em nós um sentimento de empatia profundo, um sentimento familiar que não depende de relações de sangue, um sentimento de participação numa mesma comunidade de afetos, preocupações, interesses e projetos. O professor Oswaldo é para mim uma dessas pessoas. Eu me solidarizo à sua família e a todos que o tem como referência de compromisso público e delicadeza no trato”.
Também cientista social, professor da Ufam Antônio Neto se manifestou sobre a partida de Osvaldo Coelho. “Coerente, nos deixa o exemplo de se manter durante toda sua vida ao lado da sua categoria e dos trabalhadores. Em praticamente todas as assembleias da ADUA, entidade que foi um dos fundadores, nunca se eximiu de apresentar suas posições. Seu legado, além da sua afetuosidade e humildade, é o exemplo de integridade moral e política. A ele cabe as palavras do poeta: "Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis" (Bertolt Brecht)”, escreveu.
Membros da atual diretoria da ADUA, externaram o pesar com o falecimento do primeiro presidente da instituição. “Desde 1986, quando iniciei a graduação e acompanhava enquanto discente as atividades da ADUA, o professor Osvaldo estava sempre presente e contundente em sua luta e manifestações em defesa da universidade pública, dos serviços públicos em geral. Uma grande perda para nós, para a luta e principalmente para os familiares”, disse a 1ª secretária, Ana Cristina Fernandes Martins.
“O professor Osvaldo é uma parte de nós, das nossas lutas, dos nossos sonhos, das nossas utopias (daqueles que ainda preservam alguma). PROFESSOR OSWALDO, PRESENTE!”, escreveu o 1ª vice-presidente, Luiz Fernando de Souza Santos. A 2ª vice-presidente, Milena Barroso, ressaltou as qualidades do docente, que com sua partida põe de luto a categoria e os militantes da educação. “Tristeza! Tive pouco contato com professor Oswaldo, mas via nele uma referência de resistência, coragem e afeto. A ADUA está de luto!”.
Osvaldo Coelho, Presente! Hoje e Sempre!
Adua – Seção Sindical do ANDES-SN
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