Um levantamento do observatório “De olho nos ruralistas”, divulgado na segunda-feira (27), aponta que, pelo menos, 18 etnias têm registros de indígenas infectados e mortos pelo novo corona vírus. Foram identificados dez óbitos até o fim da semana passada, além de duas mortes suspeitas.
Os povos Kokama e Apurinã, ambos no Amazonas, são os que concentram mais mortes, dois casos por etnia. Os números diferem dos boletins divulgados diariamente pela Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, que não considera os indivíduos que vivem na cidade, o que tem provocado críticas das organizações indígenas e da sociedade civil.
Pela última divulgação da Sesai, em 22 de abril, havia quatro mortes confirmadas, sendo de um Kokama, de um Sateré-Mawé, de um Yanomami e de um Tikuna. Conforme reportagem do “De Olho nos ruralistas”, os números da União deixaram de fora, por exemplo, a morte de Lusia Lobato dos Santos, 87 anos, do povo Borari, na Vila de Alter do Chão, no Pará, que faleceu no dia 19 de março.
Também não entraram nas estatísticas do boletim as mortes de dois irmãos da etnia Apurinã: Adilson Menandes dos Santos, 77, faleceu em Manaus no dia 20 de abril; o irmão, Clevelande, um dia depois.
Ainda segundo o Observatório, os dados da Sesai também não esclarecem quais são os povos atingidos e os municípios onde eles se encontram, o que dificulta o monitoramento e qualquer tipo de auxílio. Os números são disponibilizados de acordo com cada Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), que somam 34 em todo o Brasil.
Segundo o último Censo Demográfico do IBGE, realizado em 2010, havia 896 mil pessoas que se declararam ou se consideraram indígenas no país, sendo 572 mil (63,8%) residentes em áreas rurais.
Dados da Fiocruz
Um monitoramento realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que um terço dos indígenas residem em municípios com alto risco para epidemia de Covid-19. A pesquisa analisa o potencial de exposição de populações indígenas, conforme ocorre a disseminação do SARS-CoV-2 pelo território brasileiro, integrando diversas bases de dados.
Dos 817 mil indígenas considerados nas análises, 279 mil (34,1%) moram em municípios com alto risco para epidemia e 512 mil (62,7%) residem em municípios com baixo risco. Com a interiorização da epidemia, o que é esperado para as próximas semanas, deve ocorrer um expressivo aumento da quantidade de indígenas em alto risco.
Segundo a pesquisa, terras indígenas em municípios com alta probabilidade de introdução de Covid-19 ficam, em sua maioria, próximas de centros urbanos como Manaus, Rio Branco, Porto Velho, Fortaleza, Salvador e capitais do Sul e Sudeste. A população indígena em zona urbana, de 190.767 pessoas, reside majoritariamente em municípios com alto risco para Covid-19. No Centro-Oeste essa população em alto risco corresponde a 67,5% da população indígena urbana da região; no Sul-Sudeste, a 79,4%.
Segundo o médico Andrey Moreira Cardoso, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e do Grupo de Trabalho em Saúde Indígena da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), os povos indígenas têm uma vulnerabilidade maior do ponto de vista epidemiológico. “Há vários estudos internacionais, comparando a situação dos povos indígenas em diferentes regiões do mundo, mostrando que eles estão sempre em desvantagem econômica, social e de saúde em relação a outros grupos nas mesmas localidades, isso é uma realidade também no Brasil”.
Foto: www.vaticannews.va
Fontes: ANDES-SN, De Olho nos Ruralistas e Fiocruz com edição da ADUA-SSind.
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