Data: 21/12/2018
A bandeira anticorrupção foi um dos pilares da campanha que levou Jair Bolsonaro (PSL) a ganhar as eleições este ano, mas o caso do ex-assessor do senador eleito Flavio Bolsonaro, filho do presidente eleito, e vários ministros envolvidos em denúncias de irregularidades levantam graves suspeitas antes mesmo de o governo ter início.
Fabrício Queiroz, ex-motorista de Flávio Bolsonaro, não compareceu na quarta-feira (19) para prestar depoimento no Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro como estava marcado. O ex-assessor está sumido desde que veio à tona o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que aponta que ele teve movimentação financeira suspeita em sua conta em 2016, por onde passou R$ 1,2 milhão.
Além de ter feito um depósito na conta de Michele Bolsonaro, mulher de Jair Bolsonaro, no valor de R$ 24 mil, o relatório demonstra o depósito de vários funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro na conta de Queiroz, coincidentemente sempre nos dias de pagamento da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Os saques eram feitos no dia seguinte. Há casos, de repasse de até 99% dos salários de assessores em forma de depósito na conta do motorista.
O modus operandi demonstra que o assessor seria um “laranja” da família Bolsonaro, ou seja, intermediaria a cobrança de um pedágio dos demais funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro para depois repassar ao então deputado estadual.
Até agora, Bolsonaro ou Flávio deram uma explicação convincente para o caso e Queiroz simplesmente sumiu.
Ministro condenado
Como se não bastasse, o advogado Ricardo Salles, anunciado por Bolsonaro como futuro ministro do Meio Ambiente, foi condenado nesta quarta-feira (19) por improbidade administrativa e teve os direitos políticos suspensos por três anos.
A Justiça considerou que Salles alterou mapas de zoneamento da Área de Proteção Ambiental Várzea do Tietê para beneficiar setores empresariais, especialmente empresas de mineração ligadas à Fiesp.
Salles, ex-secretário estadual do governo Alckmin (PSDB) é conhecido por uma postura contrária à defesa de questões ambientais e a favor de interesses empresariais. Mais de 100 empresários do agronegócio, e de setores como armas e munição, deram dinheiro para a campanha de Ricardo Salles, que concorreu para deputado federal este ano, mas não se elegeu.
Outros casos
Mas não é somente Ricardo Salles enrolado com a Justiça sob denúncias de irregularidades. Pelo menos, outros oitos futuros ministros também são alvos de suspeitas.
Onyx Lorenzoni (Casa Civil)
Conhecido pelo discurso linha-dura contra a corrupção, o homem forte de Bolsonaro admitiu ter recebido caixa 2 da JBS. Ele reconhece ter recebido 100 mil reais para a campanha de deputado em 2014. Os executivos da empresa dizem ter repassado o dobro. Independentemente, o importante mesmo é que Sergio Moro já o perdoou.
Paulo Guedes (Economia)
Guedes é alvo da Operação Greenfield por suspeitas de gestão fraudulenta dos fundos de pensão de empresas estatais. O Ministério Público diz que Guedes auferiu comissões exageradas na administração desses investimentos.
Luiz Henrique Mandetta (Saúde)
É investigado por suposta fraude em licitação, caixa 2 e tráfico de influência. O Ministério Público Estadual apura irregularidades em contratos da implantação de um sistema informatizado na prefeitura de Campo Grande (MS). Mandetta era secretário de Saúde na época.
Tereza Cristina (Agricultura)
É investigada por suposto favorecimento à JBS quando era secretária do agronegócio no Mato Grosso do Sul. Delações de executivos dão conta de que, ela ofereceu benefícios fiscais à empresa no estado. Nessa época, ela mantinha parceria agropecuária com a empresa.
General Heleno (Segurança Institucional)
A nomeação foge à promessa bolsonarista de controle dos gastos públicos. Em 2013, o militar foi condenado pelo TCU por assinar contratos irregulares no valor de R$ 22 milhões de reais. Uma investigação constatou problemas nos acordos – sem licitação – com duas empresas de TI para realização V Jogos Militares no Rio de Janeiro.
Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos)
A ONG Atini, que ela ajudou a fundar, é alvo de duas investigações do Ministério Público por discriminação contra os povos indígenas. Na mais antiga delas, de 2014, os procuradores exigiram o retorno à aldeia de uma adolescente indígena que, segundo o MP, foi entregue a moradores da cidade de Volta Redonda por membros da Atini e de uma outra ONG missionária, a Jocum (Jovens com Uma Missão).
Marcelo Álvaro Antonio (Turismo)
Antonio, cujo nome verdadeiro é Marcelo Henrique Teixeira Dias, consta como sócio da Voicelider, empresa com dívida ativa de 59,9 mil reais no INSS. Curiosamente, o número no CNPJ está errado na declaração que ele prestou ao TSE. O Banco do Brasil também cobra dívidas da empresa na Justiça. Antonio e familiares constam como réus em duas ações de usucapião que tramitam na justiça mineira.
Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia)
Em 2006, o Ministério Público Militar passou a investigá-lo por envolvimento em atividades comerciais – vedado pelo código militar ao oficiais na ativa. Embora tenha negado tudo na época, ele assumiu sociedade majoritária da empresa Portally assim que o processo caducou.
Em meio a esses casos, Sérgio Moro, futuro ministro da Justiça, também ferrenho defensor da luta contra a corrupção, não questionou nada até agora. Declarou apenas que Onyx é de sua extrema confiança.
Foto: Reprodução/Facebook
Fonte: CSP-Conlutas
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