Data: 31/10/2018
“Com quem vamos dialogar? O que dá pra dialogar? Dá para negociar a nossa própria vida?” Mais que respostas, a 1ª vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), Qelli Viviane Dias Rocha, lançou questionamentos ao movimento docente, após fazer análise de conjuntura durante a palestra “Organização Sindical e o Ataque às Universidades Públicas”, nesta quarta-feira (31), no auditório da Seção Sindical do Docentes da Universidade Federal do Amazonas (ADUA-SS).
A atividade faz parte do seminário “Desafios para o Sindicalismo na Conjuntura Atual” promovido pela entidade desde o início desta manhã. Docente sindicalizada da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Mato Grosso (Adufmat), Qelli Viviane avalia como desafiador o momento pelo qual passa o país, com o acirramento das tensões antes e após as eleições presidenciais e o resultado do pleito. “Estamos diante de uma perspectiva extremamente conservadora e pós-moderna em que há a negação das instituições e os sujeitos passam a ser fluidos. Só podemos mudar essa realidade com muita luta!”, argumentou.
A 1ª vice-presidente do ANDES-SN lembra que, até o momento da posse da nova gestão do Sindicato Nacional (2018/2020), o desafio era lutar pela revogação da Emenda Constitucional 95, que congelou por vinte anos os gastos públicos e que impacta decisivamente a vida de milhões de pessoas no Brasil. Mas, com a eleição de uma candidatura de extrema direita, a luta passa a ser pela própria vida. “Hoje temos que lutar pela existência do sindicato, dos trabalhadores e de sua organização”, destacou.
Para ela, o desafio passa a ser como os trabalhadores e suas respectivas categorias pretendem “pensar a construção unitária” diante de um cenário desanimador, em que direitos sociais duramente conquistados passaram a ser vistos, recentemente, “não como direitos, mas como benesses”. “Como é que podemos nos organizar nesse estado de coisas e de emergência?”, questionou.
A dirigente sindical criticou também a “onda de ataques” até mesmo dentro das universidades, espaços genuinamente democráticos e da pluralidade de ideias e de debates. “O neoliberalismo começou a se expressar nas universidades na gestão do governo Fernando Henrique Cardoso e depois com Lula e Dilma, cada vez mais impondo limitações orçamentárias até chegar a situação que temos hoje e aumentando os repasses para instituições privadas de ensino”, criticou.
Quelli também fez autocrítica sobre o espaço universitário, o qual, para ela, deve ser um ambiente que garante acesso a todos, “A universidade não é campo privilegiado para a classe trabalhadora. Pelo contrário: é uma instituição burguesa e elitista. Mas ela também não é uma bolha e está tomada por antagonismos. É preciso resistir e lutar pela liberdade de cátedra neste ambiente”, disse a professora, lembrando de recentes casos em que os docentes têm sido atacados, inclusive, em sala de aula, com o acirramento das tensões em virtude da propagação de discursos de ódio.
A professora citou ainda uma série de medidas que o ANDES-SN vem adotando para combater esses retrocessos expostos nessa conjuntura, entre elas o “franco diálogo com entidades sindicais para o processo de construção da resistência”. “Não dá para pensar o mundo sindical sem pensar as relações de trabalho, cuja flexibilização e precarização têm gerado desigualdades e retirada de direitos. É preciso ter consciência de classe”, finalizou, ao destacar que urge a necessidade de defender a universidade autônoma e democrática, a escola pública e uma educação que se diferencie do que está sendo imposto pelo capital.
Campanha contra o Assédio
Pela manhã, a programação teve início com a palestra “Assédio na Universidade: O que significa e como pode ser enfrentado”, ministrada pela 1ª secretária do ANDES-SN, Caroline Lima. Após o debate sobre a necessidade de combate a essas práticas, a seção sindical lançou a campanha “Não é Não – ADUA contra toda forma de assédio”.
Fonte: ADUA-SS |