Data: 29/10/2018
O professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Luciano Agostini, que havia sofrido ameaça anônima por e-mail no início do mês, voltou a receber intimidações. A mensagem, dessa vez, afirma que “Bolsonaro e sua equipe já estão cientes da doutrinação marxista na UFPel”. O conteúdo da ameaça ainda pontua que “a verba para pesquisa enche-linguiça acabou”. Ainda, diz que “55 milhões de brasileiros são fascistas”.
As ameaças políticas não atingiram somente Agostini. Durante a campanha eleitoral, diversos casos ocorreram pelo Brasil. Nas universidades, mensagens racistas e misóginas foram registradas em banheiros públicos. Na Universidade Federal de Rio Grande (UFRG), por exemplo, foram gravados dizeres como “vai acabar a mamata da universidade pública” e “quando o exército tomar o poder vai acabar essa mamata”, além de suásticas. Já na Universidade de São Paulo (USP), nas residências do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp), também foram estampadas suásticas e dizeres xenófobos como “Volta para a Bolívia”.
Universidades são alvos
Na semana passada, também ocorreram ataques às universidades e seções sindicais, legitimados pela Justiça Eleitoral. Segundo o ANDES-SN, foram pelo menos 18 instituições de ensino e ao menos três sindicatos de docentes atingidos por algum tipo de censura ou coação pela Justiça Eleitoral.
Debates com o tema do fascismo foram proibidos, como no caso da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal de Universidade Federal de Grande Dourados (UFGD). No dia 25, a seção sindical do ANDES-SN em Campina Grande (ADUFCG) sofreu ação da Polícia Federal. Com um mandado de busca e apreensão, os policiais recolheram o panfleto da entidade, intitulado “Manifesto em defesa da democracia e da universidade pública”. Apesar do mandado de busca não mencionar os computadores, a polícia levou os discos-rígidos dos computadores da entidade.
Os mandados de busca e apreensão nas universidades só foram revogados no último sábado (27). A decisão, do Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu “os efeitos de atos judiciais ou administrativos, emanados de autoridade pública que possibilite, determine ou promova o ingresso de agentes públicos em universidades públicas ou privadas, o recolhimento de documentos, a interrupção de aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes universitários, a atividade disciplinar docente e discente e a coleta irregular de depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de ideias e divulgação de pensamento nos ambientes universitários”.
Denúncia a professores
Logo após o fim da apuração do segundo turno das eleições neste domingo (28), a deputada do PSL (mesmo partido do presidente eleito, Jair Bolsonaro), Caroline Campagnolo, publicou em sua rede social um pedido de que alunos filmem aulas de "professores e doutrinadores". Além disso, solicita que denunciem discursos "político-partidários ou ideológicos".
A ADUFPel-SSind manifesta preocupação e repúdio a este tipo de intimidação, ilustrado pelo caso do professor Luciano Agostini. “As ameaças ao trabalho acadêmico não serão toleradas e serão denunciadas”, pontua a presidente da Seção Sindical, Fabiane Tejada.
Fonte: ADUFPel |