Data: 10/10/2018
Menos de uma semana depois do capoeirista Moa do Katendê ter sido assassinado em Salvador (BA) por um eleitor de Jair Bolsonaro (PSL), após ter dito que havia votado no candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad, mais um caso choca pela violência e intolerância. Nesta terça-feira (9), um estudante da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que usava um boné com o nome do Movimento dos Sem Terra (MST), foi atacado por um grupo de homens aos gritos de “Aqui é Bolsonaro”.
Segundo testemunhas, cerca de 15 pessoas, vestidas com a camisa da torcida da Império, do Coritiba, atacaram o jovem aos gritos de “Aqui é Bolsonaro”. “De repente, o rapaz de vermelho levou um soco e quando isso aconteceu todo mundo da torcida começou a quebrar garrafas e ir para cima do cara. Uma covardia”, disse uma estudante, a um jornal local, que não quis se identificar .
De acordo com outra testemunha, as agressões não foram piores, pois os estudantes que estavam no local interviram, e ajudaram o homem. “Começou um barulho, a galera se estranhou e aí os caras começaram a ir pra cima dele, a bater nele. De repente, pegaram garrafa de bebida e começaram a tacar nele. A multidão se juntou e protegeu, ate umas meninas ajudaram a ficar na frente”, relatou.
Na ação, alguns vidros da Biblioteca Central da Reitoria foram quebrados. A Polícia Militar foi chamada para atender a ocorrência, mas não encontrou os agressores quando chegou ao local.
Onda de violência
Outros casos de violência com cunho político ocorreram nos últimos dias. No último domingo (7), uma jornalista de Recife (PE) prestou queixa na polícia informando ter sido atacada por homens ao sair do colégio onde havia votado. Depois de terem visto seu crachá, os indivíduos – um deles com uma camiseta de Bolsonaro - chamaram-na de “riquinha de esquerda”, agrediram-na e ameaçaram estuprá-la, segundo ela. Quando um carro passou buzinando, os criminosos fugiram do local e a jornalista foi às autoridades. O caso foi relatado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que registrou 137 episódios de agressão de profissionais da comunicação ao longo de 2018 “em contexto político, partidário e eleitoral”.
Relatos de pessoas LGBTs também começam a se propagar pelas redes sociais e na imprensa. Um matéria no portal de notícias UOL traz depoimentos, como da designer de animação Larissa que contou que ao entrar no metrô em SP, um dia depois da eleição, um homem parou na sua frente e gritou, apontando o dedo. “‘Lésbica imunda, sua raça vai acabar, vocês vão morrer’. Travei. Ainda eram 8h40, olhei para a cara dele, que terminou: ‘Bolsonaro presidente’. Algumas pessoas se aproximaram e começaram a questioná-lo, e ele foi embora. Ataques assim são comuns para nós LGBTs, mas, nos últimos dias, está pior.”
Outro caso ocorrido foi com a irmã da vereadora executada no Rio de Janeiro, Marielle Franco. Em sua rede social, ela contou que andava perto de um shopping com sua filha de dois anos no colo, quando homens vestidos com a camiseta de Bolsonaro começaram a chama-la de “piranha”, “esquerda de merda” e “sai daí feminista”.
Conhecido por declarações preconceituosas contra mulheres, negros e LGBTS, por simular com as mãos constantemente o uso de armas contra opositores e por defender a ditadura militar e a tortura, especialistas avaliam que o discurso de ódio e intolerância de Bolsonaro legitima e estimula setores extremistas a tais atitudes.
Contudo, questionado pela imprensa sobre o assassinato de Moa do Katendê e episódios de violência envolvendo seus eleitores, Bolsonaro alegou que lamentava, mas que “não tinha nada a ver com isso”. Que ele havia levado uma facada, e que, portanto, que a violência vinha do “outro lado”.
A resposta tem sido criticada. Para o doutor em Direito Henrique Abel, a resposta de Bolsonaro às agressões foi insuficiente e “mostra um desinteresse da parte dele em orientar seus seguidores”. Algo que, em sua opinião, seria muito fácil fazer. Bastaria “estabelecer uma diretriz, que teria um impacto psicológico muito importante” entre seus eleitores mais radicalizados, disse ao jornal El País.
“Ele prefere sair com uma evasiva. Então, sim, há uma responsabilidade. Não diretamente, mas ele é considerado um símbolo e legitima práticas e condutas ilícitas ou abertamente criminosas, como dizer que ele iria ‘fuzilar a petralhada’ do Acre”. E acrescentou: “Mesmo que em um eventual governo ele não chegue a dar uma ordem de matar ou torturar alguém, o simples fato de simbolicamente legitimar essas práticas representa, aos olhos de quem será governado por ele, uma interpretação de que passam a ser permitidas. E de que não há nada de errado com elas”.
Fonte: CSP-Conlutas |