Data: 20/08/2018
Vídeos e fotos que circulam nas redes sociais e têm sido divulgados pela imprensa desde o último sábado (18) mostram a gravidade do conflito ocorrido em Pacaraima, cidade brasileira no estado de Roraima, que faz fronteira com a Venezuela. São imagens fortes que mostram até que ponto a xenofobia, caracterizada pelo ódio e preconceito contra migrantes, pode ir.
Grupos de moradores de Pacaraima atacaram com paus, pedras e bombas caseiras centenas de famílias venezuelanas, inclusive mulheres e crianças, que estavam acampadas na cidade. Os refugiados tiveram barracas incendiadas e foram expulsos até o limite da fronteira.
O conflito teve início após uma manifestação convocada contra um assalto sofrido por um comerciante da cidade, supostamente realizado por venezuelanos. Ninguém foi preso ou realmente identificado, mas parte das pessoas que participou do ato, após a dispersão, saiu em bando para atacar e expulsar venezuelanos que estão instalados em barracas de forma precária pelas ruas da pequena cidade.
Segundo divulgado pela imprensa, as forças de segurança locais e o Exército assistiram praticamente todo o episódio sem realizar qualquer intervenção. Apenas quando já estariam próximo à fronteira, fizeram um cordão de isolamento para evitar que os refugiados fossem linchados. Já na fronteira, venezuelanos responderam depredando veículos no local.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Yineth Manzol (26), mãe de três filhas de 7 anos, 5 anos e 10 meses, contou: “agarravam os meninos e os agrediam. Batiam nos pais. Atiravam pedras e telhas. Batiam na cabeça. Pegaram nossa comida e nos expulsaram como se fôssemos cachorros”.
Responsabilidade é de governos
Não é o primeiro conflito movido pela xenofobia (ódio e preconceito) em Roraima. Desta vez, não se teve notícia de nenhuma morte, mas isso não é impossível.
Em junho, a CSP-Conlutas enviou uma delegação para Roraima em caravana de solidariedade aos refugiados e migrantes venezuelanos. O entendimento da Central é de que o direito de migrar é universal e que nenhum ser humano é ilegal e que é dever do Brasil, signatário de vários tratados internacionais que reconhecem esse direito, garantir a segurança e os direitos dos migrantes no país.
A caravana visitou as cidades de Boa Vista, Pacaraima, Mucajaí e Amajari e na viagem já pôde verificar a tensão existente principalmente na fronteira e, principalmente, que a xenofobia é estimulada pelos governos locais e por parte da imprensa.
“Há uma disputa entre o governo de Roraima, prefeituras e governo federal para controlar o dinheiro destinado à ajuda humanitária aos venezuelanos, que tem sido usado de forma nada transparente e não tem sido usado efetivamente para resolver a crise migratória. E para piorar o que vemos é a xenofobia ser estimulada por autoridades, ao invés de resolverem os problemas”, denuncia o integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Atnágoras Lopes, que participou da Caravana a Roraima.
“A crise humanitária em todo o mundo fruto de fluxos migratórios é uma triste realidade nos dias atuais. Vemos isso ocorrer na Europa, mas quando acontece aqui no Brasil, também é preciso se indignar. Situações como essa são inadmissíveis”, afirma Atnágoras.
“A CSP-Conlutas reafirma todo repúdio a esse ataque e responsabilizamos os governos por esse absurdo. Além disso, a solução não é a resposta militarizada que o governo Temer está apontando, com o envio de tropas para Roraima. Temer, a governadora Suely Campos e prefeitos são responsáveis e precisam garantir medidas que resolvam a situação e não agravem o conflito entre brasileiros e venezuelanos”, cobrou o dirigente.
Fonte: CSP-Conlutas
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