Data: 04/06/2018
A escolha particular das cores, traços, movimentos, palavras... A revelação do pensamento feminino através da arte. Artistas de Manaus garantem ter mais espaço para expor suas percepções, mas ressaltam a necessidade de manter a luta para alcançar, por exemplo, cargos de comando ainda ocupados por homens. São as novas Fridas (Kahlo), Tomies (Ohtake), Camilles (Claudel), Ednelzas (Sahdo), Tarsilas (do Amaral) e Marinas (Abramovi?) unindo-se para tomar o espaço que lhes é de direito.
Envolvida com pintura experimental, fotografia e performance, Caroene Silva, 23, faz coro a denúncia da dominação masculina em chefias na cena local, como nas curadorias. “Hoje os espaços estão abertos para as mulheres sim, mas sempre há homens mandando, poucos são os espaços comandados por mulheres e que, sem dúvida, abrem sim as portas para outras”, disse a finalista do curso de Artes Visuais da Ufam.
A artista Stephanie Belém confirma uma maior abertura com a ressalva que a causa não está ganha e demanda mais união. “As coisas estão mudando, não é algo para ser considerado igualitário (...) Precisamos nos unir, produzir, escrever, criar e se não derem espaço, gritaremos por espaço assim como diversas artistas vêm fazendo há anos”, diz ela, que imprime sua criatividade em trabalhos de pintura, xilogravura e serigrafia.
A união é o ponto crucial, segundo a veterana Cléia Alves. “O maior problema que vejo e sinto na pele é a disputa de espaço pelas próprias mulheres, umas com as outras. Essa disputa por estar em locais é um entrave e uma mazela do capitalismo (...) fazendo com que isso nos enfraqueça no sentido de lutarmos por mais direitos e por melhorias”, analisa a professora de dança, pedagoga, produtora cultural, batuqueira e cantora.
Mudando a História
Essa recusa em incorporar o papel de coadjuvante na arte tem estimulado a movimentação de artistas pelo mundo. O Guerrilla Girls é citado por Caroene como um reflexo dessa onda. Nascido na década de 1980 em Nova York (EUA), o grupo de ativistas realiza manifestações usando máscaras de gorila (forma divertida e de garantia de anonimato) para denunciar a discriminação de gênero na arte. “Acredito que para as mulheres da classe artística espalharem suas artes precisam ficar cada vez mais unidas pegar suas artes e ir para ruas, fazer da rua sua galeria”, afirma.
Cléia defende a organização das artistas em coletivos, grupos e associações mirando o fortalecimento da classe e o desenvolvimento artístico. “Percebo que cada vez mais uma artista tem que estar junta com outras e dessa forma cada uma dividindo as tarefas de conseguir apoio, fomento, produção, pesquisa, criação e divulgação da sua arte, dessa forma os ganhos são maiores”, analisa a artista.
“Deixar as mulheres se traduzirem em arte”. É dessa forma que Belém define a causa desse combate encampado pelas artistas. “Por muito tempo os homens fizeram isso sozinhos e seus nomes dominam a História da Arte e da cultura, para sermos vistas é necessário ocupar todo e qualquer lugar que quisermos, e não só ocupar, transgredir os limites que tentarem impor, para assim descobrir nosso próprio jeito de falar”, resume.
Fonte: ADUA
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