"Num cenário paradisíaco proibido, onde o apoio a arte é escasso ou nunca foi visto”. É com o trecho de ‘Impávido’, do rapper manauara Victor Xamã, que o aluno de Direito, Vinicius Amadis, o Cabeludo, explica a cena em Manaus do rap. Amadis foi o campeão da 1ª Batalha da Biblioteca, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), organizada pela Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (Anel) com apoio da Faculdade de Artes (Faartes). Fazendo jus ao nome, a batalha de rap premiou o vencedor com os livros doados pelos próprios competidores.
“Infelizmente, hoje, o rap aqui na cidade é como disse Victor Xamã (...). Os incentivos são poucos e viver disso é bem mais difícil”, comentou Amadis. Para o estudante, a Batalha da Biblioteca abriu portas para cultura hip hop entrar na universidade pública e trouxe, segundo ele, a essência de um evento até então inédito na cidade.
Proposta
As rodinhas de batalhas informais pela Ufam serviram de inspiração para a produção da batalha. A disputa aconteceu no Centro de Convivência da universidade, na tarde do dia 25 de outubro. “É a primeira vez de um evento de rap na Ufam. A cultura da periferia adentra os muros da universidade. A periferia que rima, que constrói essa cultura do rap”, disse o estudante do curso de Sistemas de Informação, Julio Calazanz, que dividiu a organização do evento com Luiz André (Economia) e Diogo França (História).
Nesta primeira edição, a Batalha da Biblioteca contou com a participação de 12 competidores, principalmente das zonas Leste e Norte da cidade, e foi aberta ao público em geral. Em um casamento perfeito com o local, o estilo de batalha escolhido foi a do ‘conhecimento’ ao invés da de sangue, que privilegia a troca de ofensas. A doação de um livro para cada um dos competidores resultou na “biblioteca” como prêmio final, que tinha títulos como O Livro Vermelho (Mao Tse Tung); A Política (Aristóteles) e Budapeste (Chico Buarque).
No movimento hip hop há cinco anos e com reconhecimento desde 2015 com o lançamento do álbum Janela, Victor Xamã vê como válida a aposta no estilo escolhido. “As pessoas têm investido na batalha de sangue, difamando o seu oponente, não tenho nada contra, mas acho que tinha como explorar outros tipos de batalha, dava pra fazer slam de poesia [competição em que poetas recitam seus trabalhos], sarau, explorar outras opções que trazem a poesia e o ritmo”, comentou. A proposta também foi bem avaliada por Amadis. “O fato de ser uma batalha de conhecimento já torna o próprio evento diferenciado, e, até dá uma caracterização nova pois agora temos um evento que condiz com o local em que acontece. Acredito também que tenha sido importante para fazer com que as pessoas que nunca tiveram a oportunidade de conhecer, pudessem”, disse.
Sobre a abertura de locais para desenvolvimento desta cultura na cidade, Xamã diz que quase nada mudou. “Em relação aos espaços continuam sendo como era antes, não tem apoio do governo, os espaços são um pouco limitados, investimento também, o som não é dos melhores, acho que isso vai amadurecendo com o tempo”, disse. Apesar da aprovação do evento, ainda não há previsão, segundo Calazanz, para realização da 2ª edição. A torcida é para que as portas da universidade continuem abertas para o ritmo e a poesia.
Fonte: ADUA |