Seminário do ANDES-SN discute Revolução Russa e reorganização dos trabalhadores
Data: 10/11/2017
A expropriação de direitos sociais, trabalhistas, dos recursos naturais, com a monopolização da terra e da água, por exemplo, em uma análise da conjuntura que levou à Revolução Russa e da atual situação da classe trabalhadora, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, foram detalhadas pela historiadora Virgínia Fontes, professora aposentada da Universidade Federal Fluminense (UFF), durante o Seminário "100 anos da Revolução Russa e a (re)organização da classe trabalhadora no Brasil", realizado ontem (9), pelo ANDES-SN, no auditório do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), no centro da cidade do Rio de Janeiro.
A docente palestrou, pela manhã, na primeira mesa do seminário, sobre o tema “Crise capitalista mundial e os rebatimentos para a classe trabalhadora”. Em sua reflexão, ela ressaltou o processo de monopolização de determinados bens expropriados, com o objetivo de mercantilizá-los. Virgínia abordou também os processos cíclicos de crise do Capital e os mecanismos da burguesia capitalista para se recompor e reinventar, no processo histórico, como a criação das associações e representações dos setores econômicos, como o Sistema S (Sesi, Senac, Sebrae), a Fiesp, de fundações como a Pensar, a Educação Para Todos, a Roberto Marinho, e o fortalecimento das instituições de terceiro setor como independentes do sistema e da lógica capitalista de exploração.
A historiadora destacou que é fundamental que o processo de construção das lutas leve em consideração as questões de gênero, sexualidade e raça, pois essas não são irrelevantes. “Se todos perdem direitos, alguns perdem mais. E há alguns que nem tiveram direitos. Por que, então, vão se solidarizar com aqueles que estão perdendo?”, disse, para demonstrar que o Estado brasileiro promove um processo de dessolidarização geracional.
Para Virgínia, a própria estrutura, a forma de fazer do processo de trabalho, é impeditiva para a solidariedade de classe. “Qual a solidariedade que se espera dos jovens trabalhadores com os mais velhos, se os jovens não terão direito algum?”, questionou. Ela apontou o chamado processo de uberização da classe trabalhadora, que cria uma grande massa assalariada sem contrato, sem direitos trabalhistas e garantias sociais, e provocou: “Como os sindicatos pensam essa composição da classe trabalhadora em sua base. Como o ANDES-SN pensa isso em relação à precarização de contrato dos docentes?”.
Virgínia destacou ainda as diferenças internas nos direitos entre os próprios servidores públicos, por exemplo, servidores federais e estaduais e municipais, e ainda entre o funcionalismo concursado e aqueles terceirizados. “É com a nossa fragilidade que a direita nos ataca. E qual é o nosso plano? Essa saída tem que ser construída na luta. A gente quer direitos universais. Mas, se quisermos direitos universais, teremos que arrebentar com direitos individuais da burguesia, ou seja, com parte dos nossos próprios direitos”, disse, acrescentando que “as diferenças de classe nos atravessam. E nós vamos ter que lidar com elas, enfrentando-as, pois acredito que estamos falando a mesma língua do restante da classe trabalhadora”.
A docente ainda falou da relação com o campo, a terra e os processos de interação com a natureza. Ela classificou como ruptura sociometabólica brutal a separação entre o campo e a cidade provocada pelo capitalismo. E disse ser necessário acabar com esse processo. Da mesma forma, afirmou que “retirar a ciência das mãos do Capital é salvar a humanidade de um desastre que ainda não temos dimensão”. Em sua conclusão, Virgínia reforçou ser fundamental que a análise da organização das lutas parta dos quatro pontos abordados – Capital e Trabalho, extração de valor, organização e luta e Estado – para que se possa dialogar com a classe trabalhadora sobre as relações sociais. “Nossas tarefas são as relações sociais da realidade concreta, na relação Capital e Trabalho”, acrescentou. Segundo a historiadora, a explicação tem que incorporar o que está acontecendo nesse conjunto de lutas e contradições – que é gigantesco. “Nossa maneira de pensar tem que estar claríssima para a classe. Não basta atacar, temos que entender por que aquilo aconteceu”, concluiu.
Revolução Russa
A segunda mesa do seminário aconteceu no período da tarde e abordou os “100 anos da Revolução Russa, 50 anos do assassinato do Che e as perspectivas do socialismo na atualidade”. Foram convidados a falar sobre a temática com os palestrantes Alícia Sagranichiny, representando a LIT-QI, Mauro Iasi, pelo PCB, Felipe Demier, docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e Douglas Diniz, pela Luta Socialista/Psol.
Mauro Iasi fez um resgate histórico do processo que levou à Revolução Russa e dos parâmetros que direcionaram a organização da luta dos trabalhadores naquele momento, fazendo referência à Marx e Engels. “A Revolução Russa é a comprovação de que existe uma teoria marxista de Estado e que o Estado burguês deveria ser aniquilado pelo processo revolucionário, e não pode ser utilizado como instrumento da revolução”, refletiu. Segundo ele, é necessária a compreensão atual de que o Estado burguês não pode ser definido por uma correlação de forças e usado como instrumento da luta dos trabalhadores. Além disso, é importante reforçar que o processo revolucionário é algo criado, tático e consciente, que pressupõe uma organização.
Iasi apontou ainda que a direita “ataca essa experiência como se ela fosse sem sentido e fora de lugar. É uma revolução que inaugura o século 20 com temas que até hoje não resolvemos, como o avanço nos direitos das mulheres, direitos dos trabalhadores, o controle da produção pelos trabalhadores nas fábricas e no campo. A importância que seus princípios nos alicerçam para pensar uma alternativa revolucionária e socialista”, concluiu.
De acordo com Alícia Sagranichiny, para garantir a paz, o pão e a terra, bandeiras que já estavam presentes na Revolução de Fevereiro, que antecedeu a Revolução Russa, os trabalhadores entenderam que teriam que derrubar o governo provisório, mesmo que fosse democrático, pois eram eles – o proletariado - quem deveriam tomar o poder. “Havia a necessidade de destruir o Estado burguês e construir outro Estado, acabar com o poder econômico e político da burguesia e planificar a economia, a serviço da população e não dos empresários”, contou. Ela apontou o desenvolvimento do país após a revolução, com o aumento expressivo no número de escolas, bibliotecas, e o fim do analfabetismo e do desemprego.
Alícia afirma que, ao longo do último século, houve uma contrarrevolução, com uma mudança de postura política. Passou-se do que era nenhuma confiança no Estado burguês e o povo no poder, para uma aliança com o Estado burguês. “Essa concepção ainda está na esquerda mundial”, completou.
Para Felipe Demier, se construiu ao longo dos últimos cem anos a crença de que a democracia burguesa é a melhor e única forma aceitável de organização. Segundo ele, os liberais de hoje usam o argumento de que a revolução foi um processo ditatorial, pois tirou do poder o governo provisório, o qual não atendeu aos anseios dos trabalhadores e nem mesmo às bandeiras hoje defendidas pelos liberais democráticos. “Aqueles que, em 1917, em tese seriam, na cabeça dos liberais de hoje, a representação da democracia – que tiveram poder em mãos de fevereiro a outubro - fizeram muito pouco pela democracia liberal. Os liberais de hoje são muito mais liberais democráticos do que seus antepassados, em 1917”, explicou.
O docente atacou a perspectiva liberal que olha a revolução com base na tese do continuísmo, de que os russos eram vítimas de um governo ditatorial e que o Stalinismo seria uma consequência natural e uma continuidade lógica do governo bolchevique. Ele concluiu refletindo que “quanto mais os direitos sociais são retirados, tudo sobre a Terra se torna objeto de lucro por parte do Capital”.
Douglas Diniz fez um balanço das lutas do último período e avaliou que a retirada de direitos no mundo tem levado os trabalhadores às ruas e citou exemplo da França, México, Chile, além do Brasil. “Essa situação social tem levado batalhões inteiros da classe trabalhadora a lutar contra essa política. Vivemos uma época de guerras e revoluções e precisamos discutir com os trabalhadores como enfrentar essa barbárie”. Para ele, é preciso resolver a crise política e sindical e de direção da classe trabalhadora.
Avaliação
Para Amauri Fragoso de Medeiros, 1º tesoureiro e encarregado de Relações Sindicais do ANDES-SN, o seminário atingiu seus objetivos no sentido de possibilitar ter, como vetor orientador do processo de leitura da realidade, o exemplo da Revolução Russa para que “possamos transferir as experiências do passado e fazer com elas contribuam para a luta que vem a seguir”. Segundo ele, o debate provocado por Virgínia Fontes possibilitou ampliar a análise sobre a correlação de forças entre o Trabalho e o Capital, a partir dos aspectos não só dos ataques, mas da própria organização do Capital em outros setores da sociedade. “Isso vai contribuir bastante para que a gente possa elaborar uma análise de conjuntura para o Congresso do ANDES-SN que dê conta das lutas do período”, avaliou.
Conforme Amauri, a mesa da tarde também foi muito rica e pedagógica. “Nos mostrou a importância que se tem compreender o que se passou no passado, nesse processo de construção do futuro”, disse. Ele ponderou que embora as leituras apresentadas sejam diferenciadas o importante do debate é apontar para o processo de construção da unidade. “Tem que se ter muito cuidado para que essa leitura de fazer antecipações de um programa de ação de uma revolução futura, não nos distraia da luta do cotidiano, como já dizia Lenin”, refletiu, avaliando o seminário como vitorioso e revigorante para o enfrentamento da dura conjuntura posta. Calendário de lutas
Nesta sexta-feira (10), docentes de todo o país se unem aos trabalhadores das demais categorias para a realização de mais um Dia Nacional de Lutas, Paralisação e Greve. A data foi incluída no calendário de lutas da CSP-Conlutas, do Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) e do ANDES-SN. No dia seguinte (11), acontece a reunião de reorganização da classe trabalhadora, com a participação de representantes de diversas entidades sindicais, movimentos sociais e populares.
Confira abaixo a programação:
11 de novembro – (Re)organização da classe trabalhadora
Local: Escola de Serviço Social da UFRJ - Campus Praia Vermelha
9h às 12h: “Reunião nacional de entidades classistas, movimentos sociais e estudantis” para debater a reorganização da classe.
1ª Mesa: Partidos e organizações políticas.
Entidades Convidadas: PSTU; Nova Organização Socialista (NOS); Movimento de Esquerda Socialista (MES); Movimento por uma Alternativa independente e Socialista (MAIS); PCB.
14h às 17h: “Reunião nacional de entidades classistas, movimentos sociais e estudantis” para debater a reorganização da classe.
2ª Mesa: Movimentos Sociais, estudantil e Centrais Sindicais.
Entidades Convidadas: Intersindical- Central Sindical; Oposição de Esquerda da UNE; CSP-Conlutas; MTST; ANEL.
17h às 19h: Sistematização de propostas e encaminhamentos.
Fonte: ANDES-SN
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