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  18/12/2019


Indígenas viram alvo de facções em ocupações de Manaus



 

 

Humberto Peixoto de 37 foi o sétimo indígena morto em ocupações de terra em Manaus em 2019. Segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), das 7 mortes, 4 eram de lideranças indígenas.  Conforme as ocupações irregulares cresceram na capital, a criminalidade também atinge minorias que tentam sobreviver em meio à violência.

 

 

Manaus tem sido marcada por ocupações irregulares nos últimos anos, com a chegada de facções que controlam o tráfico de drogas na periferia da cidade, o número de indígenas assassinados também cresceu. No último dia 2 de dezembro, Humberto Peixoto, de 37 anos, faleceu após ser espancado dentro da ocupação que vivia. Segundo a Arquidiocese de Manaus, Humberto trabalhava na Cáritas Arquidiocesana e assessorava a Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro. Nunca houve qualquer relato de envolvimento dele com drogas ou crime.

 

 

Turí Sateré, coordenador da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), afirmou que em Manaus residem pelo menos 20 mil indígenas, e explicações estão sendo buscadas. "Na verdade, a gente ainda não tem muito entendimento do motivo dessas mortes, mas estamos pressionando o poder público pelas explicações", declarou.

 

 

“Cemitério dos Índios”

 

 

Três dos indígenas mortos em 2019 eram integrantes da ocupação chamada "Cemitério dos Índios." O sítio arquealógico fica no bairro Nova Cidade, zona norte de Manaus. Indígenas ocuparam o local em fevereiro de 2018, onde alegam que descansam seus ancestrais. Segundo relatos dos familiares, as mortes ocorreram porque as lideranças se recusaram a atender ordens de traficantes. Uma das mortes ocorreu em 13 de junho. A vítima foi o cacique da etnia Mura, Willame Machado Alencar, 42 anos.


"Preconceito judicial"

 

 

As lideranças reclamam que sofrem também com preconceito nos tribunais. Eles afirmam que os povos indígenas estão sendo "criminalizados, processados e humilhados", e que acusados  de comandar invasão a mando da facção. O cacique José Augusto, da comunidade Nações Indígenas, em Manaus, comentou sobre o preconceito institucional contra os índios. "O Poder Judiciário tem agido de uma forma discriminatória, prejudicando a ação da das lideranças indígenas no estado, tirando direito dos verdadeiros povos daqui, que somos nós", relatou.

 

 

Busca por melhores condições

 

 

Felipe Jucá, mestre em antropologia social pela Universidade Federal do amazonas (Ufam) e pesquisador do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, comentou a situação. “Muitos indígenas deixam o interior e migram para capital por conta do esquecimento do poder público a que são impostos. Em Manaus há algumas ocupações conhecidas por serem articuladas por lideranças e habitadas por indígenas, que vêm do interior e não encontram condições de moradia na capital", declarou. "Com a ausência de políticas públicas de moradia, essa população acaba em áreas de periferia que são mais expostas à violência urbana", complementou Felipe.

 

 

Em meio a uma dura realidade de periferia, com a convivência de falta e serviços públicos, os indígenas estão mais vulneráveis. "O estado tem sacrificado direitos sociais, e a não inclusão dos indígenas. Nesse cenário, acredito que um indígena esteja mais vulnerável que eu, por exemplo, embora estejamos na mesma cidade", explico Felipe.

 

 

Fonte: ANDES-SN com edição da ADUA-SSind



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