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Seminário do ANDES debate universidade, transexualidade, feminismo e mulheres negras



Data: 24/08/2017


“As instituições de ensino ainda não estão preparadas para receber, incluir e formar essa parcela da sociedade”. A afirmação é da dirigente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Adriana Sales, que participou do 3º Seminário Nacional de Mulheres, nesta quinta-feira (24), em Pelotas (RS), que debateu também a questão do feminismo e as mulheres negras. O evento faz parte do Seminário Nacional Integrado do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe, Questões Étnico-raciais, Gênero e Diversidade Sexual (GTPCGEDS), do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN).

Apesar de 200 pessoas trans tenham efetuado inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a efetiva ocupação de espaços de conhecimento por travestis e transexuais depende de uma atitude política, segundo Sales. “Não nos sentimos contempladas por uma academia que tenta falar pela gente. A escola e a universidade brasileira não dão conta da diversidade. Esses espaços ainda são para brancos, machos, burgueses, e não para a maioria da população brasileira”, avalia Sales.

Para a representante da Antra, é preciso firmar a universidade como lugar de produção de conhecimento calcado nas demandas sociais. “A universidade se quer reconhece a nossa existência trans. Temos de pensar para quem produzimos ciência e qual projeto de sociedade queremos”. Um exemplo é a falta de disciplinas que discutam gênero e sexualidade, uma vez que poucos cursos de graduação, no Brasil, têm grades curriculares que contemplam estes assuntos. E, segundo Sales, mesmo quando o debate está presente, há a preponderância de concepções feministas que não reconhecem travestis e transexuais como mulheres.

Defendendo um feminismo que agregue ao invés de dividir, Adriana Sales lança uma reflexão sobre a situação social reservada às travestis e trans. “Eu não represento 1% da minha população, pois sou branca, tenho uma família ‘estruturada’, estou na universidade. A maioria está repousando agora para ir às ruas de noite”, diz, referindo-se à prostituição como uma das únicas maneiras, para muitos travestis e transexuais, de sobrevivência, uma vez que o setor privado dificilmente as emprega. Quando mesmo atos banais do cotidiano, como o acesso a banheiros, é vetado, ela diz ser necessário, muitas vezes, fazer barulho e resistir.

Vênus de Milo

Jornais nas primeiras décadas do século 20 atestavam que o modelo universal de beleza feminina contempla cabelos loiros, olhos azuis e altura em torno de 1,70 metro. Seriam essas mulheres as ‘Vênus de Milos’, também consideradas, em textos da época, as melhores mães. Não é de se espantar, então, que, enquanto o movimento feminista branco mobilizava-se por direitos como o de votar ou de receber herança, as mulheres negras gritavam por algo anterior: o direito a serem reconhecidas como seres humanos e como mulheres.

A professora da rede estadual da Bahia e militante do movimento feminista negro na Bahia, Meire Reis, trouxe essas provocações, no 3º Seminário Nacional de Mulheres, para lembrar o quão esquecidas pelo próprio movimento feminista foram as mulheres negras. Dessa forma, “mulher” não é categoria universal, uma vez que ainda há um abismo racial. “Aquela feminista que diz ‘precisamos lutar por melhores qualidades de vida’, não incorpora as mulheres negras que estão sobrevivendo em condições nas quais em que nem suas condições básicas de vida estão garantidas. Muitas vezes, universalizar desconhece os contextos e a realidade. A classe nos unifica, mas o gênero e a raça ainda nos dividem”, disse.

Ao mesmo tempo, há um respiro de esperança. Motivadora do empoderamento crespo na Bahia, Reis conta que tem visto que 80%, 90% e até 100% de alunas adolescentes não mais alisam os cabelos. Esse fenômeno, diz ela, era raro há 10 ou 15 anos. “Quando as mulheres negras avançam, toda a sociedade avança. Não existe um único momento do meu dia em que eu não esteja lutando contra o racismo. Nós estamos disputando poder e essa disputa é desigual”, disse a professora.

Seminário Integrado


O 3º Seminário Nacional de Mulheres faz parte do Seminário Integrado do GTPCEGDS, realizado de 24 a 27 deste mês. Nesta sexta-feira, ocorre o 2º Seminário de Diversidade Sexual, que traz a mesa ‘Políticas Públicas para a população LGBT e o combate a LGBTfobia nas Instituições de Ensino Superior’. No sábado (26), acontecerá o 2º Seminário de Reparação e Ações Afirmativas, com o debate ‘Por uma universidade pública e plural: a luta por direitos para a população negra, indígena e quilombola’.

O objetivo do evento é reconhecer e ‘descamuflar’ as opressões, tanto na sociedade quanto no movimento sindical, para introduzir e enraizar esse debate no cotidiano dos docentes e fazer o combate às diferentes opressões, que recaem sobre a classe trabalhadora. “É importante que nós, sindicalistas, nos desafiemos nesse debate. Não pode existir hierarquia entre debates. É necessário que haja intersecção para a emancipação da classe trabalhadora. Pois não é possível a emancipação das mulheres, dos negros, das negras e LGBTS sem a superação do Capital”, disse a presidente do ANDES-SN, Eblin Farage.

Fonte: ANDES com edição da ADUA



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