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Entrevista: Marina Pinto aposta no trabalho coletivo



Professora Marina Pinto, em manifestação no Ministério do Trabalho


A presidente eleita do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) assume a direção do Sindicato pela segunda vez. Em comparação com a sua gestão, de 2004-2006, Marina afirma que a atração da globalização pela competitividade é um desafio novo que a nova diretoria espera enfrentar, certamente com muita dificuldade.

Ao Jornal da Adua, ela explica como pretende tomar frente de uma organização tendo em vista o processo de desmobilização da base. Ela aponta também quais são as palavras essenciais para enfrentar o desafio de conciliar os papéis de professora, militante e mãe. Abaixo, confira entrevista na íntegra.

A senhora já foi presidente do Andes-SN. Há desafios que permanecem? Quais os novos?

Os desafios são constantes. Em determinadas circunstâncias afloram com mais ênfase. Desde que o Andes-SN foi criado, quando ainda não era sindicato e se chamava a Andes, nossa luta tem sido pela educação pública e gratuita, direito de todos e dever do Estado, aí incluída a sustentação de uma universidade que seja autônoma, democrática e de qualidade socialmente referenciada. O que se observa é que houve um crescimento desmesurado da iniciativa privada, ou seja, do interesse mercadológico na condução da política educacional brasileira.

Ademais, o governo, longe de expandir a universidade pública de qualidade, age no sentido de colocá-la como dependente do mercado e ameaça com mudanças que tendem a aviltar o tripé que é a base da universidade – ensino, pesquisa e extensão, por exemplo, no regime de dedicação exclusiva. A expansão de vagas tem sido feita nas universidades públicas, porém sem as necessárias condições para essa expansão, tanto no que se refere ao quadro de professores quanto à perenidade de verbas que a garantam. São desafios, portanto, de grande magnitude porque dizem respeito à entidade fundamental para o desenvolvimento da sociedade que é a universidade.

Quanto às novidades, quero reafirmar que não é de hoje que há uma luta de projetos neste país. O que surge são nuances determinadas pela conjuntura. Neste momento, quer-se fazer predominar a cultura do indivíduo acima da comunidade, do mérito e da competição como elementos superiores na elaboração científica e, finalmente, da quantidade sobre a qualidade.

Em tudo por tudo, essa atração da globalização esconde um resultado, que não é anunciado previamente, isto é, a mediocrização da cultura, do saber, portanto a submissão que escraviza e leva à esterilização. Não é isto que queremos e vamos lutar para que a universidade se mantenha viva e na linha de frente da construção de caminhos autônomos para todos brasileiros.

Notamos a pouca participação de base da categoria na vida sindical. O que estaria favorecendo essa baixa participação? Que caminhos seguir para superar esse “nó” na ação do sindicato, já que sem a participação o sindicato fica bastante fragilizado?

Tenho sempre afirmado que a Diretoria é uma instância executiva, mas que não caminha sozinha. As decisões têm como base as deliberações das instâncias do Andes-SN. Nos locais de trabalho cabe à Assembleia; nacionalmente, essas decisões cabem ao Conad, instância intermediária, e ao Congresso Nacional do sindicato que toma as decisões como instância superior, gerando as Políticas Sociais e organizando o Plano de Lutas para execução no decurso do ano.

No 29º Congresso, realizado em Belém (PA), foram aprovados os eixos da luta para este ano. Sinteticamente, são os seguintes: a valorização do trabalho docente nas universidades, contra todas as formas de sua precarização; a luta em defesa de uma universidade pública, estruturada com base no princípio constitucional de autonomia; ações contra as tentativas de subordinação do sindicato a diretrizes que emanam dos governos; e contribuição ativa e decisiva, no âmbito da Conlutas, no processo de unificação e construção de uma nova central, classista, sindical e popular. Justamente o primeiro desses pontos diz respeito a essa preocupação.

Esse é, pois, o nosso referencial. Para tanto, é necessário aprofundar o diálogo com todos os professores e demonstrar que o isolamento, portanto, o descolamento de uma estrutura sindical, não beneficia o professor, antes favorece os setores que controlam e agem no interesse de um projeto social discriminador que enfraquece a sociedade e favorece a sua dominação pela minoria associada aos interesses privados.

Certamente que não é uma tarefa fácil porque, há tempos, desde a implantação dos pressupostos do neoliberalismo e da globalização, há uma tendência pela desvalorização da organização sindical e os governos têm trabalhado contra aqueles que lhe são críticos e agem com autonomia. Repito, será difícil, mas estamos determinados a reforçar esse caminho que é da interação entre direção e base, necessário para a revitalização do nosso trabalho e a continuidade fortalecida do nosso sindicato.

Como é presidir um sindicato nacional num país de grandes diferenças regionais e que atua três estruturas - federal, estadual e particular?

A nossa estrutura de organização sindical permite que os assuntos específicos de cada setor sejam tratados pelo próprio setor, tanto das estaduais, quanto das federais e particulares. Os setores não são instâncias deliberativas. Contudo, as discussões que realizam auxiliam e orientam as decisões que são tomadas pelas instâncias do sindicato, que reúnem professores de todos os setores.

No entanto, uma coisa é clara, com diferença de tonalidades os problemas são muito semelhantes. È claro que nas particulares conta mais a pressão dos patrões, a perseguição aos professores que tentam se organizar e as demissões sumários. Nas estaduais, há uma multiplicidade de tratamentos e diferentes estruturas de universidade, porque cada governo estadual, na realidade é um patrão diferente. Nas federais, embora o patrão seja único, os degraus para se chegar a uma negociação realmente democrática apresentam muitas dificuldades.

Contudo, temos um fio condutor que é o que nos une: lutamos por uma universidade pública e gratuita, autônoma, democrática de qualidade socialmente referenciada. Lutamos para que todos os professores tenham uma carreira que lhes permita a integração no labor universitário. Queremos salários dignos. E que todos estejam articulados, por um projeto de alcance social, na construção de uma nova sociedade.

O que a senhora vai dizer aos docentes no início de gestão, no Conad de posse? O que espera dos docentes?

Creio que a fala da nova diretoria deve estar em consonância com os desafios que temos no próximo período, assim destacar que a conjuntura que se avizinha nos reserva enormes desafios em particular no que se refere ao papel do Andes-SN frente à categoria docente no sentido de manter a defesa de seus interesses no que se refere ao salário, às condições de seu trabalho e a sua valorização.

Mais, isso está pautado na defesa da paridade e da isonomia e na luta por uma carreira que de fato expresse o valor do trabalho docente e seu reconhecimento; a defesa do projeto de educação que a coloque como prioridade nacional tendo o caráter de política pública universal e a serviço da produção de conhecimento que possa contribuir para solucionar os problemas da massa trabalhadora deste país. Enfrentar o desafio de manter o Andes-SN em seu papel de interlocutor fundamental neste desafio é também uma prioridade.

A defesa do nosso sindicato em sua atuação autônoma e classista é condição para respondermos aos desafios e estarmos atentos e unidos no combate dos que enfrentam as políticas de retirada dos direitos. Este é mais um desafio.

Serão, por conseguinte, tempos difíceis. Entretanto, temos certeza de que conseguiremos levar a adiante o nosso trabalho mantendo os objetivos que animam essa nova diretoria: expandir o nosso sindicato e defender a sua integridade; retomar fortemente o diálogo com a base do movimento docente e fortalecer a inserção do nosso sindicato; continuar uma forte articulação com o movimento social crítico e combativo; avançar nas propostas do sindicato para a universidade pública e gratuita, sempre pautados na democracia de decisões e nas ações coletivas enquanto instância do sindicato.

À categoria cabe fortalecer seu sindicato como o espaço privilegiado para enfrentar a pressão do governo sobre o movimento sindical combativo, e enfrentar uma disputa de projetos com aqueles que defendem uma universidade adaptada às conveniências do mercado, sob a ótica da concorrência e do sucesso individual, portanto, distante de uma concepção social do fazer coletivo e para isso deve participar de suas instâncias e espaços de deliberação e formulação e manter-se atenta e vigilante ao trabalho de sua direção.

As demandas do Andes-SN são muitas, e cada vez mais, considerando os ataques ao ensino universitário. Como conciliar os papeis de professora, militante e mãe?

A atuação militante é uma escolha de vida que se combina com as demais esferas que temos para mantermos a luta cotidiana por nossa sobrevivência material e conformação de nossa vida social. A combinação destas distintas atribuições exige dedicação, disciplina e compromisso, mas também nos leva a estabelecer no cotidiano de nossos afazeres os princípios que defendemos para a formação de uma nova ordem social: a solidariedade e a construção de saídas coletivas para tudo o que se apresenta.

É assim, apostanto no trabalho coletivo e em equipe de nossa diretoria, na participação ativa da categoria nas instâncias do sindicato, o que fortalece nossa elaboração e atuação, e, a com franqueza na discussão familiar e o envolvimento dos filhos neste projeto de vida e a solidariedade dos companheiros de luta e de amizade, é que pretendemos responder a altura a tarefa que assumimos.



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