Data: 24/04/2017
“Papai Noel, você nunca vai se aposentar?”, questiona um grupo de crianças, dirigindo-se ao ‘bom velhinho’. Ele responde: “Nunca. Nem vocês”. A tirinha usada na abertura no ciclo de palestras “A Reforma da Previdência: O Fim da Aposentadoria”, nesta segunda (24), não pretende provocar risos, mas um alerta. É isso que vai ocorrer com as futuras gerações caso seja aprovada a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287, conhecida como a PEC da Reforma da Previdência, afirma categórico o professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) Carlos David Lobão. “Ninguém vai conseguir aposentar-se!”.
Lobão fez a abertura do ciclo de palestras, atraindo a atenção dos participantes para os aspectos mais danosos da propositura, desde o texto apresentado pelo governo e até as alterações já discutidas pela base aliada, antes da leitura do relato a ser feito pelo deputado federal Arthur Maia (PPS/BA), na Câmara Federal.
Sob o título “PEC 287/2016 – A contrarreforma neoliberal promovida pelo governo golpista de Temer”, a palestra foi focada em quatro eixos: a definição sobre Previdência e seus aspectos legais; a falácia sobre o suposto “rombo” na pasta; as maldades ligadas à proposta; e os verdadeiros beneficiários caso o tema ganhe coro no Congresso Nacional e seja aprovado, alterando a Constituição Federal de 1988.
Membro da executiva nacional da CSP/Conlutas, Carlos Lobão foi enfático ao afirmar que as principais mudanças – para pior – ocorridas em relação à Previdência foram gestadas e executadas nos governos eleitos, ou seja, de Collor a Dilma. “De sua origem até os anos 1990, a previdência brasileira era a 2ª melhor do mundo, atrás apenas do Canadá. Hoje, não está entre as 200”, disse. “As outras melhoraram?”, pergunta. E ele mesmo responde: “a nossa que piorou. E muito”. Para o docente, as duas mais marcantes negativamente foram as mudanças impostas pelos governos FHC, “um ataque direto contra os trabalhadores da iniciativa privada”, e Lula, “contra os servidores públicos”.
Em todas elas, destaca o mestre em Matemática pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o governo mentiu, como o faz agora lidar com os números do segmento. “Lula mentiu do mesmo jeito que Temer mente hoje, ao falar que existe um rombo na Previdência. Dados dos auditores fiscais apontam que há um superávit de mais de R$ 11 bilhões em 2016”, reforçou o palestrante. Número que só não é maior em virtude das renúncias fiscais do governo de mais de R$ 70 bilhões ano passado, aliada à sonegação de impostos por parte de empresas e à falta de fiscalização.
Para o dirigente sindical, a ideia do governo é clara com a imposição da Reforma da Previdência, sem discutir efetivamente o tema com a sociedade: o fim da aposentadoria. “Com essas mudanças, ninguém vai conseguir aposentar-se. E quem lucra com isso? Os bancos que passarão a ter maior carteira de clientes com a aposentadoria privada”, completa.
Os mesmos bancos que financiaram a campanha do atual relator da PEC 287/2016 na Câmara. “É o cúmulo do cinismo!”, ressalta. Para Carlos Lobão não há outra alternativa: só a greve geral dos trabalhadores pode barrar essas contrarreformas que retiram direitos. “O governo tem que saber que estamos com raiva desse projeto”. Nesta sexta-feira (28), com a Greve Geral em todo o país, a classe trabalhadora tem uma grande chance de mostrar sua força.
Fonte: ADUA |