Data: 21/02/2017
O dispositivo, similar àquele que é utilizado para identificar animais de estimação, consiste em uma cápsula de cristal pouco maior que um grão de arroz, equipada com tecnologia de identificação por radiofrequência (RFDI) e uma memória de 868 bytes.
A reportagem é de Javier Albisu e publicada por Sin Embargo, 18-02-2017. A tradução é de André Langer.
Implantar um microchip de identificação sob a pele é, para alguns, o passo seguinte natural para a “internet das coisas” e uma porta para um futuro em que a tecnologia estará a serviço do ser humano, incorporada diretamente em seu corpo.
Para outros, o fato de que uma empresa proponha aos seus funcionários que enxerte em seu organismo uma “cápsula” para abrir portas ou acessar o computador supõe uma perda de liberdade e privacidade em uma corrida rumo a uma sociedade em que a tecnologia, a serviço de governos e empresas, sirva para controlar os cidadãos.
“Não somos o Grande Irmão e não podemos rastrear os nossos empregados com o chip (...) É apenas uma maneira mais fácil de abrir as portas ou acessar o computador. É completamente voluntário”, explica à Efe Tim Pauwels, sócio-diretor da NewFusion, uma empresa belga de software especializada em marketing digital que implantou um chip em vários de seus funcionários.
O dispositivo, similar àquele que é utilizado para identificar animais de estimação, consiste em uma cápsula de cristal pouco maior que um grão de arroz, equipada com tecnologia de identificação por radiofrequência (RFDI) e uma memória de 868 bytes.
A tecnologia RDFI pode ser ativa, quando emite sinais rastreáveis e cuja aplicação é comum em armazéns industriais ou na pecuária, ou passiva, como essa que a NewFusion implantou em dezembro em sete dos seus 12 trabalhadores.
No caso dos seres humanos, o chip é inserido na mão, entre o dedo índice e o polegar, e funciona como um registro cujo número de série pode ser mudado a partir de uma aplicação do telefone celular. Não contém nenhum dado do usuário e não emite sinais que permitem sua localização, mas substitui os cartões pessoais comuns em muitas companhias.
“Aqueles que não querem o chip podem utilizar o cartão. Alguns dos nossos empregados, especialmente as mulheres, usam um anel ou um bracelete com a mesma tecnologia”, comenta Pauwels.
O chip pode ser adquirido na China a 20 centavos de euro a unidade, mas os chips escolhidos pela NewFusion são fabricados nos Estados Unidos, custam 100 euros e vêm com um kit de instalação esterilizado.
Os chips são implantados por um tatuador com uma seringa do mesmo calibre que aquelas utilizadas para doação de sangue. Sente-se a picada, mas, em seguida, a dor desaparece e fica uma pequena marca na pele, embora em alguns casos se possa distinguir o implante em forma de pequena protuberância.
“Você não pode rastrear ninguém, porque não contém GPS nem outro sistema de geolocalização” e “um profissional pode retirá-lo ou substituí-lo facilmente”, destaca o fundador da NewFusion, Vincent Nys, que considera “uma ingenuidade pensar que a nossa localização e a nossa privacidade são seguras”.
“Se você caminha pelas ruas de Londres, você pode ser rastreado o tempo todo através das câmaras de segurança. O mesmo pode acontecer com o telefone... Deveria abrir-se um debate sobre qual informação você aceita compartilhar com o mundo e qual não, em vez de governos ou grandes organizações como o Facebook ou o Google decidirem o que fazer com os seus dados”, acrescenta Nys.
A ideia nessa empresa belga de Malinas, situada entre Bruxelas e Antuérpia e com um plantel jovem e uma cultura aberta à inovação, surgiu “dos funcionários que perdiam o cartão para abrir a porta”.
A companhia já utilizava esse tipo de tecnologia sem fio em alguns dos produtos que seus trabalhadores projetavam e pareceu-lhes “natural” aplicá-los em seus próprios escritórios. E, de passagem, beneficiar-se com o impacto midiático da manobra.
O empresário indica outras potenciais aplicações destes chips, como substituir os passaportes, os cartões de banco e cartões de transporte ou incluir informações médicas para saber o tipo sanguíneo de um ferido que ficou inconsciente e que deve ser atendido urgentemente, ou se é alérgico a algum medicamento.
Pode-se, inclusive, imaginar um futuro com implantes mais avançados que meçam parâmetros médicos em tempo real, como o açúcar no sangue de um diabético ou a pressão arterial em alguém com problemas cardiovasculares.
“Talvez, com o tempo, possa ser muito útil, mas com as aplicações que tem hoje... não me convence. Não tenho em casa nada que funcione com essa tecnologia e para o trabalho prefiro continuar a utilizar meu cartão para abrir as portas”, explica Tom, um dos funcionários da NewFusion que não aceitou implantar o chip.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos |