
Foto: Sue Anne Cursino/ Ascom ADUA
Nos dias 19 e 20 de agosto, cerca de 200 pessoas, representando mais de 70 instituições da região, reuniram-se na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) para o Encontro da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia com a presidência da COP-30.
A abertura ocorreu no Centro de Ciências do Ambiente (CCA), no setor Sul do Campus Universitário Senador Arthur Virgílio Filho, onde as e os participantes se dividiram em grupos temáticos para compartilhar informações, revisar e sintetizar propostas.
No segundo dia, no auditório Eulálio Chaves, o documento resultante foi entregue em cerimônia que contou com a presença do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, e da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, enviada especial para Mulheres da COP-30.
O texto entregue é fruto de um processo colaborativo que reuniu universidades, institutos de pesquisa, organizações da sociedade civil, órgãos governamentais e iniciativas comunitárias da Amazônia.
"O que a gente precisa é olhar o mundo com um pouquinho mais de cuidado. A conexão da academia com os povos da floresta marca este encontro, porque a pesquisa científica tem plena capacidade de levar dignidade para os povos da floresta [...]. Eu quero trazer ainda uma frase muito potente. Ela foi dita pela ativista ambiental Odenilze Ramos, e diz assim: a Amazônia não é uma causa, mas a casa. E hoje eu repito que a Amazônia não deve ser vista como causa, mas sim como casa", disse Janja.
Na cerimônia de entrega da Carta à presidência da COP-30, estiveram presentes representantes de entidades estudantis, coletivos, movimentos sociais e da comunidade acadêmica da Ufam. A ADUA foi representada pela 2ª secretária, professora Francisca Maria Cavalcanti e pelo 2º vice-presidente, o professor José Alcimar de Oliveira. Outros docentes sindicalizados à ADUA também participaram do encontro e dos eixos temáticos.
A 2ª secretária da ADUA, professora Francisca Maria Cavalcanti, avaliou o encontro como positivo e necessário: “Foi um momento em que pesquisadores, instituições e movimentos sociais puderam se expressar. Quem mais entende da nossa realidade somos nós mesmos, nossos cientistas e nossas instituições. Essa oportunidade foi extremamente significativa para marcar presença e defender políticas que realmente contribuam no combate às mudanças climáticas".

Foto: Sue Anne Cursino/ Ascom ADUA
A professora Gleice Oliveira, que participou do debate do Eixo IV: Resiliência em Cidades, Infraestrutura e Água, destacou a importância do tema, vinculado ao Fórum das Águas, a qual integra. “A produção de conhecimento na nossa região é vastíssima e feita, em grande parte, por pessoas daqui. Mas ainda existe uma enorme distância entre esse conhecimento e a população, não apenas de linguagem, mas de acesso. Ainda maior é a distância entre a produção científica e sua aplicação em políticas públicas que garantam qualidade de vida. Além disso, há carência de reconhecimento e valorização do nosso trabalho enquanto professores e pesquisadores, o que impacta diretamente o futuro da sociedade.” A docente acrescentou: “Todos os grupos trouxeram aportes que precisam estar incluídos para que o documento reflita as preocupações da nossa gente e não apenas de gestores que muitas vezes estão distantes ou desinteressados em ouvir os amazônidas.”

Foto: Sue Anne Cursino/ Ascom ADUA
Matheus Amaral, membro da Converge (ligada à Cúpula dos Povos), ressaltou que a comunidade científica da Amazônia tem produzido conhecimento, mas ainda é pouco ouvida, assim como comunidades tradicionais e periféricas. “Estamos marcando presença para afirmar que seguimos rumo à Cúpula dos Povos e à COP-30. Estamos nos organizando em caravanas, com cerca de 500 pessoas, navegando por cinco dias e parando em territórios ao longo do caminho para dialogar e fortalecer a nossa jornada amazônica".
Já o coordenador do Fórum das Águas no Amazonas, padre Sandoval Rocha, fez uma crítica ao contraste entre o discurso climático e a prática de modelos econômicos predatórios: “Enquanto se discutem soluções para as mudanças climáticas na COP-30, o que se vê é a continuidade de um desenvolvimento destrutivo, aprofundado pela privatização da água, de empresas públicas e até das florestas. A privatização é um processo agressivo de apropriação dos bens comuns".

Foto: Divulgação/Ufam
A reitora da Ufam, Tanara Lauschner, destacou a hora em reunir a comunidade científica e tecnológica, universidades, institutos, centros de pesquisa e movimentos sociais na Universidade Federal do Amazonas. "Este não se trata de um documento qualquer, é sim o resultado de meses de dedicação de centenas de pesquisadoras e pesquisadores que acreditam que a ciência deve ser o alicerce das decisões globais sobre o clima. Também é o resultado de décadas de pesquisa na região Amazônica. Este é o recado que precisa ser ouvido: a Amazônia não aceita mais ser apenas o cenário de debates, ela é protagonista”.
A iniciativa do encontro foi coordenada pelas instituições amazônicas: Universidade Federal do Amazonas (Ufam), também como anfitriã do evento, Universidade Federal do Pará (UFPA), Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – Andifes (Norte), Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif/Norte), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/MS), Instituto Evandro Chagas (IEC/MS, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e Rede de Universidades Estaduais da Amazônia Legal (Abruem).
Ao todo, seis eixos são abordados no documento:
Eixo I - Transição nos setores de energia, indústria e transporte;
Eixo II - Gestão sustentável de florestas, oceanos e biodiversidade;
Eixo III - Transformação da Agricultura e sistemas alimentares;
Eixo IV - Construção de resiliência em cidades, infraestrutura e água;
Eixo V - Promoção do desenvolvimento humano e social; e
Eixo VI - Objetivos Transversais – Catalisadores e aceleradores.
Leia aqui a Carta que foi entregue. Leia aqui para conhecer os eixos temáticos.
Assista aqui a transmissão do primeiro dia.
Assista aqui a transmissão do segundia.
Fontes: ADUA com informações de UFAM e Portal da Ciência
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