Data: 13/12/2016
A CSP-Conlutas realizou na cidade de São Paulo o 2º Seminário de Comunicação da Central nos dias 9, 10 e 11 de dezembro. Dirigentes e jornalistas das entidades, movimentos sociais e ativistas ligados à Central sindical participaram do seminário para debater o papel da comunicação nos movimentos sindicais, populares e sociais e, ainda, propostas para avançar a comunicação da Central e das entidades, ampliar as vozes dos trabalhadores da base e a necessidade de conscientizar direções sindicais de que é importante fazer um investimento real na comunicação, garantindo também os direitos trabalhistas dos trabalhadores da área.
A primeira mesa, realizada na manhã de sexta-feira (9), sob o tema “Avançar na comunicação dos trabalhadores”, contou com a presença de Monica Martinez, pós-doutora em Narrativas Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), e de Fausto Salvadori, jornalista da Ponte Jornalismo, site jornalístico com foco em direitos humanos. Martinez ressaltou a importância da humanização na narrativa, de ouvir o “personagem”, de romper com o “olhar domesticado” e da responsabilidade social dos jornalistas perante a notícia.
Salvadori definiu que jornalismo é contar história, de preferência, que emocione e crie um vínculo com o leitor. Para isso, o jornalista afirma que é necessário o profissional deixar-se envolver pela história de vida do entrevistado. Durante o debate, com os presentes no seminário, foi ressaltada a necessidade de reduzir o número de demandas, ou aumentar a equipe de comunicação para os jornalistas produzirem textos mais apurados e que crie identificação com o seu leitor.
A segunda mesa tratou sobre “As lutas retratadas internacionalmente e suas conexões”. Euan Gibb, coordenador nacional do site de movimento sindical internacional, Labourstart.org, e Herbert Claros, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e membro da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas compuseram a mesa e falaram das suas experiências. Gibb apresentou o site que concentra notícias de lutas sindicais do mundo inteiro e também campanhas internacionais de solidariedade. Ele convidou jornalistas e dirigentes sindicais a participar da alimentação da plataforma que, segundo ele, é simples. Claros ressaltou a importância da imprensa em não apenas organizar a luta nacional, como também a internacional. Ele fez um apelo aos presentes a participarem da alimentação do site laboursolidarity.org.
A última mesa “As opressões e a resistência são televisionadas e estão na mídia digital” contou a participação quatro mulheres negras. Silvana Costa militante das “Mães de Maio” e, atualmente, do coletivo “Fala Guerreira”, falou da importância de fazer um tipo de jornalismo que denuncie as opressões e genocídio de minorias. Jéssica Moreira, co-fundadora do coletivo “Nós, Mulheres da Periferia”, contou que por muito tempo se sentia envergonhada de dizer que morava no bairro periférico paulista Perus, pois os meios de comunicação sempre o associava a violência e caos. Ela afirma que através do coletivo conseguiu romper com os estereótipos da mulher periférica, ressignificar memórias, e articular e mobilizar em prol dos direitos sociais e humanos.
Tatiana Lima, militante do Fórum de Juventude do Rio de Janeiro e uma das responsáveis pelo aplicativo (app) de celular “Nós por Nós”, explicou a dinâmica do app que recebe denúncias anônimas sobre abusos das polícias do Rio de Janeiro e as encaminha à Defensoria pública. Nos primeiros 58 dias que a plataforma estava operando, 72 denúncias foram feitas. Entre as denúnicas: abuso de poder, invasão domiciliar, agressão física. As palestrantes foram uníssonas em afirmar que é preciso dar mais espaço nos meios de comunicação para as mulheres, negras, e pessoas da periferia.
Reportagem, multifunção e democratização da mídia
No sábado, de manhã, Jaqueline Lemos, doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e ganhadora do 24° Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, falou na mesa “Reportagem: a interpretação da realidade e seus verdadeiros atores sociais” sobre a importância de ressignificar a comunicação que as centrais e entidades fazem. Para ela, é preciso dialogar com a categoria, abrir espaço para os trabalhadores nos meios de comunicação sindical e diminuir os espaços excessivamente ideológicos e institucionais, pois eles não dialogam. Claudia Costa, responsável pela comunicação da CSP-Conlutas há 9 anos, ressaltou a importância da reportagem colaborativa e contou da experiência de sua equipe de comunicação da Central que fez uma grande reportagem durante a Caravana Tekohá II – Guarani Kaiowá, em Mato Grosso do Sul.
Em seguida, a mesa “Democratização da comunicação, uma batalha necessária”, contou com a presença de Ana Claudia Mielke, coordenadora executiva do Intervozes; Rita Freire, presidente cassada do conselho curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC); e Claudia Giannotti, coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC). Ana Claudia afirmou que é preciso regulamentar a mídia não apenas no Brasil, como em outros países da América Latina. Poucos grupos econômicos controlam todos os meios de comunicação no país, dificultando a distribuição e mídias alternativas no país. “O que pedimos não é nada revolucionário, é apenas o que países como Estados Unidos, França, entre outros, já fazem, que é descentralizar os meios de comunicação para garantir democracia e liberdade de expressão”, disse.
Rita Freire contou do recente caso de extinção do Conselho Curador da EBC, composto por 15 membros da sociedade civil, que tinha por objetivo zelar pelo cumprimento da missão pública da empresa. “A nossa comunicação pública está entregue agora a um governo que retira a participação da sociedade civil na construção de uma comunicação pública”, disse. Claudia do NPC corroborou com as duas expositoras de que a comunicação está concentrada nas mãos de poucas pessoas no Brasil e falou da importância da comunicação cruzada entre os sindicatos na elaboração de cartilhas, vídeos, cordel, textos para propagar as notícias.
A mesa da tarde “O mundo do trabalho dos profissionais da comunicação sindical e popular” teve a participação de Luciano Faria, um dos organizadores do Encontro Nacional de Jornalistas Sindicais; e Renata Maffezoli, da coordenação geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF). O centro da discussão girou em torno da multifunção dos jornalistas e da importância destes profissionais trabalharem em espaços que respeitem os seus direitos, assim como os dirigentes precisam contratar mais profissionais, definir um plano de comunicação e um planejamento estratégico. Após a mesa, os jornalistas e dirigentes participaram de oficinas de mídias digitais, mobgrafia e jornalismo de dados.
Perspectivas
O seminário retomou no domingo com a mesa da plenária final que apontou perspectivas para o próximo período, após os debates que se deram no decorrer do seminário e das resoluções do 1° Seminário de Comunicação da CSP-Conlutas, que ocorreu no final de 2014. Estiveram presentes na mesa, Paulo Barela, responsável pelo setor de comunicação da Central, Claudia Costa, coordenadora de Comunicação da CSP-Conlutas, João Negrão e Luis Acosta, coordenadores do Grupo de Trabalho de Comunicação e Arte (GTCA) do ANDES-SN que, antes, apresentaram a política de Comunicação e Arte do Sindicato Nacional. Após os encaminhamentos, os jornalistas das entidades e movimentos sociais apresentaram suas experiências sobre as ações em cada assessoria.
“Os dirigentes sindicais ficaram muito sensibilizados com as discussões tratadas neste seminário. Reafirmamos a necessidade de colocarmos a comunicação como estratégia para divulgar junto aos trabalhadores e a sociedade a nossa pauta política, porém precisamos de fato dar prioridade a ela, saber que além dos militantes, trabalha um corpo profissional, temos saber lidar com a urgência política de um lado e a necessidade de fazer um trabalho de qualidade. Além disso, foi discutida a importância de articular melhor a comunicação entre sindicatos, centrais e movimentos populares e sociais, fazendo um trabalho coletivo e que se escute mais a base e menos os dirigentes sindicais”, disse Luis Acosta, do GTCA e 1° vice-presidente do ANDES-SN.
Com imagens da CSP-Conlutas
Fonte: ANDES-SN |