Foto: Daisy Melo/Ascom ADUA

Ritual de defumação abriu o Conselho em Manaus
Daisy Melo e Sue Anne Cursino
Aliando a arte à luta sindical, o 68º Conselho do ANDES-SN (Conad) contou com apresentações que expuseram a diversidade cultural do Amazonas. As atrações foram do boi-bumbá, maracatu, musicalidade em línguas indígenas até os movimentos hip-hop e ballroom. Pela primeira vez, Manaus sediou de 11 a 13 de julho deste ano, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o encontro que é a segunda maior instância deliberativa da categoria docente das Instituições de Ensino Superior (IES) do país. A ADUA foi responsável pela organização do evento.
Com o Amazonas sendo o Estado com maior concentração de indígenas do Brasil, o evento trouxe entre as atrações um ritual indígena. Abrindo as atividades do conselho no dia 11, o indígena Jaime Diakara Dessano realizou a prática ancestral da defumação, utilizada em cerimônias de oração, proteção, purificação e cura. Pelo auditório silencioso em respeito ao momento, Diakara caminhou empunhando um chocalho e entoando cânticos enquanto a fumaça se dispersava pelo ambiente. O indígena é escritor, pedagogo e doutorando no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Ufam.
Foto: Daisy Melo/Ascom ADUA

Toadas contagiaram os(as) docentes no primeiro dia
Mantendo a representação da cultura amazonense por meio da arte, o grupo Cateto da Toada trouxe em seguida a música, a dança e evolução dos bois do Festival Folclórico de Parintins, Garantido e Caprichoso. “Iremos começar agora a nossa festa popular, trazendo um pouquinho da nossa cultura, do que é Parintins. Sejam todos bemvindos. Sintam o calor da energia do Norte. Vamos brincar de boi-bumbá, essa cultura brasileira, que é daqui do coração da floresta. Parabéns por ‘amazonizarem’ nossa cultura”, disse o levantador de toadas, Alciro Neto, no início da apresentação contagiante que levou os(as) delegados(as) e observadores(as) a cantarem e dançarem as toadas juntos(as) com os bois de pano.
No mesmo dia antes do início dos debates sobre conjuntura, o grupo Sateré-Mawé Porating entoou cantos de resistência. Formado em 2016, o grupo reúne Yará Sateré (voz), Mayara Moyara (tambor), Inara Waty (chocalho) e Natan Kokama (violão), com o objetivo de manter viva a cultura Sateré. A apresentação incluiu as canções “Canto de boas-vindas” (Wuito Ahetor) e “Farinhada” (Watynum U’i).
Antecedendo a Plenária do Tema II, no dia 12, foi a vez de “W”, MC de batalha e representante do movimento hip-hop manauara, realizar uma rima com enfoque na educação. Em sua apresentação, o artista também propôs uma rima de desafio aceita pelos(as) participantes do 68º Conad, que sugeriram as palavras “solidariedade”, “luta” e “Palestina”
Evocando a energia, ancestralidade e potência do povo negro, o grupo de baque virado Maracatu Pedra Encantada, fundado em 2016, contagiou os(as) presentes, na manhã do dia 13, antes do início da Plenária. Com origem nos terreiros do candomblé, o Pedra Encantada entoou as loas ao ritmo das alfaias, agbês, gonguês, atabaques e caixas.
Foto: Eline Luz/ANDES-SN

Grupo Porating emocionou com o canto Sateré-Mawé
O canto Tikuna encerrou a agenda artística trazida pela ADUA para o 68º Conad. Na Plenária do Tema III, no dia 13, as vozes dos sete indígenas de Tabatinga (AM), que formam o grupo Wotchimaücü, tomaram conta do auditório Rio Amazonas, da Faculdade de Estudos Sociais (FES), numa apresentação marcante. Cantadas na língua nativa, o grupo interpretou as canções Lamentação, Wiwirutcha (Pássaro azulão) e Ritual da Moça Nova, representando a força da musicalidade e da cultura indígena.
Foto: Sue Anne Cursino/Ascom ADUA

Vozes do povo Tikuna reverberaram no 68º Conad
Celebração
Na noite de 12 de julho, entre as atrações da festa estiveram o grupo Cateto da Toada, que atua no cenário musical amazonense desde o ano 2000, formado por parintinenses que residem em Manaus, e a Casa Konda, da comunidade ballroom. Representando a resistência da juventude negra amazônida, Ariskaa Anastásya, integrante do grupo, explicou que a cena ballroom da cidade está em construção há cerca de cinco anos, tendo se iniciado durante a pandemia da Covid-19.
“Temos conquistado cada vez mais espaço. Hoje é mais um desses dias em que a gente consegue apresentar um pouco do que é o ballroom. São corpos pretos, corpos de travestis como o meu, de pessoas dissidentes de gênero, periféricas. A gente constrói moda, conceito, movimentos corporais, e assim a gente refaz nossa história, porque a gente também pode sonhar, deve sonhar e conquistar tudo aquilo que quisermos”.
Foto: Sue Anne Cursino/Ascom ADUA

Movimento ballroom brilhou na noite do segundo dia do Conad
Artesanatos da Amazônia e de lutas sociais
Durante os três dias do 68º Conad do ANDES-SN, cerca de 20 bancas expositoras movimentaram o espaço com uma diversidade de produtos artesanais, gastronômicos, editoriais e de cosmética natural. A iniciativa valorizou a produção local, indígena, amazônica e ligada às lutas populares.
As bancas apresentaram desde a tradicional farinha de mandioca, crochê, biojoias, cosméticos derivados do cupuaçu e murumuru até livros de cunho político e regional.
Marcaram presença representantes dos povos indígenas Tikuna, Wapichana, Mura, Sateré-Mawé, Aripuanã, Waimiri Atroari, com grafismos, cocares, colares, pulseiras, brincos e outros acessórios.
Foto: Sue Anne Cursino

Artesanato indígena foi ofertado pelos(as) expositores(as)
Micilene Ponciano Pereira, do povo Tikuna, disse que foi uma experiência enriquecedora, pois ela não dispõe de um espaço fixo para comercializar os artesanatos que produz e no Conad teve a oportunidade de vender seus produtos. “Eu trabalho com sementes de açaí e tucum, que são naturais da nossa região. Meu pai também é artesão. Ele trabalha com madeira e faz anéis de coquinho. Muitas das peças são feitas aqui mesmo, durante o evento, e cada cliente que leva uma peça está levando também um pedaço do nosso esforço, do nosso trabalho”.
A artesã contou ainda que aprendeu as técnicas com sua mãe e agora ensina seus parentes. “Estou ensinando meus filhos, pra não deixar morrer nossa cultura, nosso trabalho, porque essa é nossa vida”, afirmou.
Também se destacaram as barracas de gastronomia amazônica e venezuelana, com pratos típicos.
Nelba Serrão, compartilhou a alegria de participar do evento e destacou a trajetória que a trouxe do interior para Manaus. “Graças à venda do nosso sorvete consegui apoiar meu filho em sua formação na Ufam, que hoje cursa mestrado no Sul. Aqui foi muito bom oferecer sorvetes feitos com ingredientes regionais, que conquistaram professores de fora do Amazonas. O sucesso foi tão grande que foi preciso a gente aumentar a produção dos sorvetes de cupuaçu e açaí”.
A exposição foi um espaço de diversidade cultural, promovendo diálogos entre luta sindical e a produção local.
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