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Entre os dias 13 e 15 de março, o II Seminário de Multicampia e Fronteira do ANDES-SN integrou sabores, saberes e vivências. O último dia do encontro foi marcado por uma visita à Comunidade Indígena Raposa I, localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.
Docentes foram recebidos por homens, mulheres e crianças indígenas em um acolhimento repleto de significado. Aos 61 anos, Joana Macuxi realizou a defumação, um ritual de preparação para a experiência que seriam realizadas no local. “Quando a fumaça entra, é uma limpeza. Todos os propósitos aqui são de cura”, explicou Enoque Raposo, coordenador de turismo da comunidade que abriga indígenas Macuxi e Wapichana.
O grupo também foi recepcionado com o canto parixara, um cântico de boas-vindas e agradecimento. “Muitas vezes não conhecemos as pessoas, nem seus pensamentos. A defumação e o canto deixam de fora as coisas ruins para que todos possam viver melhor”, acrescentou Enoque.

A programação incluiu oficinas de trança de palha de buriti, pintura com jenipapo, produção de panelas de barro, uso do rapé, confecção de artesanatos com palhas e sementes, arcos e flechas. A culinária local também foi um destaque: docentes aprenderam a preparar a Damurida, prato típico feito com pimenta, tucupi e peixe, que foi servido no almoço acompanhado de sucos de frutas regionais, como jenipapo, murici e caju, além de bebidas como pajuaru e o caxiri.
O docente Jordeanes Araújo (IEAA) avalia que as atividades possibilitaram conhecer e se aproximar de diferentes culturas, ressaltando que, enquanto categoria docente sindicalizada e presente na multicampia, é essencial aprofundar cada vez mais a compreensão sobre os desafios enfrentados, a fim de transformar a realidade evidenciada pelas reflexões do seminário. “Fiquei lembrando das dificuldades enfrentadas pelos estudantes indígenas em nossos campi, como os desafios de locomoção e a ausência de um acolhimento diferenciado por parte da gestão administrativa, que não está preparada para lidar com diferentes perspectivas culturais dentro do ambiente universitário. De Boa Vista até a Terra Indígena, percorremos 300 km. Na minha unidade de trabalho, os indígenas da região enfrentam as mesmas dificuldades de deslocamento, além de problemas sociais e econômicos que impactam sua permanência na universidade”, afirmou.
Para a professora Gilvania Plácido (INC/Ufam), realizar essa atividade em um espaço de fronteiras geopolíticas, culturais e étnicas amazônicas foi um convite à reflexão. “Ao ouvir os relatos e posicionamentos de representantes de diferentes seções sindicais, percebemos realidades similares em diversos campi, considerando os contextos socioeconômico, político, cultural e ambiental, além das condições de trabalho e qualidade de vida. Como classe trabalhadora, convergimos em ideias e experiências, unindo-nos na atuação profissional e política pela sociedade brasileira. O alinhamento das nossas reflexões e reivindicações é o primeiro passo para conquistas importantes, desde a Amazônia até os Pampas dos nosso grandioso Brasil. ADUA e ANDES, avante!”.

O seminário foi encerrado em Lethem, cidade da Guiana que faz fronteira com Bonfim, no Brasil, separadas pelo rio Tacutu. Mais do que debater os desafios e possibilidades da multicampia e da fronteira nas universidades amazônicas, o evento, organizado pela Coordenação do GT Multi-Front em parceria com a Seção Sindical dos Docentes da UFRR (Sesduf-RR), proporcionou uma vivência concreta da fronteira, passando pelos três campi da UFRR, pela divisa com a Guiana e pela comunidade indígena.
Mais informações serão compartilhadas na próxima edição do boletim da ADUA.
Fonte: ADUA
Fotos: Sue Anne Cursino
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