
Foto: Eline Luz/ ANDES-SN
Encontro fortalece movimento docente sindical no país
Sue Anne Cursino
Entre os dias 27 e 31 de janeiro de 2025, 668 docentes de 88 seções sindicais participaram do 43º Congresso do ANDES-SN, realizado em Vitória (ES). A atividade abordou diversos temas, incluindo políticas educacionais, carreira e condições de trabalho, defesa da vida e estratégias de luta para enfrentar os desafios da sociedade brasileira.
Maior instância de deliberação do Sindicato Nacional, o congresso foi organizado pela Associação de Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes – Seção Sindical do ANDES-SN) e ocorreu na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), no campus Goiabeiras.
Inspirado no tema “Só o ANDES-SN nos representa: dos locais de trabalho às ruas contra a criminalização das lutas”, o encontro contou com debates nos Grupos Mistos, deliberações em plenárias, manifestações e apresentações culturais, que refletiram a diversidade de pensamentos políticos e fortaleceram a unidade na luta contra o neoliberalismo e pela manutenção dos direitos da categoria.
A programação iniciou na segunda-feira (27) com o credenciamento e as plenárias de Abertura e de Instalação, realizadas no Teatro Universitário da Ufes. Durante os cinco dias de evento, ocorreram apresentações artísticas e culturais, registradas nas páginas 16 e 17 deste boletim, na seção “Arte e Resistência”.
A mesa de abertura contou com a presença da direção do Sindicato Nacional e de representantes de entidades como SINASEFE, FASUBRA, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, UNE, Articulação de Mulheres Brasileiras, Comitê de Solidariedade à Palestina, organizações em defesa do povo negro e pela Soberania Popular na Mineração Brasileira, dentre outros.
A presidente da Adufes, Ana Carolina Galvão, denunciou a perseguição da reitoria da Ufes, que adotou práticas antissindicais contra a seção sindical devido à greve docente. “Nós não vamos pagar nada”, enfatizou a docente, referindo-se a boletos nos valores de R$ 208.047,75 e R$ 20.139,91, enviados pela reitoria da Ufes para que a Universidade seja ressarcida em razão da greve docente de 2024. A Adufes classificou a cobrança como um ataque à democracia, ao direito de greve e à luta por melhores condições de trabalho e em educação pública.
Durante as falas, o representante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Leomar Honorato Lírio, destacou a importância da parceria entre pequenos agricultores e entidades sindicais. “Que a gente sele cada vez mais alianças de classe não só no discurso, mas fazendo com que a produção da agricultura camponesa possa abastecer os nossos sindicatos, os nossos postos de trabalho e as nossas casas. Assim, a gente vai estar, de fato, concretizando essa relação camponesa e operária”.
O congresso foi marcado por debates sobre a conjuntura nacional e internacional, com destaque para reflexões sobre a greve de 2024 e a necessidade de enfrentar governos de extrema direita e de conciliação de classe. “É fundamental pensar em ação de unidade entre os trabalhadores, fortalecendo nosso sindicato para enfrentar as boas lutas do próximo período e armar embates para a efetivação do termo do acordo que resultou da greve”, afirmou o presidente do ANDES-SN, Gustavo Seferian.

Docentes da ADUA comparti haram vivências amazônicas Foto: Sue Anne Cursino/Ascom ADUA
Entre os 467 delegados(as) e 127 observadores(as), a ADUA marcou presença com uma forte representação de 14 docentes, além da presidente da Seção Sindical e 1ª vice-presidente Regional Norte 1, professora Ana Lúcia Gomes.
Como delegadas(os) estiveram: Aldair Oliveira de Andrade (IFCHS), Ana Cristina Belarmino de Oliveira (FCA), Francisco Jacob Paiva (Faced), Jarliane da Silva Ferreira (INC), Maria Audirene Cordeiro (ICSEZ), Maria Rosária do Carmo (ICE), Marcelo Mario Vallina (IFCHS) e Valmiene Florindo Farias Sousa (ICSEZ).
Já como observadoras(es) participaram as(os) docentes: Francisca Maria Coelho Cavalcanti (Faced), Gisele Cardoso Costa (Faced), Hildemberg Agostinho Rocha de Santiago (ISB), Maria Anete Leite Rubim (FCA), Marcelo Dayron Soares (IEAA) e Antonio José Vale da Costa (FIC).

Debates e trocas de experiências em grupos mistos proporcionam construção coletiva de luta da categoria docente Foto: Eline Luz/Ascom ADUA
Conjuntura e Movimento Docente
A Plenária do Tema I foi realizada na tarde e noite de segunda-feira (27), abordando questões da conjuntura nacional e internacional. Entre os temas discutidos estiveram a posse do presidente estadunidense Donald Trump, ataques ao meio ambiente e aos direitos de pessoas LGBTQIAP+, negras e imigrantes, além do genocídio do povo palestino.
A docente Gisele Costa, observadora da ADUA no congresso, ressaltou a importância da luta da palestina como exemplo de resistência. “A luta da categoria docente e a derrota do fascismo devem ser feitas nas ruas, com o povo organizado”.
No cenário brasileiro, o destaque foi para as greves nas instituições federais e estaduais e a necessidade de garantir que os acordos firmados com o governo federal sejam cumpridos.
Entre as conquistas da paralisação de 2024, foram mencionadas a redução da jornada imposta a docentes do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT), a discussão sobre o reenquadramento de aposentadas(os) no âmbito federal, além da recomposição salarial.

Gisele Costa defendeu que seja intensificada a campa nha de boicote, desinvestimento e sanções contra Israel Foto: Eline Luz/ ANDES-SN
Grupos Mistos
Na terça-feira (28), os trabalhos do congresso foram voltados aos Grupos Mistos, onde docentes aprofundam debates sobre temas fundamentais. Ao todo, 12 grupos analisaram os 76 Textos de Resolução (TRs) do Caderno de Textos do congresso, documento que orienta as deliberações e compila propostas e análises enviadas pelas seções sindicais, diretoria nacional e sindicalizadas(os).
Planos de luta dos setores
Nos dias 29 e 30 de janeiro, foram definidas as diretrizes de luta para 2025 dos setores das Estaduais, Municipais e Distrital (Iees, Imes e Ides) e das Federais (Ifes). Os debates abordaram a defesa da carreira docente, melhores condições de trabalho, ampliação de orçamento e autonomia universitária.
Entre outros encaminhamentos, foi aprovada uma mobilização conjunta pelo fim da lista tríplice. O Congresso reafirmou a luta contra a privatização da educação, exigindo 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor e a revogação do Novo Arcabouço Fiscal.
Setor das Iees, Imes e Ides
Ponto central entre as deliberações está a aprovação da continuidade da pesquisa sobre financiamento das instituições Estaduais, Municipais e Distrital, incluindo levantamento sobre isenções fiscais, perdas salariais e orçamento.
Também foi encaminhada a ampliação de políticas afirmativas para docentes negras(os), transexuais e com deficiência.
Foi aprovado ainda que a Semana de Lutas ocorrerá no primeiro semestre de 2025, e o XXI Encontro Nacional no segundo semestre. Também foi aprovada a continuidade da campanha “Universidades Estaduais, Municipais e Distrital: Quem conhece, defende!” que será fortalecida, assim como a defesa de concursos públicos com Dedicação Exclusiva e cotas afirmativas.
Seguindo este mote, foi apresentado o documentário “Lutas e Organização do ANDES-SN nas Universidades Estaduais, Municipais e Distrital”. O vídeo está disponível no canal do ANDES-SN no YouTube.
Setor das Federais
A maior crítica levantada pelo debate do Setor das Federais foi quanto ao descumprimento do acordo de greve pelo governo. A plenária decidiu que, caso o reajuste salarial de janeiro de 2025 não seja cumprido, serão convocadas assembleias para avaliar a construção de uma greve.
Também foram debatidos os impactos do pacote fiscal de novembro de 2024, da contrarreforma administrativa e da Medida Provisória 1.286/24, que garante a recomposição salarial das(os) servidoras(es) públicas(os) federais. Foi deliberada a necessidade de discutir estratégias de pressão para o cumprimento do Acordo de Greve 10/2024 e contra as medidas de controle de ponto para a carreira EBTT e procedimentos que dificultam a progressão funcional.
Foi aprovada a realização de painéis para debate sobre o papel das universidades virtuais e demais modalidades de teletrabalho e de ensino com contratação precária por bolsas, tutoria, e as condições de trabalho e de infraestrutura das Ifes.
Plano Geral de Lutas
No dia 30, durante as votações das resoluções do Grupo de Trabalho de História do Movimento Docente (GTHMD), foi deliberado intensificar a luta por memória, verdade, justiça e reparação e contra a anistia para golpistas. Entre as estratégias estão a produção espaços de debates sobre o tema e a realização de oficinas para criação de um repositório digital de documentos históricos, a exemplo do que foi feito no Centro de Documentação e Pesquisa (Cedoc) do Sindicato Nacional e na Associação de Docentes da Universidade Estadual de Campinas (Adunicamp).
Foi também reafirmada a luta pela desmilitarização da polícia e das escolas cívico-militares.
Multicampia e fronteira
Ainda na tarde do dia 30, foram debatidas e deliberadas as resoluções do Grupo de Trabalho de Multicampia e Fronteira.
A plenária deliberou aprofundar o debate sobre fixação docente em instituições multicampi e de fronteira, defendendo concursos públicos e adicionais de penosidade e de difícil fixação. Também serão realizados painéis sobre orçamento e assistência estudantil, inclusão e diversidade, além de um levantamento sobre remoções e vacâncias.
Na avaliação da delegada da ADUA, Maria Audirene Cordeiro (ICSEZ/Ufam Parintins), o Congresso do ANDES-SN reúne a maior proporção de intelectuais sindicalistas do Brasil, responsáveis pela consolidação de propostas que viabilizam a educação superior justa e igualitária para todo o Brasil. “Discutir a multicampia é um passo a mais do processo de consolidação da universidade pública e gratuita na Amazônia. Além de conseguirmos assegurar o funcionamento do GT de Multicampia, a partir de agora a luta ganha uma outa proporção, de assegurar por decreto presidencial esse abono que nós lutamos tanto e que pode contribuir para conseguirmos manter em área de difícil fixação e em região de fronteira o ensino superior para povos da Amazônia”, avaliou.
Participando pela primeira vez do congresso, Jarliane Ferreira, docente do INC/Ufam Benjamin Constant, destacou a importância de compartilhar a realidade de um campus que vive a tríplice-fronteira na Amazônia. “Foi muito importante compartilhar nossas demandas, os desafios que só nós que estamos lá no interior, numa situação de multifronteira, sabemos das dificuldades, mas também das potencialidades. Por ser uma localidade que tem uma diversidade étnica e cultural muito presente de indígenas, ribeirinhos, assentados”.
Sobre este tema, está marcado o 2º Seminário de Multicampia e Fronteira do ANDESSN, de 13 a 15 de março, em Boa Vista (RR), com apoio da Sesduf-RR.
Políticas Educacionais
Ainda na plenária do Tema 3, entre outros encaminhamentos, foi reafirmada a luta contra a precarização docente, incluindo oposição ao Programa Mais Professores para o Brasil (Decreto nº 12.358/2025) e à privatização da educação. Foi defendida a destinação de 10% do PIB para a educação e a revogação do Novo Arcabouço Fiscal (NAF) e da Resolução CNE/CP 4/2024, considerada prejudicial à qualidade do ensino.
GTO
Os debates na sexta-feira (31) pela manhã foram concluídos com as deliberações das resoluções do Grupo de Trabalho de Organização das Oposições Sindicais (GTO). Foi aprovado o seminário nacional com o tema “Não em Nosso Nome: Só o ANDES-SN nos representa!”, a ser realizado no segundo semestre deste ano, e um módulo de formação sindical “História das lutas por um movimento docente autônomo e democrático”.
A campanha “Sou Docente Antirracista” será mantida, com reforço nas ações afirmativas e implementação de protocolos contra assédio, racismo e discriminação. Foi reafirmado ainda o apoio a lutas indígenas, quilombolas e socioambientais.
Direitos e Proteção Docente
Considerado um momento histórico no Sindicato Nacional, foi aprovada a criação de um protocolo institucional de combate ao assédio, racismo e outras discriminações nas universidades e Institutos Federais. Esse protocolo definirá normas para apuração de denúncias e medidas de acolhimento às vítimas.
A luta por ações afirmativas nos concursos públicos será fortalecida, com a permanência da campanha “Sou Docente Antirracista” até a reposição das vagas não preenchidas conforme a Lei 12.900/2014.
Foi deliberado também que o IV Seminário Integrado do Grupo de Trabalho de Política de Classe para Questões Étnico-Raciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) do ANDES-SN será realizado de 24 a 27 de abril. O IV Seminário Integrado incluirá o V Seminário Nacional de Mulheres; o IV Seminário Nacional de Diversidade Sexual e o V Seminário Nacional de Reparação e Ações Afirmativas do ANDES-SN
Na luta pelos direitos de docentes com deficiência, pais, mães, responsáveis solos, famílias atípicas, suas cuidadoras e seus cuidadores, o ANDES-SN continuará acumulando discussões sobre o direito de pessoas com deficiência, e realizará durante o IV Seminário Nacional Integrado do GTPCEGDS um painel com o tema: “Vivências e desafios de famílias atípicas”, incluindo neste debate as questões que atravessam a vivência de docentes que sejam mães e pais atípicos.

Luta por dignidade de cuidar e trabalhar foi acolhida por diversas delegações Foto: Eline Luz / ANDES-SN
A professora Ana Luiza Saraiva, da Associação dos Docentes da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (ADUERN), que apresentou o TR 33 -“Plano de lutas pela dignidade de cuidar e trabalhar”, afirmou que a decisão da plenária é histórica no ANDES-SN. “Famílias atípicas precisam do acolhimento das instituições. E nós precisamos de direcionamentos, regimentos e normas que também visualizem essa questão, ou ficaremos desamparados. E a luta não termina aqui, pois hoje conseguimos trazer essa pauta para nosso sindicato, que é tão plural e que deve abraçar esse tema também. Essa foi só a semente que foi plantada”, declarou.
Questões organizativas e financeiras
No último dia do congresso foi aprovada a prestação de contas do 67º Conad e do 15º Conad Extraordinário, além da aquisição de sedes para as regionais Nordeste I e Pantanal.
Também foram mantidos apoios financeiros a entidades como a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), a Auditoria Cidadã da Dívida (ACD), o Casarão da Luta e o sistema de formação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Foram ainda aprovados apoio à secretaria nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), à Associação de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Remanescentes de Quilombos Terra da Liberdade e ao Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (IIEP).
Duas novas seções sindicais foram incorporadas ao ANDES-SN, no setor das Estaduais, Municipais e Distrital, sendo a Associação dos Professores da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas e a Seção Sindical dos Docentes da Universidade Estadual do Norte do Paraná.
Outro ponto deliberado foi sobre o regimento eleitoral para a próxima eleição da Diretoria do ANDES-SN. Foi ampliada a participação de docentes de entidades que não estão na base do ANDES-SN. “Ampliamos nossa abrangência no processo eleitoral. Existem oposições de sindicatos locais que não estão na base do ANDES-SN, mas que reivindicam o âmbito do Sindicato Nacional como seu sindicato”, explicou Emerson Duarte, diretor do ANDES-SN.
Eleições do ANDES-SN
No último dia do congresso, quatro chapas apresentaram pré-candidaturas para concorrem ao processo eleitoral para a Diretoria do ANDES-SN no biênio 2025/2027. A votação ocorrerá nos dias 7 e 8 de maio de 2025.
O período para realização de pré-campanha será de 31 de janeiro a 14 de março. A campanha eleitoral poderá ser feita após a homologação das chapas em 14 de março até 6 de maio de 2025.
O presidente do ANDES-SN, Gustavo Seferian, destacou: “É importante registrar que este Congresso dá início ao processo eleitoral, com a apresentação de chapas que fortalecerão o ANDES-SN na sua democracia interna. A posse da próxima diretoria ocorrerá em Manaus, um momento de grande relevância para a categoria e de expectativa de movimentar mais a nossa luta docente, com a ideia de ‘amazonizar’ o Brasil”.

Chapa 1: ANDES pela base: diversidade e lutas!
Cláudio Mendonça (APRUMA) – Presidente
Fernanda Vieira (UFRJ) – Secretária-Geral
Sérgio Barroso (UESB) – 1º Tesoureiro

Chapa 2: Renova ANDES
Nicole Louise Pontes (UFEPE) – Presidente
Edson Franco de Moraes (UFPB) – Secretário-Geral
Geverson Grzeszceszyn (Unicentro) – 1º Tesoureiro

Chapa 3: ANDES Classista e de Luta
Gean Santana (UEFS) – Presidente
Welbson Madeira (UFMA) – Secretário-Geral
Soraia de Carvalho (UFPE) - 1ª Tesoureira

Chapa 4: Oposição para renovar o ANDES-Sindicato Nacional
Jailton Souza Lira (UFAL) – Presidente
Maria Carlotto (ADUFABC) – Secretária-Geral
Mariuza Guimarães (ADUFMS) – 1ª Tesoureira
Nenhum direito a menos!
O congresso também foi marcado por dois atos simbólicos, um deles foi realizado no terceiro dia do evento (29), quando docentes ecoaram a voz em defesa da educação escolar indígena no Pará e da vida do povo negro e das pessoas LGBTQIAPN+, marcando também o Dia da Visibilidade Trans. Em marcha seguiram do Teatro Universitário da Ufes até o prédio da Reitoria e retornaram ao teatro.
Organizado pelo Coletivo de Negras e Negros do ANDES-SN, a manifestação destacou a necessidade de combater o racismo dentro do sindicato e nas instituições de ensino superior.
A professora Audirene Cordeiro levantou um cartaz pedindo que o governo de Helder Barbalho (MDB/PA) revogasse a Lei 10.820/24. A mobilização reverberou apoio aos mais de 300 indígenas que ocuparam, por mais de 20 dias, a sede da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) do Pará, em Belém, reivindicando que seja respeitada a realidade sociocultural dos povos originários, garantindo a oferta de aulas presenciais e melhores estruturas para o ensino.

Docentes se manifestam em defesa da educação escolar indígena no Pará e contra o racismo nas universidades Foto: Sue Anne Cursino/ Ascom ADUA
Lutar não é crime
Em outro ato, marcando o lançamento oficial da campanha “Lutar não é crime”, no dia 30, as e os congressistas protestaram na Reitoria da Ufes contra a cobrança de boletos enviados à Adufes, sob a justificativa de ressarcimento por serviços terceirizados não prestados e descontos em aluguéis de cantinas e copiadoras devido ao fechamento dos portões.
O presidente do ANDES-SN, Gustavo Seferian, classificou a cobrança como indevida e abusiva, reafirmando que a greve é um direito legítimo e não deve ser criminalizada.
Acolhimento
O 43º Congresso do ANDESSN contou com um Espaço Infantil, que recebeu 12 crianças, com objetivo de ampliar a participação de participantes com filhos e filhas na atividade.
O espaço foi desenvolvido na sede da Adufes, anfitriã do Congresso, em parceria com um projeto coordenado por Elis Beatriz de Lima Falcão e Lorrana Neves Nobre, do Colégio de Aplicação Criarte da Ufes.

Atividades lúdicas e culturais garantiram acolhimento e diversão para as crianças Foto: Eline Luz/ ANDES-SN
O local ofereceu diversas brincadeiras como pintura, jogos, leituras, danças. Também foram realizadas visitas ao Parque da Pedra da Cebola, ao Manguezal de Vitória, ao Projeto Tamar – voltado à preservação de tartarugas marinhas.
As crianças também se divertiram na piscina no Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Ufes, participaram de uma festa do pijama e visitaram a Escola de Aplicação Criarte, além de conhecerem o Planetário da Ufes.
A professora Valmiene Florindo (ADUA) comentou sobre a importância desse espaço e como ele impactou sua experiência no Congresso, assim como a de sua filha, Joana Flor, de 9 anos.
“O Espaço de Convivência para crianças no Congresso foi fundamental para que eu pudesse participar ativamente das atividades. O ambiente e a equipe de monitores me deram segurança e tranquilidade, sabendo que Joana Flor estaria em uma vivência lúdica e divertida. As informações sobre a programação, o cardápio e os horários foram bem detalhados. Ela teve a oportunidade de conhecer outras crianças nas brincadeiras e conhecer a cultura do Espírito Santo e se divertir muito”.
A professora Sarah Munk Vieira, da Associação dos Professores de Ensino Superior de Juiz de Fora (APESJF), também destacou o impacto positivo do espaço infantil para pais e mães docentes. “Eu participava antes do movimento, mas passei alguns anos sem poder estar presente. Ano passado, quando soube da possibilidade de levar minha filha, retornei para as atividades. Ela agora tem cinco anos, sendo o segundo congresso dela comigo. Em muitos eventos não há espaços para mães com crianças pequenas, sejamos nós pesquisadoras ou militantes. Com o espaço infantil, pude continuar na luta, enquanto a minha criança vivenciava outra cultura, essencial para a formação dela como cidadã”.
Crescendo no ANDES-SN
Quem também marcou presença no Congresso foi Gabriel Oliveira Costa, 19 anos, acompanhando seu pai, o professor Arley Costa, da Associação dos docentes da Universidade Federal Fluminense (Aduff). O jovem esteve nas plenárias e grupos de discussão, registrando, com sua presença e sorrisos, o legado de sua mãe, Marinalva Oliveira, ex-presidente do ANDES-SN.
Para Gabriel, esse é o seu espaço de vivência, de aprendizado e de construção na luta. Ele também subiu ao palco para se posicionar em defesa da categoria docente e encerrou sua fala puxando o coro de “Fora Bolsonaro”. Arley contou que a história de militância do filho é escrita desde o nascimento. “Saímos de uma mobilização na universidade direto para o hospital, para o parto. Desde então, Gabriel vivencia o ANDES-SN. Ele gosta de ouvir e participar das discussões, criando o próprio círculo de amizades dentro do movimento”.
Encerramento
Por aclamação, Salvador foi escolhida para sediar o 44º Congresso do ANDES-SN, com organização da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Na sequência, foram apresentadas 26 moções abordando temas históricos do Sindicato Nacional. Entre elas as que expressaram repúdio às diversas ações e políticas que envolvem o uso indevido de recursos públicos, ataques a direitos trabalhistas e retrocessos em políticas educacionais e sociais, como a Contratação da Fundação Getúlio Vargas sem licitação pelo governo do Rio de Janeiro; Transfobia; Desmonte do Estatuto do Magistério Público no Pará e Criminalização do movimento docente na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).
Já entre as manifestações de solidariedade estiveram as direcionadas ao MST; ao povo palestino e às vítimas de deportações cruéis nos EUA. Alguns textos também apresentaram preocupação com impactos ambientais, como a exploração de minério de ferro em Diamantina (MG). Foi comemorado que não houve denúncia registrada pela Comissão de Combate e Prevenção ao Assédio e outras Violências.
Carta de Vitória
O 43º Congresso foi encerrado à meia-noite do dia 31 com um chamado à unidade e à mobilização. A secretária-geral do ANDES-SN, Fran Rebelatto, leu a Carta de Vitória, documento que sintetiza os princípios e resultados do 43º Congresso.
“Margeados e assentados sobre o manguezal, próximos ao fazer das artesãs, paneleiras de Goiabeiras, em mais uma universidade pública que nos lembra insistentemente que lutar não é crime”, assim foi iniciado o texto que destaca as preocupações com a extrema direita global e cobra o governo Lula-Alckmin pelo não cumprimento de acordos da greve de 2024.
A Carta reafirma o compromisso do ANDES-SN com a resistência popular e a solidariedade internacional, evocando a luta do povo palestino como símbolo da necessidade de persistência nas batalhas por justiça social.
A despedida também foi um convite ao 68º Conad, que acontecerá em Manaus, no Amazonas, no mês de julho. “Eu sou docente, sou radical. Eu sou do ANDES Sindicato Nacional!”, ecoou na voz de docentes que participaram do encerramento.
ANDES-SN Lança Instrumentos para política de formação sindical
Durante o congresso foram apresentados materiais (em formato físico e digital) que servirão para instrumentalizar as ações do Sindicato Nacional e de suas seções sindicais.
Entre as publicações lançadas está o número 75 da Revista Universidade e Sociedade do ANDES-SN, com sete artigos, uma reportagem sobre as greves da categoria docente em 2024, um espaço para colaborações internacionais e a declaração final do III Congresso Mundial contra o Neoliberalismo na Educação.
Com 157 páginas, a publicação registra o cenário das greves docentes em nível nacional, abrangendo o setor das universidades federais e sua articulação com outras categorias da educação federal. “A garantia da autonomia sindical e, consequentemente, da independência político-programática perante governos, partidos políticos e reitorias, é a fórmula para o uso de estratégias de luta autenticamente construídas pela classe trabalhadora. A sua máxima expressão se apresenta nas ações grevistas, em nítida manifestação do sindicalismo de confronto, em oposição ao sindicalismo burocrático e pelego que algumas direções sindicais de fachada alçam a partir de seus fantoches”, afirma o editorial da revista, disponível on-line.
A coordenação do Grupo de Trabalho de Comunicação e Artes (GTCA) também divulgou a atualização do Plano de Comunicação do ANDES-SN, aprovado no 42º Congresso e no 67º Conad, em 2024. Acesse aqui.
Também foi lançada a atualização da Cartilha de Combate aos Assédios Moral, Sexual e Outras Violências, elaborada pelo Grupo de Trabalho de Política de Classe para Questões Étnico-Raciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS). O material pode ser acessado no formato virtual e traz orientações jurídicas e políticas, além de propor um protocolo para enfrentar assédios e violências nas instituições.
Organizado pelo GT Carreira, também foi oficialmente lançado o consolidado das deliberações do 15º Conad Extraordinário que reúne as diretrizes gerais para a construção de uma proposta de carreira única e pode ser lido aqui.
Comemorado com muitos aplausos, as e os congressistas receberam em primeira mão o livro “Educação, Pedagogia Histórico-Crítica e BNCC”, escrito por Demerval Saviani, publicado pela Expressão Popular em parceria com o ANDES-SN.
Outra publicação lançada no foi o livro “Conquistas e Desafios – 65 anos da Revolução Cubana”, organizado pelas professoras Aline Fardin Pandolfi, Arelys Esquenazi Borrego, Gissele Carraro e Aline Faé Stocco, publicado pela editora Expressão Popular.
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Livros, revistas e cartilhas foram entregues às(aos) participantes do 43º Congresso do ANDES-SN Fotos: Sue Anne Cursino Ascom ADUA
“Meu primeiro congresso veio e já como delegada, com direito a voz e voto. Estou feliz por ter tido essa oportunidade, principalmente por me atualizar e presenciar tantos debates qualificados sobre nossa luta. Sendo natural de Benjamim Constant e docente de lá, estar nesses espaços, poder falar e trazer meu lugar de fala foi empoderador. Volto com a certeza de que seguirei na luta. Foi uma honra conhecer outros colegas e compartilhar nossas experiências. Não sou mais a mesma depois dessa vivência tão rica e potente. Levo comigo um forte sentimento de pertencimento à luta”. Jarliane Ferreira (INC/Benjamin Constant)
“Participar do Congresso do ANDES-SN pela primeira vez foi vivenciar um espaço democrático e de resistência contra toda forma de opressão. Foi compreender as diversas possibilidades de luta, não apenas pela nossa categoria, mas por toda a classe trabalhadora — por isso a importância do caráter classista do nosso sindicato. Realmente o ANDES-SN nos representa, fortalece nossas conquistas e defende nossa dignidade”. Francisca Maria Cavalcanti (Faced/Manaus)
“Faz menos de um ano que me sindicalizei à ADUA e eu não tinha dimensão de como funcionavam os congressos do ANDES-SN. Foi uma experiência intensa e uma oportunidade única de aprendizado. Tive a chance de falar nos grupos mistos e percebi que, apesar das divergências de posicionamentos, havia um direcionamento claro para a defesa da educação pública. Avalio que é fundamental que nós, da base da ADUA, participemos desse tipo de atividade, para apresentar nossas demandas e as particularidades da realidade do Amazonas, especialmente de quem está fora da capital”. Hildemberg Santiago (ISB/Coari)
“É a segunda vez que participo de um congresso do ANDES-SN. Entre os diversos temas que foram tratados, eu quero destacar a multicampia, porque é de extrema importância o debate sobre esse tema, principalmente para nós, enquanto docentes que moramos e trabalhamos em campus fora da sede, para que possamos debater e propor estratégias pensando em uma melhor qualidade de ensino, de trabalho e, portanto, de vida”. Marcelo Dayron (IEAA/Humaitá)
Poesia e música: Cultura capixaba inspira movimento docente
Durante os cinco dias de atividades do 43º Congresso, a arte se fez presente como expressão viva da luta docente. Manifestações culturais diversas tomaram os espaços, provando que resistência também se faz com poesia e música.

Escola de Samba Unidos da Piedade transforma congresso em festa popular - Foto: Eline Luz/ ANDES-SN
A abertura do encontro foi marcada pelo impacto da poesia oral e performática do slam. O Coletivo Cultural Grupo UfeSlam trouxe ao palco a mensagem de que “a poesia é o caminho de lutar pelo amanhã”. O trio de jovens artistas, integrantes de um projeto de extensão da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), emocionou o público com performances que abordaram as opressões enfrentadas pelo povo negro dentro do ambiente acadêmico. Para eles, aquele momento era simbólico: pela primeira vez apresentavam-se em um palco de teatro.
A programação cultural do Congresso revelou a diversidade de manifestações que a capital capixaba proporciona, que vai desde a batalha de poesia à escola de samba, passando pelas tradicionais bandas de Congo. “Buscamos a marca da diversidade em todos os sentidos: da música, de artistas... assim como procuramos valorizar as parcerias que temos, os grupos que apoiamos e que também estão conosco nas nossas atividades sindicais”, destacou a presidente da Adufes, Ana Carolina Galvão.
O palco em meio às plenárias do Congresso foi tomado por vozes e ritmos poderosos, como o vocal de Ekaterina Bessmertnova e a percussão de Léo de Paula; a tradição do Congo Raízes da Barra; a energia do Bloco Afrokizomba e as presenças marcantes da cantora Ury Vieira e da violonista Lets Chaves.

Banda Raízes da Barra apresenta Congo ca pixaba ao som de casaca, tambor e reco-reco Foto: Sue Anne Cursino/Ascom ADUA
No último dia de Congresso, bailarinas e ritmistas da Escola de Samba Unidos da Piedade contagiaram o público com cores, dança e alegria, transformando o intervalo da plenária em uma verdadeira festa popular.
A valorização da cultura local também esteve presente no cuidado com os brindes entregues às (aos) participantes. “O kit das(os) docentes foi outra forma de prestigiar a cultura, a arte e a economia capixabas. A bolsa, o lápis de casaca, a mini-panela de barro, o bombom Caieiras, tudo foi produzido artesanalmente e com referências à nossa cultura”, explicou Ana Carolina.
Além das apresentações, o congresso contou com uma exposição sobre a história do ANDES-SN, feira de livros e artigos artesanais, como lembranças, casacas (instrumento musical tradicional) e panelas de barro. Também foi feito o lançamento do documentário “Povo Negro Fica! A luta por cotas étnico-raciais”, parte da campanha “Sou Docente Antirracista”.
A tradicional festa do congresso foi realizada no dia 29 e levou o público ao espaço Brizz, onde quatro ex-estudantes da Ufes apresentaram composições autorais e homenagens a Sérgio Sampaio, ícone da música capixaba.
Esses momentos demonstram que lutar pela educação pública é também fortalecer os laços que unem as e os docentes na caminhada da resistência. Esse é um posicionamento recorrentemente defendido pelo professor Jacob Paiva, que esteve como delegado da ADUA neste congresso e costuma dizer que “a luta também pode ser feita com alegria”.
O encerramento da manifestação “Lutar não é crime” também trouxe um momento de emoção e reafirmação da luta docente, com a leitura de um cordel de resistência, escrito pelo professor Paulo Rubem Santiago Ferreira, delegado da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (Adufepe SSind).
“A greve é justa, legítima,
não é crime, nunca foi.
Eu vou botar os boletos
debaixo do pé do boi.
Nossa luta é resistência,
defendendo a educação,
ensino público de fato
contra a especulação,
contra o sucateamento
e a privatização.
Por isso a gente insiste,
não vamos arredar pé.
Nossa luta segue forte,
é para o que der e vier.
Educação e liberdade,
isso é o que a gente quer.”
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