“O papel de descortinar as amarras históricas, através dos processos educativos que foram atrelados aos estereótipos da figura do homem e da mulher negra e das religiões de matriz africana e afro-brasileira, torna-se pilar para a estruturação das novas reflexões”. A afirmação é do professor doutor Linconly Jesus da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). O docente realizou a palestra “Racismo e Intolerância Religiosa na Universidade”, no dia 6, durante o Seminário “Racismo Estrutural e Os Desafios para a Educação Pública”, organizado pela ADUA.
O docente afirmou, ainda, que é preciso possibilitar reflexões para a implantação das leis 10.639 [obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira] e 11.645 [inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e cultura afro-brasileira e indígena] e a inclusão de forma interdisciplinar e transdisciplinar nos curriculares escolares da história e da cultura africana e afro-brasileira, da educação infantil ao ensino superior. “O nosso conhecimento não é de base linear. Se não é, ele não pode ser compartimentalizado, por exemplo, dentro dos paradigmas cartesianos, da compartimentalização de saberes. A lei já diz ela é interdisciplinar e transdisciplinar”.
Neste âmbito, também é necessário, segundo o docente, não apenas romper os grilhões que amarram as estruturas, mas também as mentes dos educadores e educadoras que estão colonizados a ponto de barrar a implantação da lei. “Como falar de descolonizar currículo se não se fala da descolonização de corpos e mentes? O nosso corpo é engessado, o nosso currículo é entrincheirado. O processo de descolonização curricular não tem efetividade sem a descolonização de corpos e mentes que foram domados, que ainda estão presos no positivismo acadêmico ou no modelo cartesiano disciplinar de compartimentalização de saberes ainda tão evidente no sistema educacional brasileiro e na formação de professores”, afirma.
Lincoly Jesus analisa que a aplicação desse modelo é imperativo para a visualização de um novo patamar evolutivo na sociedade que é a relação humanidade, natureza e ancestralidade. “Somos forcados a compreender a necessidade urgente de novos referenciais teóricos e mitológicos para a nossa atuação em sala de aula. O que está aí não nos contempla, o que está aí nos exclui, essa atuação precisa ser em várias frentes”, disse.
O acadêmico questiona então: qual o papel da universidade em relação a isso? Neste cenário, a primeira amarra que precisa ser quebrada é a ideia de que a universidade é o único espaço produtor e legitimador do conhecimento. “Se a universidade não reconhece os povos originários, os povos indígenas, quilombolas, as populações campesinas, de terreiros como produtoras de seu próprio conhecimento, de suas próprias epistemologias, ou fazendo com que essa relação campo e cidade seja compreendida em outra perspectiva que não a do conhecimento, como vai desconstruir esses estereótipos e essas amarras racistas, o racismo estrutural?”, questiona. Uma das grandes armadilhas do eurocentricismo é que ainda vigora na realidade acadêmica a manutenção da colonialidade e é a ideia de que a universidade é o único espaço produtor e legitimador do conhecimento.
Realizado no auditório da Seção Sindical, na Ufam, em Manaus, o seminário contou, ainda, com as palestras “Racismo Estrutural e Ações Afirmativas” foi tema de palestra da professora doutora Zelma Madeira, da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e “Racismo contra Indígenas na Universidade”, com a liderança indígena, Ely Macuxi.
Fonte: ADUA-SSind.
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