Evento ocorreu nos dias 9 e 10 de novembro na Uerj-Maracanã
Daisy Melo
Com o avanço da extrema direita no país, inclusive no afiado uso das ferramentas comunicacionais, integrantes do Grupo de Trabalho de Comunicação e Arte (GTCA) do ANDES-SN, outras(os) docentes e profissionais da comunicação de seções sindicais reuniram-se nos dias 9 e 10 de novembro, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), para debater estratégias dentro do âmbito da disputa política de narrativas. A retomada da utilização de material impresso, o reforço na atenção às(aos) aposentadas(os) e o comprometimento com atividades sociais e artísticas foram alguns dos temas levantados no encontro.
Durante a reunião foi feita a avaliação dos resultados do levantamento, realizado entre outubro e novembro deste ano, sobre a rotina das assessorias de comunicação das seções sindicais do ANDES-SN. O Sindicato Nacional realizou pesquisas similares também nos anos de 2012 e 2021. “No total, 64 seções responderam ao questionário. A meta é realizar agora esse levantamento a cada dois anos, até porque esses estudos permitem identificar o cenário da política de comunicação e ajudam a aprimorar as estratégias”, disse um dos coordenadores do GTCA, César Beras.
Entre as constatações da pesquisa está o maior uso de material digital em comparação ao impresso. Grande parte das seções sindicais afirmou que possui site e atuação nas redes sociais, mas não produz jornais e/ou boletins impressos. Foi unânime entre as(os) presentes a defesa da retomada da produção de materiais do gênero. O assessor da Associação dos Professores da Universidade Federal do Rio Grande (Aprofurg), Diego Balinhas, relatou que a seção sindical identificou essa necessidade durante a greve de 2024 e manteve a estratégia após o fim do movimento paredista.
O assessor do ANDES-SN, Luciano Beregeno, também foi um das(os) participantes a referendar o uso do recurso da “mala direta”. Foi destacado que, apesar dos custos com impressão e envio, essa é uma ferramenta estratégica para a comunicação. Outro a destacar o uso do conteúdo impresso foi o assessor de comunicação da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Uberlândia (Adufu), Isley Borges. O jornalista informou que a seção sindical produz, inclusive, material impresso voltado especificamente para as(os) aposentadas(os). “Fazemos os informes e enviamos diretamente para as casas dos sindicalizados aposentados, por meio de um acordo feito com os Correios”, contou.
César Beras apresentou os resulta dos do levantamento com as seções
A atenção especial às(aos) aposentadas(os) sindicalizadas(os) foi destacada por ser esta parcela significativa da base de sindicalizadas(os) da maioria das seções sindicais. Além disso, elas(es) têm sido também o principal público-alvo das constantes tentativas de golpes financeiros digitais que vêm ocorrendo nos últimos meses e ocasionando perdas financeiras a servidoras(es) públicas(os). Outra questão é o fato de as(os) aposentadas(os) não serem usuários frequentes de canais digitais, onde as assessorias geralmente fazem os alertas sobre os golpes e divulgam as notícias em geral sobre a entidade.
Sobre a utilização do material impresso como, por exemplo, panfletos, o assessor de comunicação da Associação dos Docentes das Universidade Estadual da Bahia (Aduneb), Murilo Bereta, destacou que não basta apenas produzi-los, mas é fundamental dar uma atenção especial ao modo de distribuição. “Não adianta levar para um departamento e deixar lá a pilha de folhetos ou esperar que um professor distribua, é preciso que o docente entregue pessoalmente. Está faltando o ‘olho no olho’”, disse. Outras(os) concordaram e ressaltaram a falta do “corpo a corpo” e do “gastar a sola do sapato” no atual dia a dia sindical.
Sobre a comunicação direta com as(os) aposentadas(os), diferentemente da Adufu, mais da metade das seções sindicais (53,1%) não tem uma forma específica de se comunicar com as(os) aposentadas(os), relevou o levantamento do ANDES-SN. Como em grande parte das seções sindicais, na ADUA as(os) aposentadas(os) representam parcela significativa do total de sindicalizadas(os), o equivalente a 294 de 926 docentes.
Arte e socialização
Para melhoria do próximo levantamento, foi sugerido o incremento das questões relativas ao tema “arte”. As docentes da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes), Viviana Vermes e Patricia Freitas, frisaram a importância de considerar arte, cultura e socialização como fundamentais e não acessórios na programação das seções sindicais. Elas relataram ainda a realização de um levantamento com artistas e organizações culturais para engajá-las(os) nas atividades do sindicato.
Diversas(os) outras(os) docentes destacaram a necessidade das entidades cada vez mais realizarem atividades de socialização, lúdicas e recreativas. “É preciso acabar com aquele argumento de que ‘somos um sindicato e não uma associação”, frisou a presidente da ADUFCG, Marinalva Vilar. Foram citados exemplos como realização de saraus, sextas culturais, concursos de fotografia e distribuição de livros da editora Expressão Popular e de brindes, como ingressos para shows e sessões de cinema. Neste aspecto, foi levantada ainda a necessidade do cuidado com a saúde mental docente, por meio do oferecimento, por exemplo, de convênios com psicólogas(os) e realização de aulas de yoga.
Rede de Informação
Durante a reunião também foi apresentada a Proposta de Construção/Consolidação da Rede Nacional de Informação do ANDES-SN. A implementação da rede foi deliberada no 42º Congresso de Fortaleza/2024 e é uma tarefa prevista no Plano de Comunicação atualizado neste ano. Na apresentação realizada por Beras e Beregeno, foram socializadas(os) as fases, ações e cronograma previstos.
Na Fase 1, com a implementação da rede, está prevista a criação de um grupo de WhatsApp para “alimentação e troca de informação”. Já na Fase 2, chamada pelo ANDES-SN de “produção colaborativa de conteúdo”, estão entre os objetivos “incentivar a participação ativa das seções sindicais na criação de notícias, campanhas e reportagens e potencializar a ação integrada reduzindo os efeitos de limitações operacionais de infraestrutura e equipe de cada seção”. E por último a Fase 3 com a distribuição e amplificação da rede.
O cronograma de consolidação da Rede de Informação prevê a aplicação da Fase 1 de novembro de 2024 a março de 2025; da Fase 2 em janeiro de 2025, especificamente durante o 43º Congresso do ANDES-SN, em Vitória (ES); e da Fase 3 de dezembro de 2024 a março de 2025.
Após a abertura para o debate, docentes e principalmente as(os) profissionais de comunicação das seções sindicais levantaram uma série de questionamentos sobre a implantação da Rede Nacional de Informação. Foram registradas muitas críticas em relação à plataforma escolhida, no caso o WhatsApp; e inclusive sobre as implicações trabalhistas relativas ao envio de mensagens fora do horário de expediente. Sobre este último aspecto, foi destacada a importância do uso de telefone institucional.
Outro ponto com ampla discussão foi sobre ações previstas como “produção de conteúdo entre as seções” e “produção colaborativa de reportagens, resultantes das coberturas articuladas”. Algumas(uns) jornalistas questionaram sobre seus direitos trabalhistas e quem será responsável por pagar pelas colaborações, e ainda afirmaram que é preciso levar em consideração que “o que para as(os) docentes é militância, para as(os) jornalistas é trabalho”. Apesar dos argumentos apresentados, a coordenação do ANDES-SN afirmou que a implantação da rede é uma decisão congressual e será executada.
Lucas Milhomens participou como representante do GTCA da ADUA
O integrante do GTCA da ADUA e professor do ICSEZ/Ufam, Lucas Milhomens, enfatizou a importância da criação da rede. “É algo que já deveria ser criado há pelo menos uns 10 anos; é fundamental para as lutas de hoje e do futuro. É muito importante um espaço qualificado como esse para o debate de questões sobre as universidades públicas. Já que é uma decisão congressual, uma prioridade do ANDES-SN, vamos criar as condições materiais, financeiras, e não apenas de trabalho. Sou jornalista e sei exatamente sobre o que os colegas estão falando, e sou solidário. Estamos aqui para acumular elementos e consolidar como isso será feito, lembrando que o ANDES-SN é um sindicato classista que defende os direitos trabalhistas”.
Na reunião também foi apresentada pela integrante do GTCA do ANDES-SN, Caroline Lima, as ideias preliminares para a campanha nacional de sindicalização do Sindicato Nacional, que tem lançamento previsto ainda neste ano, conforme o cronograma apresentado. A docente explicou que serão usados vídeos sobre como funciona o ANDES-SN; animação contando a história do Sindicato; cards em formato carrossel sobre a entidade e os motivos para a sindicalização e entrega de kits (pasta com folder, cartilhas, folhetos, lápis, bloco de notas e planner).
Foram feitas ainda diversas sugestões para a campanha. Entre elas estiveram: destacar as lutas e greves durante os 45 anos do ANDES-SN e produzir materiais com foco nas(os) docentes récem-chegadas(os) nas universidades. “É preciso sair daquele estereótipo do que é ser sindicalizado, não ‘pregar para convertido’. É preciso falar com aqueles que não tem noção do que é ser sindicalizado, para que os que não gostam do sindicato tenham outra ideia, possam ser convencidos, percebam que é bom ter sindicato”, comentou a presidente da ADUFCG.
Na reunião, foi feito ainda o compartilhamento das articulações nas seções sindicais da campanha “Sou docente Antirracista”. Entre as atividades citadas estiveram uma exposição fotográfica com a comunidade acadêmica negra e debates sobre o tema. Na reunião, as(os) participantes da reunião do GTCA receberam ainda uma cópia atualizada do Plano Geral de Comunicação do ANDES-SN. O primeiro Plano foi aprovado durante o 30º Congresso do Sindicato Nacional, em Uberlândia (MG), em 2011. O Plano atual será debatido no próximo Congresso do ANDES-SN a ser em realizado de 27 a 31 de janeiro em Vitória (ES).
No segundo e último dia da reunião foi realizado o painel “50 anos de hip-hop e a luta antirracista” com a professora, pedagoga, escritora e pesquisadora, Ravena Carmo, e o cientista social, educador e escritor Felipe Choco. Ravena apresentou o resultado de anos de articulações do movimento hip-hop junto ao governo e aos ministérios, na construção de políticas públicas, e nas periferias do Brasil, com destaque para a atuação do movimento nas escolas. “São espaços que funcionam mesmo e não operam para ‘gringo ver’, é a única cultura que disputa com as igrejas nas comunidades”, comentou Ravena.
Choco fez um resgate histórico das batalhas de rimas na região do ABC paulista e da repressão sofrida devido à ocupação de espaços públicos institucionalizados, citando como exemplo o caso da “Batalha da Matriz” de São Bernardo do Campo, que é tema de um dos seus livros. “Somos artistas e ativistas, então trabalhamos com memória, de onde viemos e para onde estamos indo, vencendo essa cultura da prosperidade, do capital que, infelizmente, tem conquistado a juventude. É preciso aprender a chegar na comunidade não para ditar, mas para se envolver”. O encerramento do painel ocorreu com o duelo de rimas e a poesia marginal dos MCs Kayan e Narciso, que trouxeram mais uma vez a reflexão sobre a resistência por meio da comunicação e da arte.
Docentes, artistas e profissionais da comunicação participaram da reunião
Fotos: Ascom Aprofurg/Diego Balinhas , Ascom Adufu/Isley Borges, Ascom ADUA/Daisy Melo e Ascom ANDES-SN/Eline Luz
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