Quem mandou matar Marielle Franco e Anderson Gomes e por quê? Essas perguntas persistem, apesar da condenação dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz por executarem a vereadora do Rio de Janeiro e seu motorista. A decisão histórica tomada pelo júri popular do 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, no dia 31 de outubro, não encerra a busca por justiça, após seis anos do duplo assassinato, mas representa o mínimo de reparação aos familiares das vítimas.
Para a diretora da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, falta a responsabilização dos mandantes do crime e de quem atrapalhou as investigações. “A gente perguntou quem matou, e aqui se respondeu quem matou? Ronnie e Élcio de Queiroz foram apenados. Mas ainda falta quem mandou matar. E agora o Supremo Tribunal Federal tem que dar o seu recado: quem mandou matar e por que e como serão responsabilizados”.
Essa afirmação se refere diretamente à investigação sobre Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, além do delegado Rivaldo Barbosa, que foram presos no dia 24 de outubro. Eles foram delatados por Ronnie Lessa e são investigados pela suspeita de serem os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson, ocorrido em 2018. Também estão presos o ex-chefe da Polícia Civil fluminense, Rivaldo Barbosa, acusado de comprometer as investigações, e o major da Polícia Militar, Ronald Paulo de Alves Pereira, acusado de ajudar a definir data e local do atentado.
Condenação dos executores
O julgamento teve início no dia 30 de outubro e foi encerrado no dia seguinte. A sentença prevê 78 anos e 9 meses de reclusão e 30 dias-multa para Ronnie e 59 anos de prisão e 8 meses de reclusão e 10 dias-multa para Élcio. Ambos foram condenados a pagar uma pensão para o filho de Anderson e irão pagar ainda R$ 706 mil de indenização por dano moral para Arthur, Ághata, Luyara, Mônica e Marinete, familiares das vítimas. Ronnie e Élcio não poderão recorrer em liberdade.
Foram 6 anos, 7 meses e 17 dias de espera e muita luta até a chegada deste momento. "É uma condenação justa, digna pela memória, pela história. Pelo Anderson, que saía naquele dia para trabalhar. Por Marielle e por todos que ainda não têm justiça nesse país. Por isso que nós estamos aqui. É uma vitória sim. Vamos continuar. Não acaba por aqui, a nossa luta vai continuar”, disse a mãe de Marielle, Marinete Silva.
Durante a leitura da sentença, a juíza Lúcia Glioche destacou as dificuldades do sistema judiciário para punir quem comete um crime. "A Justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta, mas ela chega. A Justiça chega mesmo para aqueles que, como os acusados, acham que jamais vão ser atingidos pela Justiça. Com toda dificuldade de ser interpretada e vivida pelas vítimas, a Justiça chega aos culpados e tira deles o bem mais importante depois da vida, que é a liberdade", afirmou a magistrada.
Em nota pública, o Comitê Justiça por Marielle e Anderson afirmou que o julgamento é resultado de luta incansável de familiares de Marielle e Anderson, junto à sociedade civil, ativistas, movimentos sociais, entre outros. “Essa mobilização que ocorreu ao longo dos últimos anos, exigiu respostas e enfrentou diariamente a impunidade em casos de violações promovidas pelo Estado brasileiro, simboliza uma mudança histórica! Sem esse esforço conjunto, não estaríamos aqui diante de uma decisão importante para a luta por justiça, o enfrentamento da violência política de gênero e raça, o combate ao assassinato em um país onde a vida de defensores de direitos humanos está entre as mais ameaçadas do mundo”.
Marielle Franco foi a quinta vereadora mais votada no Rio de Janeiro em 2016, socióloga, feminista e militante dos direitos humanos. O ANDES-SN e ADUA têm se somando às demais entidades em busca de respostas paras perguntas: quem mandou matar Marielle Franco e Anderson Gomes e por quê?
Fonte: ADUA com informações da Agência Brasil e do ANDES-SN
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