Matéria atualizada no dia 28 de agosto de 2024
As fumaças sob o céu de Manaus voltaram em agosto de 2024. Foi assim também no ano passado. Semanas depois da chegada na capital amazonense, as fumaças oriundas das queimadas na Amazônia começaram a chegar na região Sudeste. E depois disso, o próprio sudeste começou a queimar: nos últimos dias ocorreram uma série de queimadas no interior de São Paulo. Em muitos dos casos, a situação tem relação direta com o desmatamento provocado intencionalmente pelo agronegócio, pecuária e grilagem.
Neste ano, a Amazônia Legal registra o maior número de focos de fogo em 19 anos e ainda enfrenta a estiagem que castiga mais de mil cidades brasileiras, incluindo cidades do Amazonas. A Floresta Amazônica registrou 63 mil focos de fogo de janeiro até esses últimos dias de agosto. O número é o maior desde 2014 e pode aumentar, já que o mês ainda não terminou. Conforme o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden/MCTI), que também monitora as secas no país, há mais de mil cidades em situação de estiagem, variando de severa a moderada. Entre os municípios da Amazônia, mais de 60% estão sob essa classificação e esse cenário torna o território mais propenso ao fogo e à expansão dos incêndios.
“A Amazônia tem mais de 800 mil quilômetros quadrados de áreas desmatadas, a maioria utilizada para pastagem. Portanto, quem está nessas áreas continua utilizando o fogo para o manejo do pasto, o que aumenta a incidência de queimadas, somando-se às novas invasões. Ou seja, não basta apenas reduzir o desmatamento, é necessário monitorar o que acontece com as áreas já destruídas”, disse em entrevista ao G1, o pesquisador do Inpe, Luiz Aragão.
O Greenpeace ressalta que os incêndios na Amazônia não são naturais. “As florestas tropicais intactas normalmente não queimam, pois são muito úmidas. As queimadas na Amazônia são quase sempre causadas pelo ser humano, por atos como o garimpo ilegal, nas diferentes etapas do desmatamento, seja para limpar a terra da vegetação depois que grandes árvores foram derrubadas ou para enfraquecer a floresta”, afirma a entidade.
Nota divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) aponta que o fogo na Amazônia se concentra principalmente no sul do Amazonas e próximo à Rodovia Transamazônica (BR-230). No total, 22 municípios do Estado entraram em emergência devidos às queimadas. Segundo o Inpe, Lábrea e Apuí são os com mais focos de queimadas de todo o país.
Imagens obtidas pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos mostram a concentração do monóxido de carbono sobre uma faixa que se estende da região Norte até Sul e Sudeste, passando sobre Peru, Bolívia e Paraguai. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) fez um alerta sobre os cuidados necessários para a saúde nesses casos.
A situação é tão grave que o Brasil registrou recorde de focos de incêndio. Os estados com mais casos são Mato Grosso, Pará, Amazonas, Mato Grosso do Sul e Tocantins, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Houve um aumento de 75% nos focos de queimadas entre 1º de janeiro e 25 de agosto em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo o Inpe. Apenas nas últimas 48 horas, foram 4.500 focos de incêndio.
A Polícia Federal (PF) abriu inquéritos para apurar especificamente se os incêndios em São Paulo são criminosos, mas nada foi dito sobre investigar a situação na Amazônia. A ministra do MMA, Marina Silva, afirmou que os focos simultâneos em São Paulo, Pantanal e Amazônia lembram o “Dia do Fogo”, ocorrido em 2019 no Pará. O caso em questão foi a ação criminosa e coordenada de incêndios provocadas por um grupo de fazendeiros.
Somente na terça-feira (27), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, determinou que o governo federal mobilize em 15 dias o maior contingente possível da PF, Polícia Rodoviária Federal, Forças Armadas e Força Nacional para combater os incêndios na Amazônia e no Pantanal. O ministro tomou a decisão com base em processos que discutem a proteção desses biomas. Em março, o STF julgou três ações que discutem a necessidade da União proteger as regiões e determinou que fosse elaborado em 90 dias um plano de combate a incêndios.
No dia 27, Manaus registrou um dos piores dias da qualidade do ar
Devido às condições climáticas no Estado que alteraram a qualidade do ar, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) autorizou na quarta-feira (28), em caráter excepional, que as atividades acadêmicas e administrativas fossem realizadas remotamente até o dia 31 de agosto (sábado). Acesse a Portaria aqui.
Fonte: com informações do ANDES-SN, Inpe, Agência Brasil, G1, Greenpeace, UOL e Ufam
Fotos: Alberto César Araújo/Amazônia Real e Raphael Alves
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