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  23/07/2024


Entrevista: “O inimigo da Palestina é o mesmo da América Latina”, diz Altman



 

 

Texto e Fotos: Daisy Melo

 

Até 23 de julho pouco mais de 39 mil palestinos foram mortos desde o início do conflito entre Israel e o Hamas em 07 de outubro de 2023. Além do genocídio do povo palestino, há denúncias de uma série de violações de direitos humanos como tortura, estupro, prisões arbitrárias e outros tipos de violência. Mas esse cenário não começou a ser desenhado agora, mas a partir de uma disputa por território. 

 

É o que tem denunciado o entrevistado da ADUA, o jornalista especializado em política internacional, Breno Altman. Em seu livro “Contra o Sionismo: Retrato de uma doutrina colonial e racista” (2024), lançado no dia 24 de junho em Manaus, ele explica a origem do conflito e esclarece as principais dúvidas que rondam o tema.

 

No livro, Altman explica que a raiz da questão é o sionismo: uma corrente política do judaísmo que defende a criação de um estado para o povo judeu que vivia na diáspora desde os anos 70 depois de Cristo (d.C.), quando o Império Romano destruiu Jerusalém. Essa ideologia foi apresentada, no final do século XIX, pelo jornalista judeu Theodor Herzl. Mas, o lema original do sionismo “uma terra sem povos para um povo sem terras” acabou sepultado quando a Palestina foi escolhida no I Congresso Sionista, em 1897, como o local para criação desse estado. Os sionistas reivindicariam o território habitado em sua grande maioria pelo povo árabe como uma “terra prometida”.

 

Depois da II Guerra Mundial (1939-1945) a causa sionista ganhou certa legitimação com o Holocausto. A partilha da Palestina foi então aprovada em 1947 pela Organização das Nações Unidas (ONU), ficando 53% para o estado judaico e 47% palestino. Os árabes não aceitaram e, em 1948, com a fundação de Israel, é iniciada a I Guerra Árabe-Israelense. O estado sionista ampliou seu domínio de 53% para 79%, provocando o nakba (tragédia em árabe): a fuga de mais de 700 mil palestinos dos seus territórios.

 

Em 1964 surge, sob o comando de Yasser Arafat, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), frente política que luta contra o domínio colonial de Israel e tem como principal partido o Fatah. Em 1987, por sua estratégia política de conciliação, a OLP cai em desprestígio e ocorre um levante palestino contra Israel, a Primeira Intifada. No ano seguinte é fundado o Hamas, corrente que, segundo Altman, se dispõe a ser ao mesmo tempo partido político, organização militar e entidade beneficente.

 

Com a assinatura dos Acordos de Oslo em 1993, outra decisão desfavorável à Palestina, é desencadeada nos anos 2000, com a resistência armada do Hamas, a Segunda Intifada. O cessar-fogo só viria a ocorrer cinco anos depois, quando foram contabilizadas as mortes de 5 mil palestinas(os).  Com a retirada das tropas de ocupação e dos assentamentos judeus em Gaza, a popularidade do Hamas é ampliada.

 

Isso define a vitória do Hamas em 2006 nas eleições do Conselho Legislativo da Palestina, conquistando 76 das 132 cadeiras, contra 43 do Fatah. Como resposta ao resultado, Israel, apoiado pelo Estados Unidos e pela União Europeia, determina o bloqueio de recursos financeiros. O Hamas expulsa o Fatah da região e assume o governo, desvinculando-se da Autoridade Palestina. Do outro lado, Israel impõe o bloqueio total à Faixa de Gaza: controlando energia elétrica, água e entrada/saída de pessoas e bens. Começa um bloqueio que fez da região, nas palavras de Breno, o maior campo de prisioneiras(os) a céu aberto do mundo.

 

Considerando esse contexto histórico, o ataque do Hamas no dia 07 de outubro foi, defende o jornalista, uma resposta a décadas de humilhações e massacres. “Os palestinos resistem com os métodos e as armas ao seu alcance como está previsto no Direito Internacional (...) A reação de Israel é uma luta contra os palestinos travestida de resposta às ações do Hamas”. Portanto, ser antissionista não significa ser antissemita, mas posicionar-se contra um regime opressor, racista e colonial. Leia a entrevista a seguir.

 

Para algumas pessoas, o conflito entre Israel e Palestina é algo “distante” e que “nada tem a ver com a gente”. Mas, em seu livro, você afirma que essa situação é uma das mais relevantes da nossa época e cujas repercussões afetam a todos do planeta. De que maneira isso opera?

 

É uma região vital do planeta do ponto de vista econômico, político, cultural e religioso. O Oriente Médio concentra 60% da produção do petróleo do mundo e, do ponto de vista geográfico, é um território vital nas grandes disputas geopolíticas do mundo. A transição do Ocidente para o Oriente no Hemisfério Norte é fundamentalmente através do Oriente Médio. Não é a única, mas é uma transição fundamental para o acesso à Asia e à África. A Palestina é o centro das três grandes religiões monoteístas do mundo: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. E, portanto, por essas e outras razões, qualquer conflito na Palestina tem uma grande repercussão mundial, como está tendo depois do 07 de outubro. Também por razões históricas o conflito da Palestina é uma espécie de síntese dos processos mundiais. O Estado de Israel é o último regime colonial do mundo, quando o colonialismo está proibido pela Carta das Nações Unidas desde 1945, há 79 anos. Um regime colonial que se consolidou plenamente sobre toda a Palestina desde junho de 1967, há 57 anos. É uma síntese porque ali assistimos o que é a atual Ordem Mundial, criada em 1991 com o fim da Guerra Fria. O que aconteceu depois de 1991? Os Estados Unidos passaram a ter hegemonia econômica, política, diplomática, cultural e militar sobre o planeta. E para exercer essa hegemonia completa operam diretamente ou através de aliados por meio de estratégias de extrema agressividade e crueldade. Isso ocorre com vários povos do mundo. E o que está acontecendo com o povo palestino é um exemplo de como funciona esse sistema, nos mostra porque devemos lutar com todas as forças para nos libertarmos desse sistema. Porque esse mesmo sistema imperialista que protege Israel no genocídio contra o povo palestino, é o que levou a América Latina se desindustrializar, a voltar a ser exportadora de produtos agrícolas e matérias-primas, a deixar de seguir a rota do desenvolvimento e a passar a ser cada vez mais dependente dos Estados Unidos, da União Europeia e de outros centros de poder. É aquela história: o inimigo é o mesmo. Esse sistema imperialista que é enfrentado pelo povo palestino quando luta contra o regime colonial de Israel é o responsável pelas grandes agruras do povo brasileiro, do povo amazonense, de todos os povos do nosso país.

 

 

Essa visão sobre Israel ser colonialista é um consenso. É uma visão de todo o mundo?

 

Não. O regime sionista usa um subterfúgio, diz que há uma “ocupação militar provisória dos territórios”. É uma ocupação militar provisória que dura 57 anos, se nós contarmos toda a Palestina. A ocupação vem desde 1948, mas Israel reconhece como uma “ocupação militar provisória” desde 1967. Esse também é o termo empregado pelos Estados Unidos. Cinquenta e sete anos já não é provisória. Não são 57 dias, 57 semanas. Cinquenta e sete anos já é definitivamente uma ocupação colonial. Até porque Israel dita todas as normas de vida dos territórios ocupados, mesmo depois dos Acordos de Oslo, com a criação da Autoridade Palestina. A moeda de territórios ocupados é o shekel, a moeda israelense. São controlados por Israel o fornecimento de água e eletricidade, o comércio exterior, a coleta de impostos, a entrada e a saída de recursos financeiros; a entrada e saída da Palestina. Se pode dar o nome que quiser, mas isso tudo é colonialismo.

 

O que representa politicamente para o Brasil se posicionar claramente sobre o que vem ocorrendo na Faixa de Gaza?

 

O Brasil é um país de importância mundial. O Brasil tem, como dizia Nelson Rodrigues, certa síndrome de vira-lata, acha que é pior que os outros países. Mas o Brasil tem peso no mundo, especialmente no chamado sul global. O Brasil é hoje a oitava economia do mundo e pode chegar nos próximos dois anos até a sexta. É um dos países mais populosos. É um líder natural de uma região importante como América Latina, com seus 500 milhões de habitantes. É uma região que controla matérias-primas fundamentais para o desenvolvimento da economia planetária. E o presidente Lula é uma liderança mundial. É uma história completamente única. O presidente está no seu terceiro mandato presidencial. É a principal figura pública do Brasil há mais de 40 anos. Veio da classe trabalhadora. Foi eleito presidente, perseguido, foi parar na prisão, saiu da prisão e voltou para a presidência. Ninguém tem essa história. Isso faz com que o Lula tenha muito peso no mundo. Então, quando ele dá declarações como as que ele deu, isso tem muita repercussão. Não só no caso da Palestina. Veja o peso que tiveram as declarações do presidente Lula para criar uma opinião pública favorável à libertação do Julian Assange que foi libertado ontem [a entrevista foi concedida em 25 de junho]. Quem foi o primeiro chefe de estado a defender publicamente Julian Assange? O presidente Lula. E na questão da Palestina ele colocou o “dedo na ferida”, denunciando reiteradamente o genocídio, comparando o governo Netanyahu ao regime nazista. O Brasil tem um peso extraordinário. Não é um peso para resolver o problema. O Brasil não tem Forças Armadas para resolver o problema. Não tem presença no Oriente Médio. Não é um integrante permanente do Conselho de Segurança da ONU. Mas o Brasil tem muito peso na opinião pública mundial. Quando o presidente brasileiro fala, a opinião pública mundial escuta, como a gente tem visto nos casos palestino e Assange.

 

 

 

Esse conflito expõe também o grave problema da produção e disseminação de falsas informações, a disputa de narrativa, a cobertura enviesada da mídia hegemônica. Como você analisa essa questão?

 

Decisiva, porque o terreno comunicacional é o que conquista corações e mentes. Com o surgimento das novas tecnologias, da internet, das redes sociais, o alcance da comunicação passou a ser muito mais amplo e mudou a relação comunicacional do mundo. Antes os transmissores da mensagem eram apenas um punhado de monopólios, grupos econômicos capazes de ter jornal, rádio e televisão. A transmissão da mensagem era monopolizada e tinha vários problemas, porque apenas grupos de maior riqueza definiam o que ia ser publicado. Mas, por outro lado, esses meios de comunicação tradicionais estavam sobre a vigilância das forças políticas e sociais. A própria sobrevivência desses meios de comunicação, embora eles fossem monopolistas, estava condicionada a uma relação relativamente saudável com a sociedade. Ou seja, eles podiam até contar alguma grande mentira, mas a reação social podia obrigá-los a abrir espaço para o contraditório. Com a mudança tecnológica se tem uma multiplicidade de emissores de mensagem. Os grandes meios monopolistas continuam, mas se passou a ter muitos outros produtores e disseminadores de mensagem. A vantagem é que isso permitiu uma certa democratização, muitos meios de comunicação novos e contra hegemônicos puderam surgir porque a revolução tecnológica barateou muito a comunicação. Por outro lado, essa miríade de agentes comunicacionais novos opera fora do radar. Ou seja, não está submetida ao mesmo tipo de controle público de antes e isso facilita muito a comunicação falseada, as fake news, a disseminação de mentiras. E a estratégia fundamental da extrema direita, que emergiu nos últimos 10 anos com maior vigor, foi desatar uma guerra cultural padrão Velho Testamento contra tudo que cheira à esquerda, a controle social ou projeto coletivo, porque essa extrema direita é a expressão política do hipercapitalismo e do hiperindividualismo. A extrema direita é o encontro final entre capitalismo e ética protestante. O que importa é o indivíduo. E essa extrema direita desatou uma guerra cultural contra todas as ideias que se contrapunham a isso, e encontrou no ambiente das redes sociais o caminho para uma disseminação acelerada desses valores e ideias muitas vezes através de notícias falsas. E isso tem se mostrado um caminho bem-sucedido para a extrema direita. A esquerda foi pega de “calças curtas” por dois motivos: um político ideológico e outro comunicacional. O motivo político-ideológico é que a esquerda, desde a crise e o colapso da União Soviética, não tem projeto civilizatório ou tem medo de defendê-lo. A esquerda antigamente tinha um projeto civilizatório que era: “o capitalismo não presta, nós queremos o socialismo”. Isso era ser de esquerda. Ser de esquerda não era só querer o bem de todos e que a classe trabalhadora tivesse justiça. Isso são valores morais de esquerda. Com o colapso da União Soviética, isso desapareceu ou pelo menos deixou de ter a relevância que tinha. A extrema direita tem um projeto que é o hiperindividualismo. Um projeto brutal, darwinista: só os mais fortes têm o direito de sobreviver. E a extrema direita consegue convencer indivíduos de que eles serão os fortes que sobreviverão e que as regras que impedem os fortes de serem vitoriosos sobre os fracos têm que deixar de existir. O projeto da extrema direita é um projeto alucinado, se nós olharmos a partir dos nossos valores de esquerda, mas é um projeto forte. E isso tem conexão tanto com a Teologia da Prosperidade quanto com a Teologia do Domínio.

 

Lendo o seu livro é impossível não fazer uma associação entre o sionismo e o fundamentalismo neopentecostal. Como você enxerga o avanço dessa doutrina no Brasil, traçando um paralelo com o sionismo.

 

O sionismo e o fundamentalismo neopentecostal confluem no ambiente da extrema direita com o Estado de Israel funcionando como um símbolo. Essa é a ponte de identidade. Por que o Estado de Israel é um símbolo da extrema direita? Em primeiro lugar, porque o Estado de Israel se localiza na fronteira da contradição entre Ocidente e Oriente. A leitura que a direita faz do mundo é que depois do fim da Guerra Fria, do fim da União Soviética, a principal contradição do mundo deixou de ser o conflito entre os campos capitalista e socialista e passou a ser entre Ocidente e Oriente. No Ocidente está a democracia liberal, a economia de mercado, as religiões cristãs e judaicas, embora o Judaísmo não seja ocidental, enfim... a argamassa econômica, social e cultural do que são as sociedades capitalistas modernas. E que esse Ocidente estaria em luta contra um Oriente na qual se junta o Islamismo, o socialismo, a China, a Rússia. E o Estado de Israel geograficamente se encontra na fronteira entre Ocidente e Oriente, e em luta contra um dos pilares do Oriente que é o Islamismo, que são os palestinos. Segundo: o Estado de Israel é o sonho de construção política dessa extrema direita cristã. Um Estado militarizado, uma sociedade militarizada, um Estado teocrático, onde a religião tem papel de mando, um Estado extremamente agressivo. Terceiro: o Estado de Israel, à luz dos pentecostais, é o herdeiro da Israel bíblica, Israel do rei Davi. O rei Davi como expressão máxima da religião enquanto instrumento de luta contra os infiéis, a ideia da religião como a condutora de um bloco de forças disposto a enfrentar e a derrotar os infiéis. São elementos geopolíticos e religiosos que levam essa confluência entre o sionismo, a sua encarnação estatal Israel, e os grupos neopentecostais. Há também aproximações religiosas do evangelismo em relação ao sionismo religioso. Há mudanças no evangelismo desde os anos 1940 e 1950 e aceleradamente depois dos anos 1960. O evangelismo, na sua origem, é muito vinculado ao que se convencionou chamar de Teologia da Prosperidade, a ideia de que o sucesso individual é uma comprovação da boa relação com Deus e de que lutar pelo sucesso individual é o objetivo fundamental, se quiser ter uma boa relação com Deus. Esse é o elemento essencial, é uma herança da Reforma Protestante. O espírito do capitalismo seria o protestantismo. O catolicismo promete o paraíso depois da morte. O protestantismo promete em vida. Precisar morrer para encontrar o paraíso não é uma boa perspectiva. Esse era o aspecto dominante das igrejas evangélicas, mas nos últimos 50, 60 anos começou a ser elaborada uma outra teoria que não elimina a Teologia da Prosperidade, mas coloca um ingrediente novo importante que é a Teologia do Domínio, a ideia de que a religião não é apenas a forma pela qual se encontra com Deus; a religião é o instrumento pelo qual se organiza para lutar como um guerreiro contra os inimigos de Cristo. Isso provocou no âmbito neopentecostal uma mutação dos valores do Novo Testamento: compaixão, misericórdia, solidariedade. Uma transição desses valores para os mais brutais do Velho Testamento, do Deus punitivo, do Deus guerreiro, da guerra contra os infiéis, da guerra contra o anticristo. Essa Teologia do Domínio provoca uma mudança profunda na abordagem religiosa. A pessoa passa a ter uma religião que é uma argamassa ideológica para guerra. E nesse contexto da Teologia do Domínio o personagem que emerge com força é o rei Davi. Não é Cristo. É um personagem do Velho Testamento que mais se meteu em combates, na defesa da terra prometida, do povo eleito. O rei Davi é um personagem central do Judaísmo. Durante o reinado de Davi e de Salomão é que teria existido o reino unificado de Israel e Judá, que é a pia batismal do judaísmo político e, em certa medida, a referência religiosa básica do sionismo. Isso também aproxima evangélicos e sionismo neste campo de extrema direita.

 

 

Esse comportamento constantemente conciliatório do governo Lula, com receio de falar algo e, por exemplo, se indispor com os evangélicos, vai enfraquecendo a esquerda?

 

Não tenho dúvidas. Às vezes pode ser útil a curto prazo, porque ganha eleições, mas em médio e longo prazos é um grande problema, porque uma força política só consegue ser transformadora se tem um projeto civilizatório novo. Uma força que quer apenas a conservação da ordem não precisa de um projeto civilizatório novo, porque ela defende o que aí está. Você vai navegando nas águas dessa ordem. Então essa é a situação.

 

Em sua opinião, há alguma perspectiva dos ataques à Faixa de Gaza serem encerrados e o que é necessário para que isso ocorra? Para você, o que foi feito até agora foi pouco? Como você enxerga o futuro para essa região? 

 

Tem um grande papel nesse processo a solidariedade internacional, seja a pressão popular nos países, especialmente nos países ocidentais, particularmente nos Estados Unidos e na Europa, para que os governos adotem medidas sobre Israel. Vejo nisso um papel vital e que tem de alguma maneira funcionado, ainda que timidamente. Isso precisa ser ampliado. Há outros fatores. A ampliação da resistência Palestina no campo de batalha também é importante. Se Israel tiver dificuldades militares crescentes ao norte, no seu combate contra o Hezbollah, isto também ajuda. A solidariedade mais a resistência podem levar a uma mudança da situação. Israel já está hoje muito isolado. Enquanto a Causa Palestina recebe muita solidariedade. É um ambiente novo, diferente e que, embora seja de extrema dificuldade, é um ambiente no qual Israel possa ser obrigado a concessões, e imediatamente ao cessar fogo e ao abandono da Faixa de Gaza. E a médio e longo prazos, sentar na mesa para reconhecer a autodeterminação do povo palestino. Isso é possível? Sim. Isso é fácil? Não. É muito duro. Porque o regime sionista possui neste e em outros casos a mesma lógica do nazismo. Eles sabem o que fizeram no verão passado. Portanto, eles lutam com muita agressividade porque sabem que está em jogo sua sobrevivência. Eles já estão enfraquecidos. Há um problema concreto sobre como podem sair dessa situação. Alguns acham que é dobrando a aposta e ampliando a guerra. Outros acham que é chegando a algum tipo de acordo antes que seja tarde demais. Israel já vive uma crise semelhante àquela que acometeu a África do Sul na época do regime do Apartheid. Já vive uma crise interna duríssima entre os que querem radicalizar ainda mais e os que querem chegar a algum acordo. E esta crise do regime sionista é outro fator positivo para a Causa Palestina. O regime sionista tende a uma violência e uma lógica expansionista crescentes, mas está vivendo uma crise interna e um isolamento internacional que são fatores de debilitamento e isso significa dizer que o regime sionista será derrotado a curto prazo? Não. É uma longa luta. O regime sionista tem muitos aliados entre os países imperialistas, tem muitas reservas materiais e militares e luta no campo de batalha contra forças militares bastante inferiores, ainda que essas forças estejam surpreendendo o Estado de Israel não só no 07 de outubro, mas também na duração da resistência palestina aos ataques militares em Gaza. O cenário não é bom para o Estado de Israel, portanto é bom para a humanidade, não só para a Causa Palestina. Mas isso não quer dizer que teremos um desfecho imediato, é um processo longo. Mas é claro que fatos novos podem acelerar o processo. Não vejo um desfecho de curto prazo, mas há uma mudança de cenário que é de enfraquecimento do regime sionista.

 



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