Data: 11/04/2016
O uso de ferramentas de tecnologias de informação e comunicação (TICs) ainda é incipiente nas escolas públicas brasileiras, onde o foco de programas, sejam eles federais ou estaduais, é na distribuição de computadores ou tablets. Na linha quantitativa, o avanço é considerável. Mas com internet ruim e falta de habilidade dos professores, o efeito prático é mais de informatização administrativa do que educacional.
É o que se depreende do estudo Educação e Tecnologias no Brasil, divulgado nesta segunda-feira (11), pelo Comitê Gestor da Internet. Ao longo dos quatro anos entre 2010 e 2013, o CGI.br (via Cetic) observou de perto 12 escolas do país para tentar avaliar como elas se apropriaram das ferramentas tecnológicas. Embora se trate de um processo que mal começou, a conclusão do estudo é que “as TIC não estavam transformando efetivamente o processo de ensino e aprendizagem”.
Há uma porção de motivos para isso, a começar pelas diferenças regionais verificadas no acompanhamento de quatro escolas de São Paulo, quatro do Paraná e outras quatro de Pernambuco. Mas da leitura do trabalho evidenciam-se especialmente a internet ruim, as restrições de acesso aos equipamentos e o fato de a maioria dos educadores (ao menos no universo analisado) ter pouca familiaridade com as TICs.
Como regra geral, o acesso à internet nas escolas é sofrível, quando não inexistente na prática. Mesmo nas melhores, com 8 Mbps, a conectividade não dá conta de centenas (que dirá nas com milhares) de alunos. E nem se trata exclusivamente da velocidade. A constatação em quatro anos de estudo é que a estabilidade é baixa, com diferentes relatos de queda constante de sinal, que chega a ficar semanas (ou meses) indisponível.
Esse ponto está diretamente relacionado à opção de várias escolas em concentrar o uso das ferramentas digitais na área burocrática. Ou como diz o estudo, “em uma parcela significativa das escolas, as TIC ainda são mais percebidas como auxiliares nos processos administrativos do que como parte dos projetos pedagógicos”.
Para isso, porém se deve muito a falta de familiaridade dos docentes com computadores e tablets, ou mesmo com o uso da internet. “Tais recursos ainda exigem muito de professores pouco familiarizados com a tecnologia”, diz o trabalho. Não surpreende assim que as iniciativas bem sucedidas, que são poucas mas existem, estejam relacionadas a educadores mais jovens e que fazem eles mesmos uso corriqueiro das TICs.
Por aí se chega a outras conclusões importantes. Para começar, o acesso às tecnologias não garante o aproveitamento dessas ferramentas para o uso pedagógico. “Ainda que a maior parte das escolas públicas brasileiras possuam computadores, internet e outros dispositivos, não há, necessariamente, uma apropriação desses meios tecnológicos para fins de aprendizagem”.
Segundo o estudo, isso se relaciona ao fato de que os programas governamentais são quase essencialmente de distribuição de equipamentos. Mais do que o peso menor da pedagogia em si, foi verificado até um certo ressentimento de escolas que precisam se adequar às regras de programas federais ou estaduais sem espaço para as realidades específicas das instituições de ensino. O que o estudo trata como “a dissociação entre os programas de informatização e a lógica de funcionamento das escolas”.
Finalmente, nas 107 páginas de Educação e Tecnologias no Brasil, são várias as passagens que situam o uso das tecnologias nas escolas em um terreno mais complexo, em que o próprio modelo educacional, ainda centrado no professor, mereceria ser revisto. “Tais recursos ainda exigem muito de professores pouco familiarizados com a tecnologia, o que remete à necessidade de apoio formal e informal para o desenvolvimento profissional dos educadores. Muitos deles falham em compreender que aprender e ensinar com tecnologia requer a renovação das abordagens pedagógicas, planejamento, preparação e compreensão do currículo”.
Fonte: Convergência Digital |