Data: 23/03/2016
Universitárias que necessitam conciliar a rotina entre o estudo e a amamentação não hesitam em levar seus bebês para a sala de aula. Elas fazem parte de um grupo pequeno, mas que começa a se organizar na Ufam na busca por soluções para a permanência na instituição. Juntas com outros estudantes que têm filhos, elas lutam para garantir um direito fundamental dos pequenos, assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e dos jovens, desejosos de concluir o ensino superior com qualidade.
No início deste ano, as estudantes lançaram um questionário em uma plataforma gratuita na internet no intuito de “coletar dados sobre a demanda para criação de um fraldário” na Ufam. “É sabido que várias mães levam suas crianças para aula e é triste que ainda não possamos contar com esse espaço que certamente auxilia a nossa permanência na academia”, disse uma das organizadoras da pesquisa, a estudante do curso de Letras Alessandrine Silva, mãe da pequena Alicia e do bebê Antônio Medeiros*.
Alessandrine costuma fazer uma série de postagens sobre o assunto em seu perfil em uma rede social virtual e o debate a respeito do assunto vem ganhando adesão de outros universitários. “Eu trocava [a bebê] no banheiro mesmo. Forrava com papel toalha e depois colocava uma fralda de pano e o trocador dela”, conta a estudante de Ciências Sociais Eleide Mota, também engajada no levantamento de informações.
Eleide destaca que, em virtude das dificuldades enfrentadas até em sala de aula, já pensou em desistir do curso. “Já passei por alguns problemas com professores. Sempre procurava explicar a minha situação e alguns entendiam; outros, não. Sei que outras mães passam por essa situação, por não ter com quem deixar [a criança]”, afirmou, acrescentando que há um ano e meio tem a companhia da filha nas aulas. “Desde que ela tinha um ano”, lembra. As duas graduandas participam do "Roda de Mães Baré", grupo que discute temas ligados à maternidade, com ênfase na promoção do autoconhecimento e na partilha de experiências nas rodas de conversa.
A estudante de Serviço Social Thainá Almeida, 18, aprova a ideia. “Seria ótimo ter espaços como esse [na instituição], pois cada vez mais há mamães na universidade”, disse a graduanda, que está no 8º mês de gestação. Ela pretende ficar em casa no período de licença e espera encontrar melhores condições quando retornar à sala de aula.
Outras estratégias
Mas o fraldário não é a única demanda desse público. Integrantes do Movimento “Rebele-se” lançaram um abaixo-assinado em outubro de 2015 em defesa da criação de uma creche na instituição e estão intensificando a coleta de assinaturas desde o dia 11 de janeiro, com a visita às salas de aula no setor Norte do Campus, para incentivar professores e estudantes a aderir à causa. A lista já conta com mais de 400 assinaturas.
“O movimento surge em 2005 com algumas bandeiras de luta, entre elas a creche universitária, pois a gente começou a perceber que a quantidade de pais e mães na universidade não era de fato pequena”, disse a graduanda de Administração e integrante do “Rebele-se”, Lorrine Almeida. Para ela, a questão é a instituição “querer dar conta dessa realidade”. “Em algumas conversas de integrantes do movimento com a Reitoria, ficou claro que a posição [institucional] é de que não existe demanda”, criticou.
Assim como Lorrine, a estudante Anna Morte, de Artes Visuais, também não tem filhos, mas está engajada na causa por entender que todos ganham com a criação de uma creche universitária. “A creche pode ajudar no desenvolvimento e na educação dessas crianças e ainda servir como complemento na formação de estudantes que necessitam fazer estágio”, afirmou
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Levantamento feito pelo movimento “Rebele-se” em âmbito nacional dá conta de que há creches (também chamadas de unidades educacionais ou núcleo de desenvolvimento da criança, em algumas instituições) em 19 universidades federais. Em alguns casos, quando não há vagas disponíveis ou mesmo quando não há propriamente esse espaço, a instituição oferece o auxílio-creche, como ocorre nas Universidades Federais do Ceará (UFC) e do Pará (UFPA).
De acordo com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Ensino Superior (Andifes), a creche integra uma das ações temáticas da assistência estudantil com foco na permanência e se configura como uma das soluções para o problema de evasão e retenção nos cursos de graduação. A entidade realiza, a cada quatro anos, pesquisa para atualização do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das IFES. Na mais atual, de 2011 – a de 2015 ainda está em fase de conclusão – o percentual de estudantes com filhos é de 9,21%. Na região Norte esse índice chega a 16,80%. Nesse grupo, 43,4% deles utilizam os serviços de creche oferecidos pelas Universidades Federais. Na região Norte, esse índice chega a 46,68%. O dado, para a Andifes, demonstra a importância da universalização deste serviço.
A reportagem da ADUA procurou a Reitoria da Ufam, por meio da Assessoria de Comunicação, para obter informações oficiais sobre estudantes com filhos, demandas desse público e ainda estratégias gerais para a permanência estudantil que a instituição dispõe. Mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.
À época das últimas eleições para a Reitoria, em 2013, enquanto candidata à reeleição pela chama “Ufam Sempre Melhor” para o quadriênio 2013/2017, a professora Dra. Márcia Perales, atual gestora da universidade, apresentou um plano de trabalho que propunha a implantação do “auxílio-creche destinado a estudantes de graduação e pós-graduação, na forma da legislação vigente”, como parte do item “Política de Assistência Estudantil”.
* Nomes fictícios, em atenção ao ECA.
Fonte: ADUA |